Habilidades socioemocionais e o profissional do futuro

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Recentemente fui convidada para participar de uma roda de conversa no evento I9Psi para falar sobre a formação do psicólogo. Imaginem a minha alegria e surpresa com este convite, porque fiquei pensando, como é um evento sobre inovação, tecnologia e psicologia, que vai apresentar o que há de mais novo na psicologia, o que será que eu posso contribuir? O que do meu processo como pessoa e profissional pode contribuir com o processo do outro?

Comecei a fazer essa reflexão, sobre quais são as habilidades e competências profissionais que eu preciso desenvolver para estar nesta profissão e correr atrás das novidades que ela apresenta num mundo cada vez mais veloz e tecnológico. 

E aí, fiquei pensando o quanto eu não estou sozinha nisso, porque não é algo somente desta profissão, mas de todas. Quais são as habilidades e competências que serão e outras que já são necessárias para a nossa vida profissional, seja qual for a sua. 

Bem, o evento é nesta semana, e eu estou mergulhada neste assunto e não poderia deixar de compartilhar com vocês. Por isso o tema da nossa semana são as habilidades socioemocionais do profissional do futuro, que eu, você e todos nós, cada um à sua forma, está desenvolvendo. 

É possível que para alguns, pensar sobre isso seja mais fácil e prazeroso, para outros mais difícil ou amedrontador, pois pensar nas habilidades do futuro é reconhecer que estamos em constante mudança, que não é um lugar fixo que eu cheguei e agora vou ficar. E que os avanços tecnológicos estão transformando todas as profissões. Por isso imaginar essas transformações pode gerar desconforto mesmo, pois tudo aquilo que conhecíamos e tínhamos como seguro não temos mais (se é que algum dia foi seguro!!). 

Quantas vezes não pensamos em trocar de área, de profissão, começar algo novo. 

Somos instigados a quase todo tempo a aprender, desaprender e a reaprender em um mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (VUCA). Cada vez mais somos chamados a interagir com a incerteza, com situações e eventos imprevisíveis e a pandemia parece ter sido só uma pequena amostra do que está por vir.

Há apenas um ano atrás jamais imaginava que faria o meu trabalho como psicóloga, na sua maioria, em casa e online. O atendimento online como segunda opção passou a ser a principal. Jamais imaginei que teria acesso a tantos cursos e aprendizagens online como estamos tendo, afinal tudo era tão longe. Assim como, tantas mudanças na modalidade de serviços e possibilidades de atuação profissional. Ao mesmo tempo que inspira, a gente respira para seguir. 

A pandemia acelerou todos os processos tecnológicos que estavam previstos para daqui alguns anos, principalmente no mercado de trabalho e na educação e as habilidades sociemocionais do profissional do futuro passam a ser habilidades também para o agora: ser empático, criativo, saber trabalhar em equipe, ser comunicativo, flexível e conseguir se adaptar às mudanças, ter uma visão reflexiva e crítica da realidade, conseguir tomar decisões, saber gerir as próprias emoções, entre outras. 

Quando eu penso nessas habilidades socioemocionais o que me vem é: o que posso fazer para desenvolvê-las o mais rápido possível?

Será que estou muito atrasada? É um tal de estudar daqui, estuda dali, veja o que saiu de novidade, no outro dia já está ultrapassado e você nem terminou de conhecer. Investe em atualização profissional, em autoconhecimento e por aí vai…

De acordo com o Fórum Econômico Mundial, cerca de 65% das crianças que estão no ensino fundamental irão trabalhar em profissões que ainda nem foram inventadas e a BNCC (Base Nacional Comum Curricular) sugere algumas habilidades socioemocionais do futuro, que se apresenta em três grandes eixos: 

  • Autoconhecimento, que envolve: a autopercepção, a identificação das emoções, a autoavaliação (reconhecer pontos fortes e fracos), a autoconfiança e a autoeficácia.
  • Autocontrole, que envolve: o controle dos impulsos, a gestão do estresse, a autodisciplina, a definição de metas, o planejamento, a organização.
  • Consciência social, que envolve: a tomada de perspectiva, o reconhecimento da diversidade, o respeito pelos outros e o compromisso social.

Nesse sentido, a pergunta que não quer calar é: como faço para desenvolver essas habilidades citadas aqui, para um futuro que já começou?

Os autores que estudam a área dizem que se trata de um processo de – saber SER para saber FAZER -. E o que isso significa?

Como eu aprendo a ser para saber fazer? 

Bem, antes de qualquer mudança será necessário reconhecer onde estamos nesse processo de saber SER. 

Nas suas experiências até aqui, o que tem aprendido sobre você? 

Quais são seus medos, angústias, o que causa maior ansiedade quando você pensa nas mudanças que estão ocorrendo? 

Como você se relaciona com o novo, com o diferente, com a diversidade?

Como está a sua flexibilidade para mudar de rota? Para dialogar com as características do mundo pós pandemia ou novo normal? 

Consegue sentir as mudanças? Se não, minha sugestão é fazer uma análise de ti e da realidade, e tentar reconhecer o que mudou: nas relações, no trabalho, na sociedade, na educação, no mundo. 

Parece que será preciso rever esses lugares seguros e fixos que tínhamos sobre nós mesmos e sobre a vida para conseguirmos perceber a avalanche de mudanças que estão vindo por aí e para estar disponível para viver o novo. 

Para saber quais habilidades desenvolver, vai ser necessário:

Conseguir reconhecer onde estamos hoje e ter uma ideia precisa de suas capacidades e limitações 

Quais são as nossas dificuldades? 

Quais são as suas habilidades e competências e quais ainda precisa desenvolver?

Quando estou nas relações com as pessoas como me sinto? Como interagimos? Como me comunico?

Às vezes é difícil olhar para si e reconhecer onde estamos e o que precisamos mudar, e isso diz desses conjuntos de percepções fixas que temos sobre nós mesmos e que não queremos mudar de jeito nenhum, porque já faz parte da nossa rotina interna, do nosso funcionamento psicológico. 

Investir no autoconhecimento

Pois é, em meio ao crescimento tecnológico e a inovação em todas as áreas, parece que o profissional do futuro terá de ter características muito humanas desenvolvidas, tais como: empatia, flexibilidade, inteligência emocional, criatividade, resiliência, ser proativo, entre outras. Para saber SER é preciso conhecer muito de ti e da sua pessoalidade. 

Aprender a confiar na sua capacidade de gerenciar suas emoções e no seu processo de desenvolvimento

Para darmos mais alguns passos no desenvolvimento de quem somos e das nossas habilidades e competências socioemocionais para ser um profissional do futuro, será preciso reconhecer aonde já chegamos. Olhar para a sua história e perceber que já pode confiar nas habilidades que desenvolveu até aqui. Nas estratégias utilizadas para lidar com as adversidades, no tanto de conhecimento e experiência que já tem. 

Para dar próximos passos será necessário conseguir reconhecer onde você já chegou! 

Estar aberto para viver novas experiências 

Está cada vez mais claro para a ciência que o nosso organismo como um todo se desenvolve quando saímos das zonas de conforto, saímos da rotina: alimentar, física, sensorial, visual, quando desafiamos o nosso cérebro a pensar, raciocinar, seja mudando de rua quando você volta para casa ou aprendendo um jogo novo. 

Cada um de nós é capaz de se modificar e se desenvolver por meio do esforço e da experiência. Acreditar que estamos prontos, completos pode nos fechar diante da oportunidade de vivenciarmos novas experiências, interagirmos com as pessoas e o mais importante, descobrirmos mais sobre nós mesmos.

Para saber fazer, será necessário investir em ti e no conhecimento de outras fontes de saber do organismo, como aquele que se aprende vivendo na experiência, estar aberto a toda a sua experiência que o seu processo de viver pode apresentar. Como diz Carl Rogers (1985), a realidade não é estática ou universal, generalista, ela é única e formada pelo indivíduo e as suas experiências. 

É preciso um reconhecimento grande de nós mesmos para que as mudanças que precisamos fazer, faça sentido e possamos estar abertos para mudar de rota ou estar aberto para o novo em nós e no mundo.  

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