Profundidade terapêutica: O que eu sou para além daquilo que já conheço de mim?

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É incrível como somos diversos. Embora sejamos influenciados por valores de uma sociedade, cultura, costumes, crenças e compartilhamos obrigações diárias, papéis sociais e profissionais, fazemos parte de uma sociedade e suas regras, compartilhamos obrigações, maneiras de viver, formas de pensar e sentir, compartilhamos de nossa humanidade. Se pensarmos na formação neurológica, cognitiva ou no funcionamento fisiológico do nosso corpo, por exemplo, sim, somos praticamente iguais e compartilhamos as características que nos tornam humanos. Entretanto, tem algo em nossa formação psicológica que nos torna únicos.

É incrível que, em meio a tudo que possamos tentar corresponder, quando olhamos mais a fundo, cada pessoa é muito única. E não se trata de individualismo ou egocentrismo e sim daquilo que há de mais profundo em nós e que define a nossa pessoalidade. O que será que eu tenho de diferente de você? 

O diferente geralmente assusta não e mesmo? Isso porque tentamos nos parecermos iguais (mais do que isso – aprendemos) e muitas vezes nos esforçamos muito para isso, para nos encaixar naquilo que “devemos” ser, pensar, agir ou sentir. Quando percebemos que somos diferentes, que nosso jeito, nossas características pessoais não são, em quase nada, parecidas com o outro, levamos um susto! Por momentos até pensamos “o que é que tem de errado comigo? ” 

Cada vez que atendo alguém percebo o quanto somos únicos, cada pessoa tem a sua singularidade e pessoalidade que a faz um ser humano incrível com suas vivências, experiências e modos de sentir e viver a vida, um modo exclusivo dela.

É uma diversidade de encontros terapêuticos que potencializam a vida que há em mim e no outro. E quanto mais nos aprofundamos no processo de autoconhecimento vamos descobrindo que não somos definidos por nossas limitações, nossos medos, anseios, sintomas, doenças ou as dificuldades temos. Ter vergonha, por exemplo, não define o tamanho da nossa coragem. Traumas, embora influenciam, não definem a nossa vida e quem somos como pessoas. Uma doença, uma característica que temos não nos define, somos sempre muitas mais do que imaginamos ser.

As vezes nosso jeito pode ser mais emotivo, sensível ou menos; mais racional, objetivo e concreto; mais metódico, distraído ou inseguro; às vezes vamos precisar de rotina e de treino para conseguir desenvolver as habilidades das quais necessitamos, as vezes precisamos entender os fatores inconscientes que nos influenciam, em outros casos ainda, simplesmente é algo do qual não aprendemos e vamos precisar aprender ou a desenvolver em nós como, por exemplo, organização, planejamento, empatia. 

No processo de autoconhecimento não se trata especificamente do que vamos desvendar, mas de acompanhar quem você poderá ser. 

A nossa percepção da realidade, é a realidade?

Muitas vezes é uma questão de percepção. Percebemos as coisas, as pessoas, situações que vivemos de determinadas formas e nem sempre será fácil perceber outros pontos de vista que também estão presentes nelas. Já viram aquela imagem é nove ou seis: 

Se pararmos para pensar a fundo, a maioria do que vivemos e sentimos, também diz respeito a uma questão de percepção não é mesmo!

 Já viram esta imagem? Eu posso ser de alguma forma e me perceber de outra a ponto de acreditar que eu sou aquilo mesmo, tanto em relação a características mais positivas quando consideradas negativas: 

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Podemos olhar para uma situação do passado, por exemplo, e sentirmos toda a dor de termos vivido algo difícil ou até mesmo traumático, ou podemos olhar e perceber o quanto aquela situação nos ajudou a formar quem somos hoje.

Não teríamos a determinação, a autonomia ou ousadia que temos se não tivéssemos passado por tudo que passamos. Claro que isso nem sempre é simples assim, não é fácil fazer essa mudança de percepção e, às vezes, vamos precisar de ajuda profissional para conseguirmos esse olhar para conosco e com as nossas experiências.

Pode fazer parte das nossas características pessoais sermos aventureiros, exploradores, curiosos, caprichosos, despreocupados e por aí vai, mas, por vezes é difícil conseguirmos reconhecer essas características em nós e vamos precisar se aprofundar um pouco mais em nosso processo de autoconhecimento.

Afinal, quem eu sou para além daquilo que eu já conheço de mim?

Pode ser difícil reconhecer nossas características, para além daquilo que eu DEVO ser, além do que os OUTROS esperam de mim, além daquilo que simplesmente AGRADA aos outros, ou para além do que eu estou PERCEBENDO de mim.

Como conhecer um pouco mais sobre você e suas características

Bem, para nos aprofundarmos em nossas características podemos partir do que já sabemos. 

Um reconhecimento importante é perceber quando não estamos sendo nós mesmos. Seja ao conversar com um amigo, colega ou familiar; quando deixamos de falar o que sentimos ou pensamos ou quando alguém nos magoa e não respondemos, não sabemos como expressar a nossa mágoa. 

Sentir quando não está sendo você já pressupõe que tens alguma ideia de quem possa ser na sua essência. Se eu sei quando não sou, já sei que algo eu sou, aqui está a possibilidade de crescimento. De que há em nós uma identidade mais profunda.

Ser quem se é, nem sempre se trata de revelar algo escondido sobre nós, mas sim, daquilo que vamos construindo e aprendendo sobre si nas experiências que vivemos. Nos apresentando do nosso jeito, fazendo escolhas e decidindo. Requer abertura para mudança e isso implica uma responsabilidade grande em relação a minha própria constituição como pessoa, do meu processo de estar aberto a viver experiências que me possibilitam aprender e crescer. 

Afinal, quanto ainda temos para crescer, desenvolver como pessoas que somos? Não temos respostas para esta pergunta, pois as possibilidades são quase que “infinitas”, só não o serão porque somos finitos! Então, até o dia da nossa morte poderemos estar nos transformando e na medida que vamos crescendo vamos conhecendo mais de nós, de nossa pessoalidade e de nossas potencialidades. 

Fico pensando, se nada nos define por completo, muito do que vivemos e das conclusões que tiramos é uma forma de percepção acerca da realidade, então poderei aceitar o fato que existem outras maneiras de perceber a realidade e por isso tenho um universo de possibilidades e de descobertas sobre mim e sobre a vida, se conseguir não me sentir ameaçada com elas. 

Afinal, quem eu sou, que características eu tenho para além das coisas que eu faço, que eu gosto, que eu penso?

É vivendo, estando nas experiências, sentido, se apresentando ao outro e apresentando mais sobre ele a partir de nós que poderemos estar disponíveis a descobrir e a desenvolver mais características de nossa pessoalidade que nos torna únicos no mundo. Ser flexível conosco para encontrar as características mais profundas diz de uma disponibilidade para perceber a partir de outros ângulos, de viver o inesperado, de estar nas experiências e de poder senti-las “fora da caixa”. 

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