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Você sabe identificar o que é essencial para você?
Em meio a tantos estímulos midiáticos, das redes sociais, vídeos divertidos, notícias e outros, de tantas possibilidades, pessoas, grupos, trabalhos, responsabilidades e cobranças. Como selecionarmos o que realmente é importante para nós?
E como isso se relaciona com a procrastinação: a nossa arte de deixar tudo para depois, de adiar tarefas, atividades, compromissos, decisões. Costumamos ser bem criativos ao desenvolvermos estratégias para fugir daquilo que precisamos fazer. Mas, o que será que o ato de procrastinar, pode dizer sobre você e sobre o seu momento de vida? Sobre as suas escolhas e necessidades?
A procrastinação é um comportamento natural do ser humano. Afinal, quem nunca deixou para depois coisas importantes que tinha para fazer agora? Procrastinar é a ação de adiar algo ou prolongar uma situação. O desafio é quando esse comportamento toma um lugar maior do que deveria, se tornando um hábito, o que acaba trazendo vários prejuízos tanto na vida pessoal com relação ao autocuidado (deixamos de marcar aquele exame que precisa ser feito, de começar atividade física, cuidar alimentação etc.), cumprir metas e objetivos de vida, assim como, sociais, relacionais e profissionais.
Uma pesquisa realizada em 2020 sobre procrastinação apresenta dados de que uma em cada cinco pessoas é procrastinador crônico. Ou seja, costuma adiar trabalhos e compromissos importantes constantemente, assim como, perde o foco e a concentração em pequenas tarefas do dia a dia. Segundo a escritora Heather Murphy “Um procrastinador crônico não somente adia uma tarefa, mas coloca vários setores da sua vida em constante indefinição”.
A procrastinação pode nos levar a questionar, a duvidar das nossas capacidades e habilidades, gerando insegurança, medo, baixa estima, vergonha, culpa entre outros. Por isso, procrastinar pode indicar algo importante sobre você, um sinal de alerta sobre o que precisa ser reavaliado, reorganizado ou mudado.
Por vezes a procrastinação é confundida com preguiça ou desorganização, no entanto, são coisas diferentes. A procrastinação pode estar ligada ao aumento da ansiedade, depressão, esgotamento físico e mental, insegurança, vergonha, medo, e com a dificuldade de identificarmos o que é essencial para nós. O importante é saber identificar a serviço de que a procrastinação pode estar se fazendo presente de maneira acentuada na sua vida.
Sobre isso, seguem algumas pistas que podem ajudar nessa identificação.
Medo do fracasso
Às vezes, procuramos ficar na nossa zona de conforto, no lugar conhecido, que nos sentimos seguros, desviando qualquer possibilidade que a vida esteja nos apresentando e que pede uma mudança: de atitude, hábito, trabalho, de relacionamentos. Você já percebeu que quando procrastinamos, geralmente trocamos coisas difíceis por tarefas mais fáceis e que dominamos? Por exemplo: ir ao supermercado, no lugar de fazer aquele trabalho da faculdade; olhar a internet, ver vídeos, quando precisamos responder um e-mail difícil do trabalho ou escrever um relatório.
São atividades que geram a sensação de que estamos dando conta, pois pode ser muito difícil lidarmos com a possibilidade de errar, de fracassar. Pode haver um medo de descobrir as nossas imperfeições. Pois é, procrastinar também pode estar relacionado ao perfeccionismo, ao qual a pessoa se cobra e exige muito de si, sentindo-se ameaçada quando alguma atividade difícil a coloca em risco de errar ou de não ser perfeita.
Comparação com os outros
Se você prestar atenção em como se sente ao comparar-se com o outro, vai perceber que nesses momentos é mais fácil desistir do que está fazendo e deixar para depois. Isso porque, ao se comparar com o outro a insegurança aparece, geralmente temos uma tendência de nos sentimos inferiores, o que gera uma experiência de autoengano, ao nos distrair de nós mesmos nos perdemos no outro.
Necessidade de lazer e descanso
Muitas vezes a procrastinação aparece quando estamos cansados, estagnados, precisando de descanso e lazer. Acontece que quando essa necessidade não é reconhecida e compreendida, ou até mesmo quando não nos permitimos sentir o nosso cansaço e descansar, continuamos produtivos e a procrastinação surge como momentos de pequenos descansos, de distração. O que pode aumentar o cansaço e, ao mesmo tempo, a sensação de culpa por não estar sendo produtivo o suficiente na hora do trabalho ou estudo e nem estar conseguindo descansar e se divertir quando tira os seus momentos de folga. Se isso estiver acontecendo com você, tente avaliar qual o seu tempo de trabalho? Quando tem muito trabalho ou grandes problemas para resolver, é possível fazer pequenas tarefas, uma de cada vez, para diminui o desespero em resolver tudo logo? Como está a qualidade do seu tempo de lazer e descanso?
Dificuldade de selecionar o que realmente é importante para você
Já se flagrou passando um dia todo fazendo “milhões” de coisas e ao final não ter realizado as atividades que você havia planejado para si? Pois é, nem sempre é fácil definirmos o que realmente é importante e saímos fazendo muitas coisas (muitas vezes pelo outro), respondendo mensagens, e-mails, ajudando aqui e ali, vendo vídeos, respondendo o Whatsapp e deixando de lado o que realmente era importante. Nesse aspecto vale se perguntar: o que realmente é importante para você? O que você disse sim, que poderia dizer não? Aquilo que você fez o dia inteiro era essencial para quem? Estamos diante da escolha e definição do que realmente é essencial.
Nessas “pistas” sobre o hábito de procrastinar é possível perceber a possibilidade de escolha e tomada de decisões. Nesse aspecto, o que estamos deixando passar? Que necessidades pessoais estamos deixando de lado? O que a procrastinação pode significar no seu contexto de vida?
De maneira geral, a procrastinação pode nos mostrar os lugares inseguros da nossa existência, que nos colocam diante das incertezas que temos em relação a nós mesmos, dúvidas, medos, decisões e escolhas. O nosso cérebro tem preferência pela recompensa imediata, então, ficamos com o que temos maior facilidade e deixamos para depois o que nos desagrada, que nos coloca em risco de reconhecer que não somos bons em tudo, não somos perfeitos, mas que, ao mesmo tempo, é possível desenvolver e aprender a lidarmos com as nossas imperfeições.