Vivenciar o Luto

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O luto, na psicologia, é um tema muito complexo e amplo e pode ser discutido em vários aspectos. Nesse texto quero pontuar algumas características do luto, das perdas que vamos tendo cotidianamente e a forma como vamos lidando com elas. O que nós sentimos, e o que se passa com a gente em decorrência de uma vivência de luto e das perdas cotidianas que temos em nossas vidas.

Você pode escutar ou assistir o conteúdo deste post se preferir!

Psicóloga Tânia Aosani · Vivenciar o Luto – Porque é tão difícil viver esse momento?


Perdas Necessárias

O termo perdas necessárias se refere a um livro da Judith Viorst que tem este título: Perdas Necessárias.

Este livro pode ser usado em diversos contextos. Ele serve para nós como pessoas, profissionais, para famílias, serve para uma empresa, seus líderes e gestores, para que todos possam aprender com as perdas necessárias do cotidiano.

No livro, Judith coloca que perder faz parte da vida. Perder em diversas situações faz parte da vida. Do quanto nós somos imperfeitos, e de como buscamos a perfeição (que não existe) e de como as frustrações são importantes em nossa vida.

No sentido que, quando aprendemos a nos frustrar, aprendemos também a conseguir lidar com nossa imperfeição; e que somos humanos e não vamos fazer as coisas com perfeição, como se fossemos deuses.

Os processos de luto

Esse livro da Judith Viorst serve para que possamos apontar as perdas cotidianas e começar a entender o processo de luto.

Quando falamos de luto, não estamos falando apenas de morte, e de perder alguém querido em função da morte. Nós vivemos muitos processos de luto dia a dia. Quem não está vivendo o luto por perder um ente querido, pode estar vivendo outros lutos como:

  • A perda de um emprego
  • Término de um namoro
  • Divórcio
  • Amizades encerradas
  • Migração forçada
  • Luto em função de acidentes
  • Perda de membros do corpo.

O luto é a nossa reação emocional diante da perda de algo que nos era muito significativo, que gostávamos e tínhamos vínculo. Podemos dizer que estamos vivendo muitas situações de luto, talvez mais do que antes, tanto pela questão do COVID-19, que traz diversos lutos para muitas famílias, quanto também pela perda da realidade. Daquela realidade que conhecíamos, para essa realidade de hoje onde temos que mudar vários hábitos e rotinas.

Estamos vivendo vários lutos em conjunto, lutos cotidianos, específicos desse momento de vida da humanidade.

O que é o luto?

Segundo Colin Parkes, autor que estuda o tema, o luto é uma reação normal e esperada diante de uma situação de perda de uma pessoa querida, da qual nós tínhamos muito apego e gostávamos muito.

E dependendo do vínculo e da ligação afetiva que tínhamos com essa pessoa querida é que vai derivar a nossa reação ao luto. Quanto mais vínculo e mais apego eu tenho a alguém que eu perdi, maior será a minha reação e a forma de vivenciar os sentimentos e emoções decorrentes do processo de luto.

O autor vai dizer que o luto é o preço do amor, quanto mais eu me vinculo, quanto mais amor eu tenho por essa pessoa, maior será as minhas reações diante da vivência desse luto.

A forma como cada pessoa vai vivenciar os seus lutos vai ser singular e única, e isso é um processo normal. O luto precisa ser elaborado para garantir a manutenção da nossa saúde mental. Então, o sofrimento, a tristeza, a angústia, a ansiedade e até o desespero são reações normais e não podem ser confundidas com uma doença.

No entanto, podemos passar por lutos que os autores chamam de luto complicado. Esse tipo de luto acontece devido a uma situação específica da pessoa, do seu contexto de vida, ou uma outra questão de saude envolvida, em que a pessoa pode vir a desenvolver um luto complicado. Precisando de ajuda médica, psicológica e até psiquiátrica pra dar conta daquele sofrimento.

De maneira geral, o luto é uma reação normal das perdas que vivemos.

O estigma social e preconceito com o luto

Há ainda um alerta sobre o preconceito e o estigma social que é criado em torno deste tema. Não podemos cobrar uma recuperação rápida de alguém que passou pelo luto há poucos meses.

Cada pessoa vai ter o seu tempo para viver suas reações emocionais, e não existe um padrão para todo mundo! É errado dizer que uma pessoa que passa por um processo de luto e demora mais tempo para se recuperar é alguém fraco. Essa pessoa só está vivendo o luto da sua maneira e de acordo com a sua especificidade e história de vida.

É importante dizer que amigos, familiares, colegas de trabalho, a sociedade de maneira geral, ela pode auxiliar uma pessoa enlutada a viver a sua perda, compreendendo que esse é um sofrimento natural e que vai passar. E respeitando o tempo de luto de cada pessoa.

É claro que queremos viver uma vida feliz e cheia de alegria. Mas as perdas que vamos tendo cotidianamente são necessárias para que possamos reconfigurar e aprender com elas e podermos prosseguir.

Então o respeito, a compreensão, a escuta, a atenção da rede de apoio daquela pessoa que está passando por um processo de perda é muito importante nesse momento, principalmente o respeito ao jeito e a maneira como aquela pessoa vai vivenciar a sua perda e sua dor.

Por que o luto é tão difícil de ser vivido?

Quando perdemos uma pessoa, uma relação, uma amizade ou um emprego, ao perder nós também vamos “deixar de ter e ser”. Nós vamos perder um mundo que até então nós conhecíamos e que funcionava de determinada maneira.

Parkes vai chamar como a perda do nosso mundo presumido, da realidade presumida. Nós tínhamos uma vida com aquela pessoa, uma rotina, organizávamos nosso dia a dia com aquela pessoa. A partir do momento em que ela não está mais presente, esse modelo de realidade se transforma.

A perda de uma pessoa querida também vai trazer outras perdas secundárias na nossa vida. Por exemplo, a morte da esposa, faz com que o marido tenha que aprender novos papeis, aprender novas funções que até então eram exercidas por outra pessoa. Isso pode trazer experiências de estresse. Reconfigurar aquele mundo que estava organizado de um jeito em outro bagunça tudo. Existe aí também uma perda de identidade, de quem eu sou.

Olhar para as novas possibilidades

Estas são algumas das características que fazem com que a perda de alguém nos cause tanto sofrimento.

Todo processo de mudança envolve perdas e ganhos, então em todas as situações em que vão haver perdas, as pessoas enfrentam a necessidade de abrir mão de um modo de vida para aceitar outro, e isso pode ser muito dolorido.

São estas perdas diárias que vivemos que nos permitem também olhar para a possibilidade de vida que nós temos.

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