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Outro dia estava lendo uma coluna da escritora Ana Paula Lisboa que se chama “Será que é desamor? ”. De imediato esse título chamou minha atenção, e fui ler! Começava com uma frase assim:
“Será que mesmo depois de tanto tempo a gente ainda está à espera de alguém que nos diga que sem o seu corpo ele não consegue respirar?”
E segue:
“Como pode ela ser ela e ele ao mesmo tempo? Mas então se o amor acabar, ele morre? Ela deixa de existir? Como pode, pra ser um, ter que ser dois ou se ver fora do próprio corpo? Será que eu já amei assim tão grande?”
Esses são alguns trechos do texto da autora, que me fizeram pensar:
- Mas o que é o amor?
- O que é amar?
- Será que amo tanto, a ponto de me perder de mim?
Bem, o que isso diz sobre nós humanos que amamos? Será que tem outro jeito de amar e de se entregar, sem se perder de si?
Quando foi que deixei de ser eu para ser o outro?
Será que amar é sinônimo de entrega de uma vida por outra? E, será que a gente ainda está à espera de alguém que nos diga que sem nós não pode viver!
Às vezes escutamos frases parecidas com isso, como por exemplo: eu não sou nada sem você! Não me deixe, eu não sei viver sem ter você!
Quando o sentido de ser alguém, de ser você depende do outro, estamos falando aqui do que chamamos de dependência afetiva.
Uma necessidade difusa e excessiva de ser cuidado que leva ao comportamento de submissão e apego e a temores de separação, seja de um relacionamento amoroso, familiar ou amizade.
Em outras palavras a dependência afetiva ocorre quando sentimos que precisamos do outro para viver, a pessoa acaba por projetar no parceiro ou parceira as suas expectativas e passa a depender dele para sentir-se feliz, realizado, capaz, para tomar decisões e se sentir amado. Sente que precisa do outro para gerenciar a sua própria vida.
Nesse caso, a pessoa despende muita energia ao outro, de cuidado e atenção e espera que o outro retribua com a mesma e intensidade ou intensidade parecida estes cuidados. A pessoa abre mão de si mesma, das suas coisas pelo outro. Aqui o medo de separação é tão grande, que dá a sensação de que se o outro nos deixar não vou mais existir, não vou suportar, porque perder o outro é se perder a si mesmo também.
O limite da dependência afetiva
Todos nós amamos, e amamos do nosso jeito, nenhum amor vai ser igual ao outro, e vamos sentir o quanto é bom ter o outro na nossa vida, o quanto somos melhores com ele ou ela, e se imaginar, sem a presença da pessoa da qual tanto gostamos vai ser difícil mesmo.
Todos nós vamos viver um certo nível de dependência afetiva, mas precisamos ficar atentos quando o outro passa a ter um valor tão grande para nós que começamos a sentir que dependemos dele para viver, quando a nossa autonomia de ir e vir fica comprometida, quando a pessoa se afasta das amizades, da vida social, do que gosta de fazer, da sua individualidade para viver pelo outro, com o outro e, muitas vezes, esperando dele ou dela que o faça feliz, ser feliz a partir do outro. O que acaba gerando muito sofrimento para ambos na relação.
É natural, quando entramos num relacionamento, ocorrer algumas mudanças em relação às amizades, grupos dos quais se fazia parte, entre outros, o que difere aqui é deixar ou se afastar da vida social para estar apenas com o outro, tamanho o medo da perda, da solidão ou abandono.
Características da dependência afetiva
Algumas características que podem estar presentes na dependência afetiva:
– Necessidade exagerada de que o outro esteja sempre disponível a você;
– Ciúme exagerado;
– Dificuldades nos relacionamentos interpessoais;
– Muito medo (medo exagerado, pânico) e sofrimento ao imaginar o fim do relacionamento;
– Sensação de abstinência ou vazio existencial quando da falta do parceiro ou parceira;
– Necessidade de aprovação e de sempre agradar aos outros;
– Costuma abandonar-se para estar com o outro, a subordinar-se às vontades do outro;
– Dificuldades de tomar as suas próprias decisões.
Bem, a esta altura do texto eu acredito que você possa estar se perguntando, mas como isso foi acontecer? Porque tenho essa necessidade tão grande do outro para existir?
Para responder a isso, vou perguntar: como foi o seu processo de crescimento? Como foi o seu desenvolvimento? Do que sentia falta afetivamente? Como você aprendeu a ser você mesmo?
Será que você busca encontrar no outro, aquilo que sente falta em si?
Quais serão as suas necessidades afetivas que podem estar na base dessa precisão do outro?
É provável que, ao longo do seu processo de crescimento, tenha tido dificuldades de encontrar nas relações um ambiente com as condições necessárias que favorecessem o desenvolvimento da sua autoestima, autoconfiança e autonomia. Crescendo com uma percepção de si mesmo como insuficiente.
E como é difícil viver com essa sensação de insuficiência quase a todo tempo! Esse processo de necessitar do outro em demasia, pode dizer do quanto você tem se esforçado para manter-se bem, afinal o ser humano busca alternativas para manter-se vivo, manter-se bem, dentro das suas possibilidades e daquilo que já conhece de si e das suas experiências para sobreviver.
É provável que ao fazer esta autorreflexão, sobre as suas necessidades afetivas presentes ao longo do seu processo de crescimento e desenvolvimento; sobre como percebe a si mesmo(a) na vida, vá respondendo algumas destas questões. Mas, se isso já está muito complexo para você e difícil de compreender, a busca por um profissional de psicologia poderá ajudar.
Referências
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parabens pelo artigo, me ajudou muito
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Que bom que gostou, fico feliz que a minha escrita te ajudou nas suas reflexões. Um forte abraço pra você.
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Esse ano de 2020 foi tudo muito complicado cada vez uma
nova bomba aparecia. Espero que 2021 seja mais calmo.
Super agradeço pelo seu artigo foi bem útil. Compartilhei
no meu pinterest e obrigado pela informação.
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Olá Maicon, muito obrigada, que 2021 seja bem mais calmo mesmo! Até a próxima!