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Desde que o mundo é mundo as pessoas ajudam umas às outras. Em um dia somos compelidos a ajudar diversas pessoas com pequenos atos do cotidiano, seja segurando a porta do elevador ou auxiliando alguém a trocar um pneu, dando a vez no trânsito, etc. Ajudamo-nos há muitos anos, e desta forma fomos criando uma rede que nos permitiu evoluir até o que somos hoje.
A cooperação entre humanos ajudou a criar o que chamamos de convívio social. O tipo de auxílio que podemos oferecer e receber também evoluiu. Com mais percepção sobre o mundo e sobre si mesmo, passamos a nos questionar sobre existência, vida, futuro, passado e presente, e sobre nossos atos, nossas escolhas e o impacto que isso causa nos outros e que os outros causam em nosso caminho. Chegava a hora de nos ajudarmos emocionalmente.
Por muito tempo a ajuda emocional ficou restrita aos sábios, aos filósofos, aos líderes religiosos. Falar sobre sentimentos de alguma forma era restrito a quem tinha tempo e vontade para lidar com isto. Grandes líderes da história acabaram tomando decisões erradas, com grande impacto para o povo e nos lugares que comandavam, porque realmente não se entendiam.
Felizmente o tempo passou, e nos preocuparmos com nossas emoções passou a ser algo não só absolutamente aceitável, como incentivado a todo momento. A diferença é que com o surgimento da psicologia como ciência que estuda a subjetividade, o comportamento e os estados mentais das pessoas, hoje quem oferece ajuda emocional estudou para isso, se preparou e se transformou em um profissional, com responsabilidades e deveres.
Segundo a resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 10 de 20 de dezembro de 2000, no seu artigo 1º: “A psicoterapia é prática do psicólogo, por se constituir, técnica e conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos”.
A psicoterapia – também conhecida como terapia da fala – já ajudou milhões de pessoas pelo mundo. A terapia da conversa pode ajudar as pessoas a superar a dor do passado e desenvolver estratégias de enfrentamento para o futuro. Também pode ajudar uma pessoa a definir seus objetivos, esclarecendo quem são e o que querem da vida. É sobre os benefícios da psicoterapia e de que forma ela consegue ajudar as pessoas que vou falar neste texto. Acompanhe!
Entendendo a Psicoterapia
Antes de começarmos a explorar os benefícios, eu preciso que você entenda o que é a psicoterapia. Também chamada de terapia individual, que também pode ser de grupo, além de casal e familiar, trata-se de um processo conjunto entre um psicoterapeuta e uma pessoa em terapia. Objetivos comuns da terapia podem inspirar mudanças ou melhorar a qualidade de vida. As pessoas podem procurar a psicoterapia para obter ajuda com problemas difíceis que não conseguem enfrentar sozinhas. A psicoterapia individual também é chamada de terapia, psicoterapia, terapia de conversação e aconselhamento.
No processo de psicoterapia a pessoa poderá encontrar a capacidade de realizar a si mesma. De encontrar a si mesmo. Todo ser humano tem uma tendência natural de atualizar-se e desenvolver todas as suas potencialidades, e a psicoterapia auxiliará a pessoa nesse processo, sendo uma forma de resgatar o contato consigo mesma e a sua autonomia como pessoa. É um espaço onde a livre expressão dos sentimentos facilitará o processo de compreensão de si, uma mudança na maneira da pessoa se experienciar a si mesma e ao mundo.
A psicoterapia pode ajudar as pessoas a superarem obstáculos ao seu bem-estar. Pode aumentar sentimentos positivos, como compaixão e autoestima. As pessoas em psicoterapia podem aprender habilidades para lidar com situações difíceis, tomar decisões saudáveis e alcançar metas, podem também se tornar mais conscientes e promover o próprio crescimento.
Abordagem Centrada na Pessoa
O caminho natural para esse texto seria explicar a você agora quando procurar a psicoterapia, listando uma série de condições ou problemas que você pode estar passando em que é indicado procurar ajuda.
Porém com minha formação clínica na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) não posso deixar de explicar como ela funciona e de que forma eu acredito que esse processo psicoterapêutico pode realmente trazer muitos benefícios para todos nós.
Partimos do princípio que toda pessoa é capaz de gerenciar a si mesma, pensar, sentir e buscar o melhor para si, dadas as condições necessárias para este desenvolvimento. Qualquer pessoa que estiver passando por algum tipo de sofrimento emocional, sentindo angústia ou ansiedade, precisa de um ambiente favorável e facilitador que vai auxiliá-la a entrar em contato consigo mesma e a encontrar as respostas ou as próximas perguntas relacionadas às suas necessidades emocionais.
Para Carl R. Rogers, autor desta abordagem, toda pessoa “possui dentro de si vastos recursos para a autocompreensão, para modificação de seus autoconceitos, de suas atitudes e de seu comportamento autônomo (1983, p.38). Faz parte de quem somos a tendência de nos atualizarmos, buscarmos nos desenvolvermos e crescermos como pessoas. Para Rogers esta atualização acontece quando são proporcionadas condições facilitadoras desse crescimento, que amplie a compreensão que a pessoa tem de si mesma na vida e consiga alcançar uma harmonia interna e, em consequência, maior harmonia com o seu meio.
Considerar a existência de uma tendência é considerar que pessoas são processos. Segundo Rogers (2009, p. 70) a psicoterapia é um processo de “facilitação da tendência do organismo para um desenvolvimento psicológico ou para sua maturidade”. Nesta perspectiva, a psicoterapia possibilita um espaço de imersão no que há de mais intrínseco, pessoal e profundo no ser humano, a subjetividade humana. Fala da pessoa em movimento na construção de si mesma e do mundo. Do humano em constante transformação, descoberta, que modifica e é modificado no ato de viver.
A Abordagem Centrada na Pessoa é uma teoria da psicoterapia que está a serviço de desenvolver o humano naquilo que ele tem de potencial para atualizar-se e crescer.
Acreditando nisso é que posso dizer que toda pessoa deve procurar a psicoterapia, quando por algum motivo, ela se desviar deste caminho, desta busca interna, ou quando ela perder a capacidade de se autodirigir. Este é o momento certo em que você poderá usufruir dos benefícios da psicoterapia.
O verdadeiro benefício da Psicoterapia
Muitas pessoas perguntam:
- Como saber quando devo procurar a psicoterapia?
- Preciso ter uma doença mental para buscar por este serviço?
- Para cuidar da minha saúde mental, mas o que é saúde mental?
A psicoterapia é um serviço de desenvolvimento psicológico, que visa ampliar as possibilidades de ser quem se é na vida a partir do seu referencial interno e de atualizar-se como pessoa na medida em que vamos vivendo nossas experiências. Ampliar o nosso autoconhecimento possibilita maior capacidade de fazer escolhas, de autonomia, de liberdade experiencial, de autenticidade, de saber quem se é, em direção a uma maturidade emocional.
Sabe aquela antiga frase de Sócrates: Conhece-te a ti mesmo? Pois é, em um mundo cada vez mais caótico, marcado pelo individualismo, cobranças por todos os lados e violências, conhecer a ti mesmo pode ser uma grande dádiva para nos atualizarmos e encontrarmos saídas mais criativas e saudáveis para a nossa vida e para as nossas relações em sociedade.
A qualquer momento você pode buscar a psicoterapia, seja para cuidar de ti e das suas emoções, para compreender sua angústia cotidiana, seus medos, sonhos, expectativas, frustrações, dúvidas, incômodos, para suas “dores emocionais” e outros. Não é preciso necessariamente ter uma doença mental, você pode buscar a qualquer momento, como forma de promoção e prevenção em saúde.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2001), saúde mental abrange o bem-estar subjetivo, a auto-eficácia percebida, a autonomia, a competência, a dependência intergeracional e auto-realização do potencial intelectual e emocional da pessoa. É mais do que a ausência de transtornos mentais e está indissociavelmente ligado ao funcionamento físico, social e aos resultados na saúde.
Entre as doenças emocionais a psicoterapia vai auxiliar quem está com depressão, quem sofre com ansiedade, estresse, quem está passando por problemas familiares, problemas de relacionamento, quem precisa resolver sua sexualidade, quem passa por traumas, medos intensos, violências ou enfrenta vícios. Em todos estes casos e em muitos outros a psicoterapia é benéfica. Clinicamente falando a psicoterapia também é indicada em diversos casos de doenças físicas e doenças crônicas.
Porém, o principal benefício da Psicoterapia é a capacidade de fazer com que a pessoa se sinta compreendida. Você consegue imaginar o tamanho e a amplitude que a compreensão tem, principalmente nos dias atuais?
Sentir-se bem e confortável para exprimir seus pensamentos, sem medo de julgamentos e ainda assim sentir que a pessoa do outro lado está junto contigo, que está te ouvindo e compreendendo com empatia, que não vai tomar seus problemas para si, nem compará-los com os seus.
É esse nível de confiança estabelecido que faz com que a pessoa passe a falar sem medo de tudo que se passa no seu íntimo e, enquanto fala também se ouve. E quando nos ouvimos, nos questionamos e assim o processo começa.
Inúmeros são os benefícios da psicoterapia e da Abordagem Centrada na Pessoa, mas promover o autoconhecimento pode ser o melhor deles. Com autoconhecimento abrimos novas perspectivas, encontramos novos caminhos e ficamos mais saudáveis.
Termino esse texto citando Carl Rogers:
“A pessoa que estiver completamente aberta a sua experiência terá acesso a todos os dados possíveis da situação que fundamentará seu comportamento; às exigências sociais, as suas próprias necessidades complexas e possivelmente em conflito, a sua recordação em situações semelhantes, a sua percepção do caráter único dessa situação determinada, etc. Os dados seriam de fato muito complexos. Mas o indivíduo poderia permitir ao seu organismo total, com a participação da sua consciência, considerar cada estímulo, cada necessidade, cada exigência, à sua intensidade e importância relativas, e a partir desse cálculo e dessa apreciação complexa, descobrir a atitude que mais integralmente satisfizesse as suas necessidades perante a situação”. (ROGERS, 2009, p. 217).
Referências :
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