Você já sentiu que não se encaixa no mundo?

Tempo de leitura: 6 minutos

Constantemente você pensa que:

  • “Parece que eu não pertenço a este lugar.” 
  • “Não encontro meu lugar no mundo.”
  • “Estou com amigos mas tudo que sinto é solidão.”

Saiba que você não está realmente sozinha(o) nessa situação e que a questão do pertencimento é bastante comum. Pertencer é definido como se sentir parte de algo, de um grupo, seja uma família, um conjunto de amigos ou um local de trabalho .

O psicólogo Abraham Maslow, em seu famoso modelo de motivação humana chamado Hierarquia das Necessidades, viu ‘amor e pertencimento’ tão importantes que os colocou em terceiro lugar na sua pirâmide, menos necessários apenas que nossas ‘necessidades fisiológicas’ básicas, como respirar, comer e dormir; e ‘necessidades de segurança’, como emprego e boa saúde .

Mas em nosso pós digital, disruptivo e volátil, pertencer a qualquer tipo de organização social pode parecer muito difícil, e talvez tenha assumido um novo significado. Quando falamos sobre nosso desejo de pertencer, não é o tipo de coisa que ingressar em um grupo qualquer pode consertar, e certamente não estou falando de entrar em mais um grupo do Facebook, por exemplo. 

Muitos de nós não sabemos ao certo o que significa ‘sentir-se parte de algo’. Em um mundo onde podemos nos conectar com qualquer pessoa, a qualquer momento, temos um sentimento inquieto e vazio que queremos que seja respondido. E para alguns de nós, o que realmente estamos dizendo é: “ Sinto-me sozinho(a) o tempo todo e não sei o porquê”.

O que é pertencimento para você?

A necessidade humana de pertencimento e amor representa a necessidade de relações significativas em nossa vida.. Relações que nos ajudam a crescer e se desenvolver como pessoas, que aceitam nosso jeito de ser e que sentimos que seguem ao nosso lado nos apoiando e nos valorizando.

Quando alguém diz que não pertence a nenhum lugar no mundo, ou que não consegue se encaixar, é preciso entender o que realmente está se passando com ela:

  • Qual é o sentido e significado de pertencer para essa pessoa?
  • Como ela tem se permitido sentir seus sentimentos?
  • Como ela  tem “ouvido” a sua solidão?
  • A ideia de pertencimento (ou falta dele) é algo possível de ser superado? Quais foram os verdadeiros vínculos que se romperam?

Às vezes o sentimento de não pertencer surge quando somos mal interpretados ou quando sentimos que nossas opiniões e habilidades são desvalorizadas por pessoas que consideramos próximas. A necessidade de amor, aceitação e valoração da pessoa que somos é básica e por isso quando sentimos que não estamos sendo vistos ou reconhecidas temos a sensação de não pertencer e, às vezes, a partir da avaliação do outro, passamos a desconfiar de nós mesmos. 

Outras pessoas podem chegar a conclusão que seus sentimentos de pertencimento se resolveriam se tivessem muito sucesso na carreira, mais dinheiro, muitos amigos ou até mesmo mais seguidores no Instagram. 

Nesse momento, podemos começar a perceber que essas substituições que realizamos podem não ser a forma mais saudável e significativa de pertencer. O reconhecimento do seu chefe ou da sua família e amigos pela pessoa que você é e pelas suas habilidades é importante, mas talvez não seja o suficiente. O que estas situações têm em comum? Talvez esteja buscando sentir,  pertencer ao mundo, de “fora para dentro”, do exterior para o interior. 

Entrar em contato com o que há de mais profundo em nós e compreender quais foram os verdadeiros vínculos rompidos não é nada fácil!

É quando podemos nos dar conta da solidão. Na caminhada humana, sentir solidão é inevitável. A solidão que vem da condição de sermos seres únicos e singulares. Mas há outro tipo de solidão que se refere à ausência de vínculos, quando não nos sentimos acompanhados, nem por nós mesmos, nem pelo outro. Quando perdemos a principal conexão com o mundo – a conexão com quem somos. 

A sensação de estar desconectado, de não fazer parte, pode ser uma das maiores fontes de sofrimento emocional na atualidade. Existem pessoas que sentem muita dificuldade de se conectar consigo e com o significado da sua existência, assim, o mundo parece não fazer sentido. 

Pertencimento – algo que encontramos, ou algo que criamos?

O autor Rollo May em seu livro – O homem à procura de si mesmo-, descreve “umas das poucas alegrias da vida numa época de ansiedade é o fato de sermos forçados a tomar consciência de nós mesmos”. 

Ir mais fundo, vasculhar de “dentro para fora”, entender o que estamos sentido, ampliar a nossa consciência de nós mesmos pode auxiliar a reconectar e se sentir pertencente. Quando falamos “não me encaixo em nenhum lugar no mundo”, onde fica este lugar? Em que estamos projetando nossos sentimentos?

Nosso desejo por comunidades ou por propósitos em comum é tão poderoso que pode fazer com que a gente aceite se diminuir ou parecer outra pessoa apenas para fazer parte daquele grupo. O falso sentimento de pertencimento é tão prejudicial quanto o não pertencimento. 

Precisamos analisar nossas identidades e valores, e nosso relacionamento conosco mesmo, criando pertencimento interno. A partir daí, podemos encontrar maneiras de conectar nosso eu autêntico com o que está ao nosso redor. Com essa perspectiva, podemos realmente encontrar pertencimento em quase todos os lugares.

Quando você sentir que está na hora de enfrentar os problemas fundamentais que te trazem solidão, desconexão ou falta de pertencimento, procurar a psicoterapia poderá ajudá-lo(a).

Nos sentirmos pertencentes a algo, a pessoas, a lugares é fundamental para a nossa existência como pessoas, e conseguimos através das nossas relações humanas, começando com a relação que temos com nós mesmos e com o que sentimos. Há uma necessidade de pertencer a mim, com a pessoa que sou, restabelecer os vínculos e o amor próprio para também estar vinculada ao outro. 

 O sentimento de pertencimento e amor começa quando conseguimos desenvolver esse sentido de existência em nós mesmos. A experiência de se sentir acompanhado  por si nos dará a chance de nos conectar com pessoas que sentem o mesmo por nós e nós por elas. 

“Na solidão os mundos novos são gerados”

Rubens Alves

Referências:

https://en.wikipedia.org/wiki/Maslow%27s_hierarchy_of_needs

https://www.psychologytoday.com/us/blog/between-cultures/201704/belonging
MAY, Rollo. O homem em busca de si mesmo. 36 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. 
HALL, C. LINDEZEY, G. CAMPBELL, J. Teorias da Personalidade. 4ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

6 Comentários


  1. Depois do falecimento do meu filho parece que não me encaixo em nenhum lugar, família relacionamento amoroso. Parece que estou me punindo por algo, sinto que não sou merecedora quando acontece algo bom. Talvez por ter lutado pela vida do meu filho durante 7 anos com câncer, quando achava que as nossas vidas iria tomar um rumo de normalidade o câncer voltava, a frustrações eram muitas. Só sei que existo e não vivo. Desculpa o desabafo é que não tenho ninguém que possa conversar, compartilhar meus sentimentos.

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    1. Depois que perdi meu pai a 1 ano e 11 meses minha vida mudou. Mudei de casa pra outra cidade deixei minha mãe sozinha , meu pai não queria q eu voltasse com o pai do meu filho pq ele me traiu, engravidou outra. Mas eu voltei fui morar com ele e esses dias sonhei com meu pai triste pedindo pra dá um fim nessa relação. Não sei o q faço da minha vida. Estou na casa da minha mãe, mas é como se aqui não fosse meu lugar, sinto q tenho q voltar pra casa , quando volto pra casa , sinto q lá não é meu lugar, sinto q tenho q voltar, acho q estou com algum problema, sinto não pertenceŕ a lugar nenhum e nem a nada.

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  2. Minha grande questão… eu não sei o que eh tudo isso no mundo, não tenho nemhuma resposta sobre mim.

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  3. Incrível! Me fez bem lê isso, acho que precisava de algo assim para “Me entender” um pouco. 💙

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