As mulheres durante a quarentena e o ato de cuidar se si mesma

Tempo de leitura: 5 minutos

A quarentena mexeu mesmo com a gente, não é mesmo? Nos fez refletir sobre a vida, sobre o que estamos fazendo dela e sobre a nosso finitude.  Nos faz ter um pensamento recorrente: “E se eu morrer agora sem fazer tudo o que eu queria?”. 

Quantas perguntas, dúvidas, reflexões; é o momento em que quase todas as certezas são postas a prova. Muitas pessoas precisando de cuidados e outras exercendo a arte do cuidar. 

Nesse sentido, nesse texto gostaria de conversar em especial com as mulheres.

  • Você, mulher, como tem se sentido? 
  • Tem conseguido cuidar de ti? 
  • Você sente que tem trabalhado mais na pandemia? 

Se a sua resposta for sim, saiba que você não está sozinha. 

Uma pesquisa realizada pela Organização de Mídia, Gênero e Número em parceria com a SOF Sempreviva Organização Feminista, concluiu que 41% das mulheres entrevistadas sentem que estão trabalhando mais durante a quarentena e que metade das pessoas do sexo feminino entrevistadas passaram a cuidar de alguém durante a crise. Desse número 80,6% passaram a assistir familiares, 24%, amigos; e 11%, vizinhos. 

O trabalho invisível do cuidado é desenvolvido na sua grande maioria por mulheres. Veja o resultado de algumas pesquisas e também o que aponta o documento “Gênero e Covid-19 na América Latina e no Caribe: dimensões de gênero na resposta” publicado em março pela ONU Mulheres:

– A maioria dos profissionais que estão atuando na linha de frente contra a Covid-19 são mulheres, elas são 70% dos trabalhadores da área, segundo estima um relatório de 2019 da OMS. No Brasil, cerca de 85% dos profissionais de enfermagem são mulheres.

– Muitas mulheres são professoras. O Censo Escolar de 2018 aponta que cerca de 80% dos 2,2 milhões de docentes da educação básica brasileira são do sexo feminino.

– Cuidados com a casa, funções domésticas, cuidados com as crianças, adolescentes, idosos. Segundo dados divulgados em 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mulheres dedicam em média 23,8 horas semanais aos afazeres domésticos e cuidados de pessoas, na comparação com 12 horas semanais gastas nessas atividades pelos homens. Agora Imagine todas estas atividades com a pandemia, já que estes são dados antes dela. 

– Devido à saturação dos sistemas de saúde e ao fechamento das escolas, as tarefas de cuidado recaem principalmente sobre as mulheres, que, em geral, têm a responsabilidade de cuidar de familiares doentes, pessoas idosas e crianças.

Diante de tudo isso, eu me pergunto:

  • Como está sendo a sua experiência de ser cuidadora?
  • Em quais espaços e quanto tempo que também disponibiliza para cuidar de si mesma? Afinal, quem cuida da cuidadora? 
  • Quais espaços você mulher tem tido para falar, para cuidar de você, ser ouvida e compreendida?

A maioria de nós, mulheres sabemos como tornar a vida de outras pessoas melhor não é mesmo? Afinal somos quem mais cuida. Lembramos dos remédios, das consultas, dos pagamentos, de todos os compromissos dos filhos, do que falta em casa e tantas outras coisas. 

Fiquei me perguntando quantas vezes você deixou seu exame de lado, remarcou sua consulta? Quantas vezes deixou-se de lado para cuidar do outro? 

Se você pudesse fazer uma escolha, quais mudanças gostaria de fazer?

Não deixe que o cuidar do outro se torne o seu cotidiano. A mulher como cuidadora é uma construção social que perpassa geração após geração e que pode ser transformada para que todos assumam às suas responsabilidades enquanto sociedade. 

Para isso também se faz importante o reconhecimento da própria mulher desse lugar de cuidado que ocupa. Muitas vezes assumir tarefas, abraçamos problemas a serem resolvidos e se disponibilizar ao cuidado do outro sem perceber se este é o seu verdadeiro desejo, ou se é uma “obrigação” construída socialmente.

Quanto mais nós mulheres estivermos conscientes desse lugar social que ocupamos maior será a nossa possibilidade de transformar àquela sensação de culpa que às vezes sentimos. 

Sem culpa é quando conseguimos dizer aquele “eu não posso, preciso cuidar de mim”.

Ter um tempo para cuidar de si é fundamental para você e também para cuidar do outro.

Quanto mais consciente estivermos de nós mesmas, das nossas necessidades, desejos, capacidades, sonhos menos vamos estar expostas a esse lugar social de cuidadoras construído historicamente.

Não estou dizendo que cuidar do outro é errado. 

Eu compreendo que existem muitas, muitas realidades nos diversos lares brasileiros e que as vezes esta é a única opção ou é o que a mulher gosta de fazer. 

Mas gostaria muito que você, mulher, pudesse voltar-se um pouco para a si mesma e para as suas necessidades como pessoa.

Se você pudesse fazer uma coisa para cuidar de si mesma, o que seria?

O poder de escolha da mulher, é disso que me refiro. De escolher por ela. Com a ajuda de toda a sociedade, de homens, mulheres, crianças, jovens e idosos.

Nós mulheres podemos cuidar umas das outras, podemos estar próximas, podemos nos ajudar. Mas, não só mulheres, você, esposo, namorado, irmão, pai, amigo, você filho ou filha…todos nós podemos questionar valores e construir novas possibilidades de ser e existir. 

E podemos começar com coisas muito simples, cabe a toda família compartilhar os cuidados com a casa, com as crianças, o cuidado com as pessoas idosas e vulneráveis, na administração das atividades domésticas. Todos têm responsabilidades e é necessário fazer a divisão de tarefas e de cuidado.

– Mulher, cuide de você, não esqueça de ti! E se precisar de ajuda conte conosco.

6 Comentários


  1. Boa tarde, Tania
    Tudo bem?
    Trabalho numa multinacional e conduzo um projeto sobre voltado apenas para as mulheres da companhia. A ideia seria trazer o tema do autocuidado nesse tempo de pandemia. Você dá palestras nesse estilo?

    Aguardo retorno,

    Atenciosamente,

    Maria Luiza Pinsdorf

    Responder

    1. Oi Maria Luiza, obrigada pelo convite, eu trabalho sim com esta temático, tanto com palestras, trabalhos de grupo e na clínica individual. Podemos conversar, meu contato é (49) 99924-1574.

      Responder

  2. Oie, que legal que encontrei o seu site. Já adicionei o seu
    site aos meus favoritos, assim consigo voltar mais vezes
    para ver as novidades. Obrigada, beijos até a proxima

    Responder

    1. Oi Flávia, que bom que gostou do site e dos temas aqui apresentados, fico feliz que tenha ajudado nas suas reflexões. Se tiver algum tema que tenha interesse em conhecer mais, talvez você possa deixá-lo como sugestão aqui que tentarei escrever sobre ele. Um grande abraço pra você.

      Responder

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