Setembro Amarelo – Como prevenir o suicídio

Tempo de leitura: 10 minutos

 “São as coisas sobre as quais se tem dificuldade de falar que dão significado aos acontecimentos”

(Alan Nelson, 1986).

Dez de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. O suicídio é um fenômeno complexo, multifacetado e de múltiplas determinações. Ele não acontece por causa única, mas sim pela interação de diversos fatores e vai ser diferente de uma pessoa para outra.

Os fatores que contribuem para o suicídio podem ser: sociais, psicológicos, econômicos, biológicos, culturais e situacionais e pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades e gênero. 

Mas o suicídio pode ser prevenido! 

O suicídio não ocorre de uma hora para outra ele é um continuum que envolve sofrimento psíquico, ideação, ameaças, tentativas, ato ou suicídio completo. Qualquer um de nós pode pensar em suicídio ao longo da vida, mas quando isso vai ficando mais forte e você não consegue mudar o que sente, mudar esse pensamento e então, o suicídio acaba aparecendo como solução. É nesse momento que precisamos ficar muito mais atentos.

Fatores de risco

São muitos os fatores de risco que podem influenciar o suicídio. Além das características de personalidade, temos o histórico de vida, fatores genéticos, ambientais, sociais que são muitos.

Possuem maior risco: pessoas com histórico de tentativas de suicídio ou auto agressão anterior, situações atuais ou anteriores de violência (física, psicológica, financeira, assédio moral, etc.), histórico de abuso sexual, desemprego, discriminação social, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, problemas de saúde mental como depressão e outras, dependência de álcool e de outras drogas. Experiência de perda, rompimento de relacionamentos, problemas financeiros, dores e doenças crônicas, exposições frequentes a situações de risco, baixa autoestima, isolamento afetivo e sentimento de solidão, menos valia, sentimento de desamparo, autodesvalorização, crise existencial, entre outros. Na maioria dos casos, serão vários destes fatores associados.

Fatores de alerta em crianças e adolescentes: 

Embora mais difíceis de reconhecer em crianças, também podem ocorrer. Na adolescência é um dos mais sérios problemas de saúde pública no mundo.

  • Irritação ou agitação excessiva
  • Sentimento de tristeza
  • Baixa autoestima
  • Existência de preocupação com a sua própria morte
  • Falta de esperança
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas
  • Tentativas prévias de suicídio
  • Diminuição ou ausência de autocuidado
  • Mudanças na alimentação e/ou hábitos de sono
  • Uso de álcool e outras drogas
  • Isolamento de amigos e família para além do que está acontecendo na pandemia
  • Diminuição do rendimento escolar
  • Autoagressão
  • Estar em um ambiente hostil
  • Ambiente familiar com muita briga
  • Falta de suporte social (amigos, comunidade)
  • Sofrimentos e inquietações com relação ao próprio corpo e sexualidade
  • Interesse por conteúdos de comportamento suicida ou auto lesão em redes sociais.

No caso dos comportamentos auto lesivos, de automutilação, que não são apenas cortes, eles podem ser: arrancar o cabelo, bater com a cabeça na parede, ficar cutucando a unha; isso não necessariamente será um comportamento suicida, mas indica um sofrimento psíquico, existencial que a criança ou adolescente não consegue resolver de outra forma.  

Fatores de alerta em adultos: 
  • Uso de álcool e outros drogas
  • Problemas financeiros
  • Desemprego
  • Isolamento afetivo e sentimento de solidão
  • Sentimento de desamparo
  • Autodesvalorização
  • Crise existencial
  • Términos de relacionamento
  • Estar passando por violências (física, psicológica, financeira, assédio moral, etc.)
  • Transtornos mentais como depressão, transtorno bipolar, transtornos de personalidade e outros
  • Exposições frequentes a situações de risco
  • Estar passando por situações de discriminação, preconceito, estigmas sociais, entre outros.
Fatores de alerta em idosos:

Se o idoso ficar mais quieto, mais isolado, apresentar maior desinteresse, não quer falar com a família, atender ligações, chamadas de vídeo, se queixa com frequência de dores no corpo, falta de apetite, dificuldades para dormir, falta de memória, preocupações com a morte, pensamentos como “não deveria estar aqui”, “estou dando trabalho”, “eu só incomodo vocês”, “eu queria dormir e acordar nunca mais”

Tudo isso pode indicar sofrimento psíquico significativo, o que pode sugerir risco.

Alguns fatores de proteção ao suicídio: 

-Ter acesso a serviços e ao tratamento de saúde mental;

– Estar aberto a pedir ajuda;

-Ter vínculos comunitários, familiares e sociais saudáveis.

Como podemos prevenir o suicídio?

Existem vários aspectos da prevenção ao suicídio. É importante reconhecer os sinais lá do início, os primeiros de que algo não vai bem com você ou com alguém de sua família, amigo, colega, seja criança, adolescente, adulto ou idoso. 

Muitas vezes, os primeiros sinais vão estar ligados a outras condições de saúde mental como por exemplo, depressão, uso de álcool e outras drogas, transtorno de personalidade e outros.

A Organização Mundial da Saúde aponta que mais de 90% dos casos de suicídio estão ligados a algum transtorno mental não tratado ou não identificado.  Temos que lembrar sempre que, o sofrimento humano que leva ao suicídio possui diversas características, que vai ser diferente de pessoa para pessoa e que vai ter múltiplas influências e determinações (sociais, culturais, genéticas, pessoais, ambientais). 

Para começar a pensar em prevenir, será preciso prestarmos atenção em nós mesmos e no que estamos sentindo, estamos pensando. 

  • A quantos dias você não anda bem? 
  • Desde quando se sente triste, sem graça, com baixa estima, com sentimento de solidão, de desamparo, autodesvalorização?
  • O que será que está acontecendo no seu entorno, na sua vida, que pode estar contribuindo para tudo isso você possa estar sentido?

Muitas pessoas passam por crises, por exemplo, em um ano a pessoa passou por alguns meses mal, depois melhorou, mas daqui dois anos isso volta, muito forte de novo. Bem, se você conseguir buscar ajuda na primeira crise, ou no momento exato ou quase exato que as coisas não vão nada bem contigo, isso fará toda a diferença na sua vida, no seu tratamento e na sua melhora.

Essa “crise” poderá estar relacionada a uma questão de saúde mental e outros, além de algum fato da vida, precipitante que vem a colaborar, a somar com algo mais complexo que já estava ocorrendo com você, como por exemplo, um término de relacionamento, perda do emprego, a morte de uma pessoa querida, entre outros, que aumentam ainda mais um sofrimento. 

Algo importante de reconhecer aqui, é que não podemos ignorar o fato de que muitas pessoas não falam do que sentem e muitas vezes não conseguem se permitir sentir o que sentem, principalmente se for algo considerado como pesado, negativo como, por exemplo, a vontade de morrer, ou o sentimento de que tudo está ruim e sem esperança.

É preciso que você saiba que todos nós em algum momento da vida vamos nos sentir assim, alguns mais outros menos, e você não é “fraco(a)” por reconhecer que o que sente é ruim, pesado.  Muito pelo contrário, falar do que se sente possibilita dar sentido aos acontecimentos da vida. 

Um bom exemplo é a pandemia que estamos vivendo, que tem gerado nas pessoas diversos sentimentos, diversas reações emocionais diferentes de antes e que são importantes de serem reconhecidas e compreendidas. Saiba que muitas dessas reações são normais para este momento “anormal”, mas que, se elas persistirem, se não diminuir com o passar dos dias será preciso ajuda psicológica.  

Se você sentir por muitos dias desesperança, tristeza, solidão, falta de sentido nas coisas, medo, vazio existencial, autodesprezo, como se não tivesse valor; ou sintomas físicos, que podem vir associados, como alteração de apetite, alterações de sono (insônia ou passar a dormir demais), taquicardia, sudorese, perda de energia ou fadiga por vários dias, busque ajuda profissional de um psicólogo e se necessário um psiquiatra. 

O quanto antes buscar ajuda, fazer acompanhamento psicológico/consultas psicológicas, será fundamental para diminuir os riscos do agravo do sofrimento psíquico e para prevenir o suicídio. 

Como faço para ajudar alguém em sofrimento?

Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo. Por isso, fique atento(a) se a pessoa demonstra comportamento suicida e procure ajudá-la.

Percebendo algum fator de risco, você pode chamar esta pessoa para conversar, colocar para ela a sua preocupação (uma conversa sem julgamento, pressa, ou preconceito diante do sofrimento da pessoa). Não é o momento de dar um sermão e dizer o que deve ou não fazer como por exemplo “você nunca deve pensar assim”, “é errado pensar assim”, não se trata disso, se trata de ajudar a pessoa a reconhecer que ela não está bem. 

Não duvidar, desqualificar ou minimizar o sofrimento da pessoa. Ofereça sua ajuda, escuta, trate-a com respeito, esteja presente e ajude na busca de um serviço médico e psicológico.  Se colocar à disposição da pessoa e mostrar que a vida dela importa são fatores fundamentais nesse cuidado. Saiba ouvir muito mais do que falar.

Algo bem importante são os grupos de apoio, quando pessoas que compartilham determinada experiência se apoiam. Um exemplo é o site Pósvenção do suicídio: www.posvencaodosuicidio.com.br que reúne os grupos de apoio do Brasil e que podem ajudar você ou seu familiar. 

E lembre-se: é preciso ter muita coragem para olhar para si mesmo, ver e assumir a bagunça que está, a tristeza que sente ou a angústia.

Onde buscar ajuda?

  • CVV – Centro de valorização da vida -ligue para 188 (ligação gratuita), atendimento 24h por dia, 7 dias da semana para qualquer pessoa que esteja passando por esse sofrimento. 
  • Profissionais médicos e psicólogos;
  • Unidade Básica de Saúde do seu bairro;
  • Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de sua cidade ou região;

Em casos de emergência: 

  • Samu – 192.
  • UPA – Unidade e Pronto Atendimento de sua cidade ou região;
  • Hospital mais próximo de sua residência.

Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19: Suicídio na Pandemia COVID-19. Fiocruz, 2020. 
WHO. World Health Organization. Mental health. Geneva; 2016. Disponível em: https://www.who.int/mental_health/prevention/suicid e/suicideprevent/en/
ROGERS, Carl. Sobre o poder pessoal. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1986.

4 Comentários


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