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Todos nós adoramos uma nota 10, um recorde completo de vitórias, uma avaliação de desempenho impecável, um currículo primoroso ou um elogio sincero de quem a gente ama. A perfeição, mesmo que inalcançável, faz com que nos sintamos confortáveis e mais seguros.
Muitos adultos hoje, foram crianças ou adolescentes que cresceram lutando contra o perfeccionismo. Geralmente filhos de pessoas que traçam um mapa de pontos específicos em que qualquer desvio de rota pode ser um sinal de fracasso.
- “Você vai crescer, estudar, casar, formar uma família e ter um bom emprego!”
- “Você precisa conquistar a casa própria, só assim terá segurança para o resto da vida!”
- “Você não deve ficar namorando demais, mas sim ter alguém fixo que te respeite!”
E muitas vezes o contrário também acontece:
- “Você precisa deixar de ser tão tímida, assim vai morrer sozinha!”
- “Aproveite mais a vida, só trabalhar e estudar vai te enlouquecer!”
- “Não case, seja feliz namorando várias pessoas, olha o meu exemplo!”
Seja qual for a forma como esse mapa é traçado, é comum que outras pessoas, que não estão percorrendo o seu caminho, considerem um fracasso quando você decide fazer aquilo que simplesmente quer, quando você faz suas próprias escolhas.
O problema é que para muitas pessoas, o fracasso pré-determinado por escolhas do outro, fica martelando na mente e pode vir a prejudicar. A pessoa está em um bom emprego, mas sente-se fracassada(o) por ainda pagar aluguel. Constrói uma linda carreira, mas “ainda está solteiro(a)”. Compra uma casa, mas nunca tem filhos. Tem família, três filhos lindos e saudáveis, mas com dificuldades financeiras.
Enfim, não há em nossa sociedade uma cultura de reflexão sobre os benefícios do fracasso. Tudo foi planejado para evitar isso a todo custo e, com o tempo, isso se torna prejudicial à nossa saúde mental. Ninguém nos convida ao fracasso como caminho para o sucesso.
Por que falhar é tão importante
A importância do fracasso já virou pauta aos profissionais que falam de carreira e empreendedorismo. Profissionais de sucesso já sabem que é importante falhar. A maioria sugere que as pessoas devem falhar, detectar suas falhas, não se apegar ao erro, aprender e seguir em frente, até encontrar o sucesso. E que isso pode ser feito repetidamente, desde que não se tenha uma mentalidade fixa, que nada mais é do que a crença de que todos nós possuímos habilidades e talentos específicos, e que não importa quanto esforço apliquemos, não podemos mudar esse potencial. A existência de uma mentalidade fixa significa que qualquer luta ou fracasso é atribuído à incapacidade de crescimento.
Não seria algo ruim, se tudo isso não viesse acompanhado também de muita pressão emocional. Encarar o fracasso como um pitstop, em que você está abastecendo e arrumando os pneus para continuar, pode fazer com que você deixe de assimilar suas emoções. Poderá ser muito mais difícil redirecionar a rota para quem não entende o que está sentindo, não observa a forma como está reagindo, e não consegue reavaliar suas escolhas.
Na cultura do empreendedorismo, o fracasso é aceito, mas ele não é o fim da jornada. E muitas e muitas vezes o que encontramos são pessoas que não conseguem viver bem com suas falhas e acabam remoendo isso por muito tempo, desenvolvendo adoecimentos psíquicos e convivendo com a ansiedade, isolamento ou vergonha.
Enfrentando a vergonha depois de um fracasso
Toda vez que você fracassar, pergunte-se, antes de tudo, de onde está vindo esse conceito? O fato ocorrido é um fracasso por qual motivo? Quem definiu que isso é um fracasso? Você concorda com isso?
Pergunte-se: como esse fracasso teceu histórias de vergonha em sua identidade. Ele reafirma uma crença negativa que você tem sobre si mesma(o)?
Se você não contou a ninguém sobre essa experiência de vergonha, considere falar sobre isso com alguém em quem você confia e que faça você se sentir segura(o).
Se você já compartilhou sua história com um ouvinte sensível, lembre-se de como se sentiu ao falar sobre a vergonha em voz alta e analise se essa conversa ajudou a te deixar com menos vergonha ou constrangimento.
Observe a beleza de tentar
A vida é feita de pequenos passos e todos nós temos objetivos. Divida seus objetivos em etapas pequenas, alcançáveis e tangíveis. Você notou uma faísca em seu objetivo – curiosidade, entusiasmo ou interesse que pode te dar ânimo, vontade ou força, em vez de ser abastecido pelo medo do fracasso? Nomeie a faísca, o que faz o seu coração bater mais forte, e guarde bem essa emoção.
Reserve um tempo para avaliar o que aconteceu depois que você realizou sua primeira ação pequena e tangível (alcançável dentro da sua realidade). Que tipo de feedback você recebeu? Abrace o feedback como um presente e não como uma crítica ao seu valor.
Embora não seja algo que frequentemente articulamos publicamente, a vergonha permeia todos os domínios da experiência humana, e isso inclui o fracasso. A vergonha pode condicionar e traumatizar aquelas pessoas que não sabem lidar com o erro. Observar a beleza de tentar é uma forma de não deixar que a vergonha se estabeleça, seja qual for o resultado das suas tentativas.