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Você já deve ter visto alguém postar nas redes sociais uma imagem com a frase: “Seja gentil e calmo com as pessoas, quase ninguém está bem!”. Esta frase se espalhou na internet ao mesmo tempo em que cada vez mais se noticia sobre o aumento dos problemas de saúde mental em meio a pandemia.
Precisamos falar sobre dois pontos importantes desta frase, que por mais que pareça apenas algo que viralizou, faz muito sentido.
O primeiro é o “ninguém está bem!”. Apesar de generalizar um pouco, precisamos pensar que houve sim uma ruptura de padrão de normalidade em nossas vidas. Não que a nossa vida agora não esteja “normal”, afinal, é preciso irmos nos adaptando a todas as mudanças que o mundo nos impõe e ir criando uma nova rotina, uma nova “vida normal”. Mas muita coisa mudou e afetou a todos, e aqui não importa o que você acredita ou não, por razões legais ou sociais você precisa seguir novas regras como respeitar horários, usar máscara, evitar aglomerações… enfim, não estamos mais fazendo o que fazíamos antes.
De uma forma ou de outra, isso causa um certo pesar em todas as pessoas. Causa saudade: de ir à uma festa, de poder sair na rua sem máscara, de ver quem você ama, ou até mesmo o simples fato de ir a um supermercado sem preocupações. Então, mesmo que várias pessoas estejam conseguindo lidar com a pandemia de uma maneira mais branda, levando de maneira mais fácil, todos nós sentimos o impacto disso em nossa saúde mental. Não é todo mundo que está mal, alguns estão piores que os outros, outros estão melhores, mas a verdade é que todos estamos enfrentando essa nova realidade.
O segundo ponto é o “seja gentil”. Ser gentil aqui pode parecer um conselho singelo, básico das regras de boa convivência. E a primeira ideia que nos remete é: evite falar ríspido, não trate o outro mal, não discuta no trânsito, seja gentil com quem te atende no comércio, nos serviços públicos, seja gentil em casa… enfim, evite fazer com que qualquer pessoa se sinta mal, porque esta pessoa, assim como você, também pode estar enfrentando muitos problemas na pandemia, que vão desde um luto até dificuldades financeiras.
Mas essa gentileza precisa ultrapassar a barreira da convivência, talvez aqui, ser gentil signifique mais entender o que o outro pode estar sentindo também. Aquela ansiedade que você sente para saber quando tudo isso vai acabar, quando você vai tomar uma vacina, quando você vai poder ver seus familiares novamente, quando vai poder viajar… isso não é agradável de sentir, nem para você e nem para ninguém. Aquele medo que você sente de pegar o vírus, quando espirra ou tosse ou mesmo quando volta para casa depois de precisar fazer alguma coisa na rua, o outro também sente, e essa pessoa pode ser o caixa do supermercado, o atendente da farmácia, o médico do postinho, sua professora, sua psicoterapeuta, as pessoas que você convive dentro de casa… todos nós podemos sentir medo em algum momento.
Imagine qual foi o pior momento dos últimos meses para você. O dia mais triste, o dia que você ficou com mais medo, o dia que sentiu mais ansiedade para que tudo passasse logo, o dia que precisou sair de casa para trabalhar mesmo com receio, o dia que se sentiu mais sozinha. Lembrou? O outro pode estar passando por isso exatamente agora, então não seja gentil apenas por ser. Não estamos falando de um bom dia ou de um sorriso atrás da máscara, estamos falando de não alimentar possíveis gatilhos para prejudicar a saúde mental do outro.
Por fim, precisamos pensar que quando este outro é alguém muito próximo; alguém que mora com você, alguém que você tem acesso mesmo que online, essa gentileza vai mais além. É preciso escutar, dar suporte e principalmente, ajudar a identificar se esta pessoa está precisando de ajuda profissional. Nem todos nós vamos conseguir lidar com tudo isso sozinhos, é preciso evitar que sofrimentos emocionais se transformem em doenças. Procure ajuda se precisar e incentive o outro a procurar também.