Os idosos e a quarentena

Tempo de leitura: 5 minutos

Os idosos e a quarentena. Não está sendo nada fácil não é mesmo? Neste texto quero falar sobre alguns aspectos do aconselhamento psicológico para idosos, refletindo com vocês sobre os efeitos da pandemia em idosos e idosas. 

Há algum tempo atrás eu publiquei um post escrito assim: “A experiência humana implora por pertencimento e por conexão. Todos nós queremos um lugar seguro em que possamos ser autênticos”.

Lembrei disso no mesmo instante que comecei a pensar sobre a experiência dos idosos neste momento tão difícil que estamos passando.

  • Você é idoso ou conhece, convive com alguém acima de 60 anos? 
  • Como será que está sendo para você passar por esta experiência de pandemia?
  • Quais têm sido as suas maiores dificuldades e desafios?
  • Do que tem sentido falta? Do que mais tem saudade?

É um período muito diverso e cheio de desafios não é mesmo?!

Nós enquanto profissionais de saúde acabamos por ter uma lista de orientações que podem auxiliar os idosos neste momento.

Eu na minha condição de pessoa, por mais que estude sobre isso, a nível de experiência de vida, mal posso imaginar como este período deva estar sendo para os idosos.

Tem algo que marca muito para mim quando atendo um idoso(a) que é a luta por manter a sua autonomia. Diante das perdas que vamos tendo a nível de funcionamento do corpo e mente, a autonomia de ir e vir, de cuidar das suas coisas, de fazer atividades de que gosta é também uma das coisas que os idosos mais tem medo de perder.

Reconhecer o envelhecimento não é fácil

Não é nada fácil para nós reconhecermos que estamos envelhecendo, que a cada dia algo muda no nosso organismo. Seja a nível biológico, cognitivo, psicológico e social e muitas vezes a perda de autonomia está ligada a esse processo. Quanto mais conscientes nós estivermos do nosso envelhecimento e na medida que conseguimos auxiliar os idosos neste reconhecimento, melhor será o nível de saúde mental.

Então, se tenho algo a dizer aos idosos e suas famílias neste momento de pandemia que pode ajudá-lo a nível emocional é:

  1. Garantir a autonomia do idoso – que ele possa dizer o que vai fazer bem para ele. Construa com os idosos as estratégias de autocuidado. Ter um espaço ao qual possa ajudá-lo ou ajudá-la a reconhecer as limitações transcorridas desta fase de vida, das mudanças sentidas, do que está sendo comunicado pelo corpo, que atividades já não podem mais ser realizadas do mesmo jeito do que antes.
  2. Diminuir a intolerância e o preconceito relacionados ao avanço da idade. Convido você a refletir sobre as possibilidades do idoso vivenciar da melhor forma a sua idade do seu jeito de ser.
  3. A nível psicológico, com a pandemia, vai ser identificado em idosos, assim como na maioria das pessoas, um aumento do medo, da ansiedade. Mais tristeza, medo da solidão, aumento de casos de depressão, o luto com as perdas de pessoas (amigos, familiares, de finanças, de autonomia) que são geradores de estresse. Reconheça esses sinais e ofereça ajuda sempre.

Quais são os espaços que você – idosa e idoso – tem para falar dos seus sentimentos, do que estão passando, dos medos e anseios?

Falar sobre o que está sentindo pode auxiliá-los a lidar e aliviar as reações emocionais deste momento de pandemia. 

Ter espaços aos quais você possa refletir, trocar informações e falar dos seus sentimentos. 

Recomendações aos cuidadores de idosos

Sobre as orientações para a qualidade de vida durante a pandemia, gostaria de começar citando algumas principais orientações de um grupo de especialistas da Fiocruz que desenvolveu esta cartilha chamada: “Saúde mental e Atenção Psicossocial na Pandemia do Covid-19: recomendações aos trabalhadores e cuidadores de idosos.

  • Manter conexões sociais, ainda que interações face a face não sejam possíveis nesse momento. Isso inclui informações sobre recursos tais como mensagens de texto, áudio e vídeo (por exemplo, quando o idoso tiver acesso à internet, smartphones ou computadores e conseguir utilizá-los), ou mesmo telefonemas, cartas e desenhos feitos por netos ou outras crianças afetivamente próximas;
  • Sugere-se também que o cuidador (formal ou não) ofereça atividades como ver cursos online, leituras, músicas, bem como tentar manter encontros já tradicionais (por exemplo: se a pessoa tinha um encontro semanal com amigos, tentar fazer um encontro virtual no mesmo dia e horário); ou seja atividades que lhe dão prazer.
  • Mesmo dentro de casa, procure encontrar um local para banho de sol e incentive o idoso à prática de atividades físicas leves, como caminhada (se for utilizar espaços sociais coletivos, como os espaços de convivência de prédios e praças, por exemplo, verificar se não há outras pessoas e manter a distância mínima de segurança). Caso não seja possível, mostrar atividades online que o idoso possa repetir em casa;
  • Proteção ao consumidor idoso, o que envolve ampla divulgação de informações sobre como obter itens de primeira necessidade com segurança;
  • Uma preocupação séria é a negação do contágio e do risco que alguns idosos estão tendo e como os familiares podem ajudar nisso. Que tipo de informações esse idoso está tendo? Ficar atento àquele idoso que não está tomando os cuidados, por exemplo na hora de ir ao banco (inclusive como socialização) ajudá-lo a se conscientizar. Precisamos reinventar essa autonomia social do idoso de não ir ao banco mas que possa fazer outro atividade. Imposição não, mas sim negociação.
  • Pergunte e converse sobre suas histórias antigas e reveja junto deles fotos de momentos importantes, que tragam boas recordações. Isso ajuda a dar sentido positivo às suas experiências e reforça sua importância na vida de familiares e amigos; 
  • Tente algo novo;

Temos muito a aprender com a experiência de cada idosa cada idoso, se estivermos abertos e atentos a escutar as suas histórias de vida. 

4 Comentários


  1. Não está sendo fácil pra ninguém, mas o idosos sobre mais.

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