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Alguns dias atrás milhares de pessoas ao redor do mundo assistiram a apresentadora Oprah entrevistar o príncipe Harry e a duquesa Meghan, sobre suas experiências com a família real britânica.
Logo depois, enquanto as pessoas entravam nas redes sociais para discutir se Meghan e Harry deveriam ou não ter falado tão abertamente e em quais partes da história eles acreditam, a pergunta que ficou no ar era se a gravidade da entrevista estava sendo perdida.
Embora pareça apenas uma entrevista sensacionalista sobre os bastidores da família real, na verdade existem vários aspectos dela que precisam ser debatidos.
Muitas das questões relacionadas à saúde mental que foram levantadas no contexto da entrevista são as mesmas que podem afetar eu, você e pessoas próximas.
Estou falando do estigma relacionado à saúde mental.
Meghan falou com bravura e abertamente sobre seus problemas de saúde mental quando fazia parte da família real. Ela revelou que sentia que precisava de ajuda psicológica, mas foi informada de que ela não poderia ter por causa de como isso poderia refletir na instituição e na imprensa. Infelizmente, esse tipo de estigma é muito comum.
Vou citar alguns exemplos: empresas nas quais os funcionários têm medo de sair no horário de trabalho (mesmo podendo sair, devido ao banco de horas) para ajuda psicológica e ter de voltar com a comprovação de presença, ficando exposto aos comentários de colegas e chefes. Ou, agora no home office, ter de avisar aos familiares que precisa de privacidade para uma sessão de terapia e muitas vezes receber comentários depreciativos por cuidar da saúde mental.
Quantas vezes nós fazemos isso? Quantas vezes sentimos que fomos depreciados por dizer que fazemos terapia ou que estamos precisando dela?
E, quantas vezes você riu de alguém do seu convívio, que disse estar precisando de ajuda psicológica? Pois é, parece que o caso da duquesa Meghan está aqui, na nossa realidade, muito perto de nós.
Existe um número significativo de indivíduos com problemas de saúde mental que não recebem atendimento e aqueles que o recebem geralmente o recebem muito tarde – em alguns casos, até décadas após o início do problema.
Para muitas pessoas, o problema é o acesso a cuidados de saúde mental. Mas para outros, o problema principal é semelhante ao de Meghan – o estigma que paira sobre isso, e sobre o que as pessoas vão pensar sobre alguém que revela ter depressão, ansiedade ou tantas outras condições.
Meghan falou que sofreu muito com a solidão dos palácios e com o fato de não poder falar nem encontrar amigos e parentes. Um ano atrás, se alguém falasse que isolamento e solidão poderiam provocar problemas emocionais, muita gente poderia desdenhar dessa pessoa. Agora, com a pandemia, a maioria de nós pode avaliar o preço que a solidão e o isolamento podem ter sobre a nossa saúde mental.
Meghan discutiu sua luta contra pensamentos suicidas. Pensamentos e tentativas de suicídio têm sido associados, em pesquisas , à solidão objetiva (na verdade, viver sozinho) e à solidão subjetiva (sentir-se sozinho).
Um último ponto importante dessa entrevista diz respeito ao fato das pessoas sofrerem em silêncio. Muitas pessoas sofrem em silêncio (por escolha ou porque foram silenciadas por outra pessoa). A verdade é que a maioria de nós conhece alguém com problemas de saúde mental e que não fala abertamente sobre isso.
O que eu penso é que ao falar sobre Meghan e seus problemas, precisamos pensar se estamos abordando a situação dela com empatia, com compaixão e sem nenhum tipo de preconceito, afinal estes problemas não são privilégios de ninguém.
Duvidar ou apontar o que Meghan falou sobre depressão, suicídio e tristeza é o mesmo que duvidar ou estigmatizar a luta silenciosa de pessoas próxima a você, mas que ainda não foram capazes de falar sobre o que sentem e sobre o que estão passando.
Você já sofreu preconceitos em relação a sua saúde mental?
já se sentiu tolhido, discriminado por reconhecer e dizer para as pessoas que aquilo que está vivendo está te causando sofrimento, e ser excluído por isso?
Espero que o exemplo do príncipe Harry e da duquesa Meghan possam lhe servir de guia e coragem para essa decisão e outras tantas que irá realizar para cuidar de si.