Como as emoções afetam nossa saúde?

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Todos os dias, a cada momento, dentro de nós acontece uma conversa que é vital para todo ser humano. Esta conversa interna, silenciosa e muitas vezes interminável se dá entre as nossas emoções e a nossa razão. Trata-se de uma conversa de grande importância porque são os sinais que nossas emoções emitem para o nosso cérebro que determinam que tipos de substâncias químicas serão liberadas em nosso corpo, e que quando em falta ou excesso podem afetar nossa saúde de formas muitas vezes inimagináveis. 

As emoções, os sentimentos, os estados de ânimo e paixões formam a dimensão afetiva do ser humano (ROMERO, 2002). As emoções como raiva, medo, alegria, tristeza, entre outras revelam a forma pela qual somos afetados e atingidos pelas situações da vida. É uma reação diante dos impactos das situações que nos acontecem. As emoções nos guiam para a ação e nos indica a forma pela qual nos posicionamos no mundo.

As emoções geralmente são passageiras, sentimos raiva ou tristeza por um instante ou horas. Já aquelas que ficam por muito tempo presentes em nós podem se tornar sentimentos. Sentimentos como inferioridade, frustração, culpa, solidão, desamparo, ódio, compaixão, admiração, gratidão, entre outros. 

Quando sentimos o que normalmente chamamos de emoções negativas, como por exemplo, raiva, tristeza, medo, o coração envia um sinal ao cérebro que reflete nossos sentimentos através da nossa frequência cardíaca. Tais emoções são irregulares e caóticas, e é exatamente assim que os sinais que eles enviam ao cérebro se parecem.

Imagine o gráfico dos altos e baixos da bolsa de valores em um dia selvagem e volátil. Essa imagem nos dá a ideia do tipo de sinais que criamos em nossos corações em momentos de emoções tão fortes. O corpo humano interpreta esse tipo de sinal como estresse e aciona mecanismos para nos ajudar a responder adequadamente.

O estresse provocado por emoções exageradas aumenta os níveis de cortisol e adrenalina em nossas correntes sanguíneas, hormônios que são frequentemente chamados de hormônios do estresse, que nos preparam para uma reação rápida e poderosa ao que está nos causando estresse. Essa reação inclui redirecionar o suprimento sanguíneo dos órgãos profundos de nosso corpo para os locais onde é mais necessário nestes momentos: os músculos, membros e extremidades que usamos para enfrentar a fonte de nosso estresse ou correr o mais rápido possível e fugir disso – nossa resposta instintiva e ancestral de luta ou fuga.

Reações Rápidas

Para nossos ancestrais distantes, essa resposta os salvaria de um urso raivoso que havia acampado em sua caverna, por exemplo. Quando sentiam que a ameaça havia desaparecido, suas emoções mudavam e os níveis elevados dos hormônios do estresse voltavam aos níveis normais da vida cotidiana. O que quero dizer com isso? Que nossa resposta ao estresse foi projetada para ser temporária e breve. Agora imagine o impacto que essa resposta do corpo pode causar em nossa saúde hoje, já que a cada momento estressante nós não saímos mais correndo por aí, e somos expostos a diversos momentos assim durante um dia. 

A dinâmica entre nossos pensamentos e emoções podem afetar a nossa saúde, e é importante reconhecer e estar ciente do efeito que eles causam – não apenas um ao outro, mas também em nosso corpo, comportamento e relacionamentos.

Ser emocionalmente saudável não significa que você deve ser feliz o tempo todo. Significa simplesmente que você está ciente de suas emoções e sentimentos e pode lidar com eles, sejam de felicidade, bem estar ou não. As pessoas emocionalmente saudáveis ​​ainda sentem estresse, raiva e tristeza. No entanto, eles sabem como gerenciar seus sentimentos. A raiva, por exemplo, é uma emoção importantíssima para nós, sem ela não conseguiríamos tomar decisões, colocar limites, reagir diante do perigo ou nos proteger diante das situações da vida. 

Os sentimentos tornam-se prejudiciais quando são excessivos, irracionais, contínuos, angustiantes ou começam a interferir na sua vida diária.

Emoções e sentimentos se transformam em sintomas quando não expressos, reconhecidos e compreendidos pela pessoa. Os sintomas revelam que algo da dimensão afetiva não vai bem, ocorre uma interdição no seu processo de crescimento, e dificultam a sua vida cotidiana. 

Depressão, pessimismo e apatia afetam nossa saúde de várias maneiras. Tentar suprimir nossas emoções não é bom para nossa saúde mental ou física. É como pressionar o acelerador e os freios ao mesmo tempo, criando uma panela de pressão interna. O estresse emocional das emoções reprimidas tem sido associado a doenças mentais e problemas físicos, como doenças cardíacas, problemas intestinais, dores de cabeça, insônia e distúrbios autoimunes.

Existem muitas maneiras de melhorar e manter uma boa saúde emocional. 

Honestidade com o que sente: Ter autocompaixão e uma perspectiva mais realista de que emoções e sentimentos são inevitáveis ​​e naturais, úteis para a nossa vida. Suas emoções são mensageiros tentando enviar informações. Quanto mais cedo você aceitar isso e ouvir o que elas têm a dizer, melhor será.

Esteja ciente de suas emoções e reações: Observe o que te deixa triste, frustrada(o) ou com raiva e tente abordar e compreender  essas sensações em sua vida.

Expresse seus sentimentos: Informe as pessoas próximas a você quando algo estiver lhe incomodando. Manter sentimentos de tristeza ou raiva por dentro aumenta o estresse.

Pense antes de agir: As emoções podem ser poderosas. Reserve um tempo para pensar e ter calma antes de dizer ou fazer algo de que se arrependa.

Gerenciar o estresse: Tente mudar situações que causam estresse. Aprenda métodos para lidar com o estresse. 

Aumentando sua inteligência emocional

A autoconsciência está positivamente correlacionada com o aumento do bem-estar, relacionamentos mais fortes, maior aceitação dos outros e maior empatia. Pesquisas sugerem que, quando nos vemos claramente, somos mais confiantes e mais criativos. Tomamos melhores decisões, nos comunicamos com mais eficácia e construímos relacionamentos mais saudáveis. 

Um dos maiores obstáculos para a nossa saúde emocional é que aprendemos ao longo da vida a evitar emoções e sentimentos quando são desagradáveis ou dolorosos,  no lugar de aprendermos a expressá-los. 

Inteligência emocional é a capacidade de identificar e gerenciar suas próprias emoções, bem como as emoções dos outros. A autoconsciência é a pedra angular dos 5 principais elementos da inteligência emocional. Os outros 4 são: escuta, aceitação, empatia e ação correta. Essa capacidade de monitorar nossas emoções e pensamentos de momento a momento é essencial para nos entendermos melhor, estarmos em paz com quem somos e gerenciamos proativamente nossos pensamentos, emoções e comportamentos.

Pessoas autoconscientes tendem a agir conscientemente, em vez de reagir passivamente, a ter boa saúde psicológica e uma visão positiva da vida. Elas também têm uma experiência mais profunda na vida e têm maior probabilidade de serem mais compassivos consigo mesmos e com os outros. A autoconsciência é claramente um componente essencial da inteligência emocional.

A autoconsciência nos permite ouvir sem suposições e julgamentos – que comprometem a comunicação saudável. Antes de podermos ouvir profundamente os outros, precisamos aprender a ouvir profundamente a nós mesmos. É essa autoconsciência que nos ajuda a entender verdadeiramente o quadro de referência de outra pessoa. A escuta profunda pode ser transformadora.

Quando nos julgamos e resistimos a nos aceitar exatamente como somos, impedimos a autoconsciência. A aceitação é parte integrante da autoconsciência. É fundamental que reconheçamos e aceitemos quem somos e o que fizemos, em vez de nos torturarmos (“Eu deveria / não deveria ter feito isso”). 

A autoconsciência exige honestidade rigorosa, mas também inclina-se ao desconforto de pensamentos ou sentimentos vulneráveis. A fachada da perfeição também pode limitar a autoconsciência. É essencial  saber quem você é na totalidade, com o coração aberto, a mente aberta e a vontade de se render completamente ao que vê, sente, pensa e experimenta. Somente quando nos aceitamos verdadeiramente é que podemos aceitar os outros.

Quando estamos conscientes, somos mais capazes de monitorar nossos pensamentos e sentimentos como observadores, pausar e determinar a ação correta. Quando atingimos este estado, é mais provável que saibamos lidar com cada tipo de emoção e sentimento, e assim diminuir os efeitos deles em nossa saúde; evitando que problemas emocionais se transformem em doenças. 

Referência

ROMERO, E. As formas da sensibilidade. São José dos Campos: Della Bídia, 2002.

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