Cinco coisas que podemos aprender com o filme Luca da Pixar

Tempo de leitura: 6 minutos

Luca é a nova animação da Disney Pixar que mostra a história de amizade entre Luca e Alberto. A trama é ambientada na Riviera italiana, durante um verão da década de 1950. Os dois são monstros marinhos, que quando saem da água assumem forma de humanos. Juntos, eles conhecem a humana Giulia e se divertem em busca de liberdade, mas suas vidas correm perigo quando pescadores da cidade descobrem suas reais identidades.

Luca é, em sua essência, um filme sobre amizade e sobre conviver com o diferente. Apesar de muito divertido, a animação faz refletir também.

Luca, um pré-adolescente que começa a experienciar a vida de maneiras diferentes, a fazer escolhas e a ver o mundo a partir de sua curiosidade. Enquanto seus pais faziam de tudo para protegê-lo no fundo do mar ele se para além das águas conhecidas com o seu amigo Alberto. 

1 – Autoconhecimento

O primeiro ponto da trama que chama a atenção é que trata de uma aventura de autoconhecimento. Sei que você pode não ter percebido isso, mas o filme apresenta muitos aspectos de um processo de autoconhecimento. Sobretudo porque o autoconhecimento tem a ver com a nossa disponibilidade e abertura para viver o novo, o diferente, o estranho que, mesmo que assustador, decidimos conhecer.

O medo, a insegurança, a incerteza está ali, presente, mas ela não nos paralisa e vamos cada vez mais nos desafiando em terrenos desconhecidos. E na medida em que nos conhecemos vamos nos tornando mais conscientes dos nossos sentimentos e desejos. Luca descobre que gosta de aventuras, chega até a querer uma “vespa” uma motocicleta que é o sonho de Alberto, sem ter um sonho para si ele sonha junto com seu amigo, até o momento que descobre os livros, desde então, não quer uma vespa, quer aprender, ir para a escola, conhecer mais coisas do mundo. Na medida que Luca vai se desafiado e se conhecendo, sua personalidade vai ganhando mais contornos a ponto de se diferenciar do outro. 

2 – Coragem

No momento em que Luca sai do mar e começa a se aventurar com Alberto pelo mundo dos humanos, sente muito medo, um medo paralisante. É quando Alberto ensina como ter “coragem” com a frase que se dizia a si mesmo quando estava com medo: “fica quieto Bruno”. Quantas vezes precisamos silenciar nossos pensamentos mais sabotadores? Aqueles que ficam dizendo: “não faça, não vai dar certo”, “você não consegue, não adianta nem tentar”, “você vai se machucar”, “não tente, vai dar errado mesmo!”. Pois é, eis que Alberto bola um plano bem legal ao dar um nome para o seu o seu medo (Bruno) e a dialogar com ele. Toda vez que paralisa de medo ele fala para si mesmo “fica quieto Bruno” e isso acaba sendo uma estratégia perfeita para Luca ter coragem de se desafiar e viver aventuras. 

3 – O poder genuíno das relações

Não é um filme surpreendente no sentido de tirar o fôlego do espectador, mas a sua trama tem algo a nos ensinar sobre relações humanas. O poder genuíno das relações, ou, quando as amizades, as relações com o outro nos possibilitam crescimento. Essa experiência se apresenta em momentos como: na relação de amizade de Luca com Alberto, na qual este possibilita a Luca conhecer um mundo de possibilidades, a compartilhar um sonho e que, ao final, mesmo chateado por um tempo, ele compreende que os sonhos do amigo mudaram de rota e que está tudo bem em cada um seguir o seu caminho.

Também percebemos isso depois na relação da dupla com Giulia ao formar o “trio dos excluídos” que se unem para vencer o valentão Ercole na corrida de Portorosso. Corrida está que acaba por mudar toda uma cidade, quando a verdadeira identidade de Luca e Alberto são reveladas. Neste ponto, também temos a mudança de Massimo (pai de Giulia), antes caçador dos “monstros marinhos” e que por conhecer os amigos de sua filha aceita-os quando se revelam, desconstruindo a ideia de “monstros”. Conviver com o diferente se torna algo possível quando estamos disponíveis a nos relacionar com o outro e com o seu jeito de ser, sem impor condicionalidades. 

Conviver com as diferenças implica em reconhecer o diferente em nós. No caso de Massimo (pai de Giulia), ele se sente tocado pelo empenho e ajuda dos novos amigos de sua filha, do grupo dos excluídos, para ganhar a corrida que ela tanta sonha. Aos poucos vai se visualizando uma experiência de compaixão. 

4- Aceitação das diferenças

Você sabe conviver com as diferenças?

O quanto de aversão as pessoas podem nutrir pelo diferente, apenas por intolerância? A discriminação geralmente é baseada em um desconhecimento em relação ao que é diferente, mas essas diferenças podem sempre serem superadas.

O filme traz essa lição, mostrando que todos os preconceitos para com o que é diferente podem ser quebrados e a convivência melhorar entre todos. Outra questão levantada é sobre o conceito de diferença. O que consideramos diferente pode ser o padrão em outro ponto de vista.

Além de indicar o filme, convido você também a refletir o quanto você tem sido tolerante com as diferenças. O quanto sabe conviver com o que considera diferente? E será que tudo aquilo que consideramos diferente no outro não é a essência que pode nos aproximar mais ainda?

5- As consequências dos extremos – do abandono à superproteção familiar

Luca vivia na superproteção familiar, o que limitava a sua aprendizagem e desenvolvimento, uma vez que só poderia ficar no lugar conhecido e seguro da casa e do trabalho da família o que alimentava a sua curiosidade, seu medo e insegurança (não foi em vão que passou grande parte do filme dizendo a si mesmo “fica quieto Bruno!).

 Por outro lado, Alberto foi criado pelo pai e abandonado por este, tendo que cuidar de si desde muito jovem. O que o alimentava eram os sonhos, as aventuras, as descobertas, a liberdade de ir e vir, acompanhado da solidão, da fantasia e da busca por amor e afeto. Ambas as experiências nos ensinam. O excesso ou falta de amor e de zelo machucam, deixam marcas, no entanto, o passado não determina o futuro. Podemos criar laços, encontrar pessoas de realidades muito diferentes, mas que podem estar compartilhando das mesmas necessidades afetivas ou complementares: autonomia para ter seus próprios sonhos e escolhas ou um lugar seguro ao qual a presença do outro não será uma falta. 

“Luca” (2021) de Enrico Casarosa – Foto: Pixar/Divulgação

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