Medo do Abandono

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O medo do abandono pode ser caracterizado como uma grande preocupação que podemos desenvolver de que as pessoas próximas nos deixarão.

Você já falou ou pensou em algumas destas frases:

  • Não vou me aproximar o suficiente dessa pessoa, sem apego, sem abandono.
  • E se perceberem que estou falhando?
  • Preciso que gostem de mim o suficiente para me quererem sempre por perto.
  • Estas críticas arrasaram com meu emocional. 
  • Estou chateada(o) comigo mesma(o), deveria ter dado o meu melhor. 
  • Estou me sentindo inadequado, parece que não agrado às pessoas. 
  • Melhor eu terminar antes com essa pessoa, do que ela terminar comigo. 

Qualquer pessoa pode desenvolver um medo de abandono. Pode estar profundamente enraizado em uma experiência traumática que você teve quando criança ou em um relacionamento angustiante na idade adulta.

Quem tem medo do abandono, sente uma dificuldade imensa em manter relacionamentos saudáveis. Esse medo paralisante pode levar ao isolamento a fim de evitar se machucar. A pessoa também pode, inadvertidamente,  sabotar seus relacionamentos.

Tipos de medo do abandono

As pessoas temem o abandono de diversas formas. Há quem tenha medo da distância física, de que a pessoa vá embora e não volte mais. Existem pessoas também que possuem medo de que os outros abandonem as suas necessidades emocionais. Quando você se sente tão bem ou tão seguro ao lado de uma pessoa, que não imagina como é viver sem ela. E isso pode acontecer com parceiros, amigos e parentes, principalmente os pais. 

O medo do abandono emocional pode ser menos óbvio que o abandono físico, mas não é menos traumático. Todos nós temos necessidades emocionais de sermos amados, valorados e aceitos como pessoas que somos. Quando essas necessidades não são atendidas, nos sentimos desvalorizados, não amados e desconectados. É comum pessoas que se sentem muito sozinhas, mesmo quando estão em um relacionamento com alguém que está fisicamente presente. Quem experimentou abandono emocional no passado, especialmente quando criança, pode viver com um medo contínuo  de que isso aconteça novamente.

É absolutamente normal que bebês e crianças pequenas passem por um estágio chamado de ansiedade de separação. Eles podem chorar ou gritar quando os pais (ou seu cuidador principal) tiverem que sair. As crianças nesta fase têm dificuldade em entender quando ou se essa pessoa retornará. Quando eles começam a entender que os entes queridos retornam, eles superam o medo. Para a maioria das crianças, isso acontece no terceiro aniversário.

Um dos pressupostos básicos da Teoria do Apego de Bowlby (1989) é de que as primeiras relações de apego, estabelecidas na infância, afetam o estilo de apego do indivíduo ao longo de sua vida. As experiências iniciais com nossos pais ou cuidadores iniciam o que depois se apresentará nas expectativas sobre si mesmo, dos outros e do mundo em geral, com implicações importantes na personalidade em desenvolvimento. 

Se tudo vai bem nessa relação inicial, há satisfação e um senso de segurança. Se a relação está ameaçada, existe ciúme, ansiedade e raiva. Se ocorre uma ruptura física ou emocional, há dor e depressão. Finalmente, existe uma forte evidência de que a forma segundo a qual o comportamento de apego de uma pessoa se organiza, depende, em alto grau, dos tipos de experiências que teve inicialmente na sua vida (BOWLBY, 1989, p.19). 

Já nos relacionamentos, o medo nos deixa vulnerável. Pessoas criam problemas de confiança e se preocupam excessivamente com o seu relacionamento. Isso pode criar situações de ciúmes e desconfiança. O alerta é que quase sempre, este tipo de ansiedade pode realmente afastar a pessoa amada, reforçando o medo do abandono, um ciclo muito perigoso. 

O medo do abandono não é um distúrbio de saúde mental diagnosticável, mas certamente pode ser identificado e tratado. Além disso, esse sentimento pode fazer parte da personalidade da pessoa ou outro distúrbio que deve ser tratado. 

O primeiro passo para superar seu medo é reconhecer por que você se sente assim. Você pode resolver seus medos sozinho ou com psicoterapia. Mas o medo do abandono também pode fazer parte de um distúrbio de personalidade que precisa de tratamento.

O que pode ajudar é tentar parar o duro autojulgamento. Valorizar todas as suas qualidades e lembrar do que faz você ser uma boa pessoa, um bom amigo, uma boa namorada ou namorado ou um bom filho. Todos nós temos potencial de mudarmos, crescermos e nos desenvolvermos como pessoa.

Conversar abertamente sobre isso também pode ajudar, mas sempre sem gerar expectativas no retorno do seu interlocutor. Ter e manter amizades e construir uma rede de suporte também é importante. Amizades fortes aumentam nossa autoestima e o sentimento de pertencimento. E claro, você pode e deve sempre considerar falar com um psicoterapeuta sobre isso. 

Referência: BOWLBY, John. Uma base segura: aplicações clínicas da teoria do apego. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. 

1 comentário


  1. Vou participar de uma discussão sobre esse tema e seu texto é de grande ajuda.
    Obrigado!

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