Aulas online e o autoconhecimento: experiências na pandemia

Tempo de leitura: 5 minutos

Você, estudante como tem se sentido com a mudança para as aulas online?

O que mais tem aprendido sobre seu modo de aprender?

Tem se sentido desafiado ou parado? Tem sentido e incerteza do futuro? Frustração, ansiedade, tédio?

Todos sabemos que as escolas e universidades estão na sua grande maioria ainda fechadas e que a educação passou a ser a distância por meio das aulas online. Em meio a tudo isso só posso imaginar como deve estar sendo essa experiência para crianças, adolescentes e universitários. 

Fiquei pensando que para além de todas as mudanças sentidas por meio desta modalidade de ensino, como deve estar o processo de você adolescente, você estudante universitário reaprender a aprender, sobretudo acerca de você mesmo. Se antes você estudava de um jeito, se reconhecia como estudante de um jeito, hoje isso tem se modificado um pouco não é mesmo!

Têm descoberto novas habilidades? Novas fragilidades?

Como você tem se percebido nessa experiência? 

O que você sente que teve ou tem dificuldade?

Que desafios essa realidade apresenta para o seu desenvolvimento pessoal? Bem, talvez você possa estar se perguntando, mas o que as aulas online na pandemia têm a ver com isso? Com autoconhecimento? 

A aprendizagem não deixa de ser também um processo de conhecer a si mesmo, à medida que construímos quem somos e mudamos com as descobertas que são realizadas por meio da produção de conhecimento, do estudo/aprendizagem. Se eu aprendo sobre o mundo e sobre a realidade é possível que eu aprenda muito sobre mim mesma também, se eu tiver um ambiente escolar, de ensino facilitador para isso, o que nem sempre acontece.

As novas formas de ensino e aprendizagem e toda mudança na rotina devido a pandemia podem causar efeitos negativos ou positivos nas pessoas e em como elas percebem a si mesmas e a vida.

Pesquisas realizadas com estudantes universitários sobre a experiência de aulas online na pandemia apresentam como resultados o aumento da ansiedade, depressão e estresse em estudantes. 

Por outro lado, entre os efeitos dados como mais positivos dessa experiência temos a forma de lidar com o aprendizado. O estudante acaba por ter de desenvolver uma postura mais ativa diante do conhecimento. O conteúdo fica completamente registrado dando a possibilidade de o aluno administrar seus estudo e tempo de uma maneira mais autônoma. 

Acontece que em muitos casos nós não estamos acostumados com tanta autonomia no processo de aprender, aí vem o estranhamento, a sensação de estar perdido no tempo e espaço, com dificuldades de organizar a sua rotina, organizar os estudos e o tempo livre. 

É comum ficar em dúvida se é aquilo mesmo que se quer, há o aumento da ansiedade, decepção por causa das mudanças trazidas pela pandemia, medo, solidão. 

Aqui é muito importante que o estudante, seja qual for a sua idade, consiga reconhecer o que está se passando com ele. Teve aumento de ansiedade, do medo? Está frustrado, decepcionado com o que está acontecendo? O que tem sentido? 

Com todas essas mudanças ocorridas vai ser normal sentir vários sentimentos e emoções diferentes, algumas até mesmo nunca antes sentidos pela pessoa, pelo adolescente, pelo estudante. 

Muitos têm se isolado, desmotivado, querendo desistir de enfrentar essa realidade. Bem é uma situação diferente mesmo, tudo mudou, mas saiba que você não está sozinho, sozinha. É mesmo um momento muito desafiador, mas é possível aprendemos muito sobre nós e sobre a vida, se nós conseguirmos reconhecer tudo isso que estamos sentido e passando. 

No caso dos adolescentes os pais podem ser facilitadores desse processo com seus filhos e também como algo para eles mesmos. 

Então, o primeiro passo é reconhecer o que está acontecendo com você, o que você está sentindo, o que mais tem te deixado assustado, assustada, triste, decepcionado, frustrado – as vezes pode ser aquela viajem tão sonhada e que teve que adiar, as expectativas do vestibular e da escolha profissional, os estágios na faculdade momento tão esperando por tantos, entre outras – reconhecer as suas frustrações, raiva, tédio, do que mais tem medo?

O que sente que mais mudou em você?

Tudo isso que você está vivendo estudante, trata-se de um grande processo de aprendizagem, de um aprender a aprender que tem a ver com compreender não só os outros, os dados já produzidos, como a si mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar, auto-reflexão. 

Esse reconhecimento, falar sobre essa realidade que está se passando contigo neste momento, será muito importante para sua organização psíquica e de rotina na vida prática. Os especialistas dizem da importância de estabelecer uma nova rotina, evitar ficar de pijama o dia todo, na cama ou apenas assistindo televisão ou jogando (pensando nos adolescentes), no entanto para a gente se reorganizar será necessário mesmo reconhecer o que está se passando contigo nesse momento. 

É provável que muitos amigos, amigas também estejam passando por isso e você pode conversar com eles, com sua família e se precisar de ajuda, conte conosco, profissionais psicólogas e psicólogos. 

Estabelecer esse real contato com o que está se passando contigo na sua realidade vai te possibilitar reconhecer outros problemas importantes da sua existência, e aí eu volto para a sua aprendizagem e vontade de aprender. É importante não se culpar caso não esteja conseguindo aprender do jeito que você aprendia e sim reconhecer como você está neste momento.

Encerro com um pequeno trecho de Carl Rogers “a aprendizagem socialmente mais útil, no mundo moderno, é a do próprio processo de aprendizagem, uma contínua abertura à experiência e à incorporação, dentro de si mesmo, do processo de mudança” (ROGERS, 1977, p.164).

Referências: 

MAIA, Berta R.; DIAS, Paulo C. Ansiedade, depressão e estresse em estudantes universitários: o impacto da COVID-19. Estudos de Psicologia (Campinas), v.37, mai. 2020.

ROGERS, Carl R. Liberdade para aprender. 4 ed. Belo Horizonte: Interlivros, 1977, p. 164.

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