Traumas e amor próprio

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Quando passamos por traumas, amar a si mesma(o) pode ficar muito mais difícil. 

Quando passamos por diversas violências (físicas, psicológicas, sexuais, financeiras), rejeição, humilhação, abandono afetivo, físico, perdas, ou qualquer vivência que nos cause dor emocional e traga outros prejuízos à nossa saúde, qualidade de vida, aos relacionamentos, trabalho e vida amorosa, isso significa que passamos por um trauma ou traumas. 

Amar a si mesmo(a) fica mais difícil porque os traumas vividos, geralmente, são provocados por pessoas que deveriam nos cuidar, amar e proteger. É a partir desse amor e cuidado recebido que vamos formando o nosso amor próprio, a nossa autoestima e senso de autovalor. Na experiência de um trauma ou traumas ficamos confusos a respeito do nosso valor, das nossas capacidades, podemos perder a nossa “bússola” de autodireção. 

Os traumas, além de todas as vivências e experiências que vamos tendo ao longo da vida, contribuem para formar o que pensamos e sentimos sobre nós mesmos, a nossa imagem mais pessoal e única, o nosso “eu”. Uma das principais consequências dos traumas, nessa formação e percepção de quem somos, é o desenvolvimento de uma imagem distorcida de nós mesmos(os). Por isso, é comum neste caso, haver o desenvolvimento de emoções e sentimentos de menos valia, angústia, de que somos um “erro”, que não merecemos sermos amados, valorizados e estimados, de incapacidade e insuficiência. Andamos na vida sentindo culpa, medo, baixa estima, vergonha de quem se é. 

Quem passou pela experiência de trauma vive em luta. Luta de não se entregar aos fatos de sua história, de não ser sucumbido e determinada(o) por eles e pelas dores que lhe causam(ram). 

Tem um tempo que eles param de doer. Nos intervalos da vida, quando tudo parece que “irá bem de agora em diante”. Até o próximo flash, o próximo gatilho. Sentimentos assim, que  machucam, não desaparecem por conta própria. Eles continuam ali, disfarçados de estresse, nervosismo, depressão, ansiedade, insônia, dores pelo corpo, dificuldade de atenção, de aprendizagem…

Vergonha, medo, baixa estima, insegurança, adoecimentos psicológicos, doenças mentais, são outras possíveis consequências de um trauma ou traumas vivenciados ao longo da vida. 

O trauma é uma marca, um borrão na sua imagem. Flashes de memórias, lembranças do trauma aparecem a qualquer momento. Ao assistir um filme, uma notícia, ler um livro, ao escutar uma história, ao falar com os amigos, nos momentos de silêncio, antes de dormir e, até mesmo, ao acordar pela manhã.

Ao vivenciar isso, pode-se pensar que se está fadado ao fracasso, pois o que fazer com as essas lembranças da história de vida que vão e voltam? Até mesmo se isso estiver acontecendo agora, como fazer para lidar com tudo isso?  

Bem, não dá para voltar atrás e mudar o que vivemos. No entanto, podemos escolher a forma com a qual vamos lidar e olhar para esse passado, significa-lo. Para isso, na maioria dos casos, vamos precisar de ajuda psicológica para conseguir lidar com tudo que nos aconteceu. Em casos mais específicos, a ajuda médica psiquiátrica também será necessária.  Assim como, de uma rede de apoio, que você já pode ter, ou, que precisará ser construída, neste caso, os profissionais de saúde que te acompanham podem ajudar. 

O importante é começar. Dar o primeiro passo é buscar ajuda profissional para desenvolver os recursos psicológicos necessários para olhar para sua história de vida e ressignificar o que sente, criar estratégias para lidar e olhar para esses traumas de maneira a diminuir os sofrimentos e possibilitar que você consiga viver e aproveitar ao máximo da sua vida hoje. 

Que o passado se transforme em lembranças e que alegrias sejam encontradas e produzidas nesse caminho. Afinal, se você passou por experiências assim, traumáticas, além da dor, tem dentro de si uma força e coragem de seguir adiante, pois você já seguiu! Tem outros recursos que te ajudaram a viver, apesar de tudo. E são esses recursos que vamos desenvolver, ampliar, fortalecer com a psicoterapia. 

É por meio de novas experiências, de relações afetivas, de aceitação, acolhimento e cuidado que será possível recuperar ou até mesmo reconstruir esse amor próprio, essa autoestima, que será possível conseguir acolher a sua história de vida e fazer e perceber diferente hoje, nas suas relações. Principalmente consigo mesmo.

Acolhimento, respeito, aceitação, não julgamento, cuidado, afeto e amor. Tudo isso, em qualquer idade ou momento de vida, nos transforma.

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