Tempo de leitura: 7 minutos
Discutir o relacionamento era algo que não se fazia com tanta frequência até algumas décadas atrás. Com o fim da sociedade paternalista e o aumento dos relacionamentos mais curtos, esta ação ficou mais comum, virou sigla (a famosa DR) e até piada entre os casais.
Antes de começarmos o assunto é preciso entender essa dicotomia. Antes tínhamos relacionamentos em que problemas não eram expostos e debatidos, sem discutir o relacionamento se aceitava aquela condição de relação mesmo que estivesse presente nela a infelicidade. Todos nós conhecemos algum caso de algum parente mais antigo, que teve um relacionamento de muitos anos, porém não se podia dizer que eram felizes. O contrário também vale, muitos de nós conhecemos casais que comemoram diversas bodas, foram felizes sem nunca terem tido uma DR.
Voltando para a nossa época a dualidade se estabelece novamente. Muitas pessoas não conseguem manter relacionamentos duradouros porque estão sempre contextualizando como poderiam ser mais felizes. Ao mesmo tempo, muitos casais atualmente têm relacionamentos melhores e mais saudáveis porque aprenderam como falar sobre emoções e sentimentos um com o outro, sem discutir necessariamente apenas problemas ou queixas.
Isso prova que discutir a relação não é o ponto fundamental de um relacionamento saudável. Isto geralmente depende de uma série de outros fatores que precisam ser analisados. O que nós já sabemos, é que aprender como estabelecer um diálogo na relação com seu parceiro ou parceira pode ser uma atividade de ganho para a saúde mental dos dois e para a relação.
O momento da escolha de criar ou não o conflito
Você vive sua vida cotidiana normalmente e de repente algo desperta ressentimento entre vocês. Um ressentimento que surge desde um erro simples, como esquecer de fazer alguma tarefa combinada, até algo maior como uma dura crítica à sua personalidade depois de você contar como seu dia foi ruim no trabalho.
Você acaba se chateando e começa uma sequência de pensamentos:
“Será que essa pessoa se importa comigo?”
“Será que essa pessoa se importa comigo o tanto que eu me importo com ela?”
“Preciso falar sobre isso para que não se repita!”
“Se eu falar vai ter briga?”
“Será que estou querendo lidar com uma briga neste momento?”
Esta sequência de pensamentos faz com que você entenda o conflito, encontre a raiz do problema, crie todo o discurso na sua mente, mas evita falar para não começar uma briga. Muitas pessoas temem tanto o conflito que não dizem nada. Esperam que os sentimentos ruins acabam. A má notícia é que geralmente eles não acabam, apenas se acumulam. Mas por qual razão evitar a dor emocional acaba se voltando contra nós mesmos?
O medo de criar um problema de relacionamento
Você precisa saber como falar sobre um problema de relacionamento sem medo de criar algo maior sobre isso. O importante é aprender a permitir as emoções envolvidas. Entender que os ressentimentos entre vocês não desaparecem por conta própria é o primeiro passo. Resolver de forma calma e tranquila estas emoções é uma das principais funções de um relacionamento saudável.
Para que você entenda vou continuar com o mesmo exemplo lá do começo. Um marido pede que a esposa antes de chegar em casa vá ao supermercado para comprar alguns produtos que os dois estão precisando para uso comum e alguns que ele está precisando para uso particular.
A esposa esquece de ir ao supermercado, ou então vai e compra tudo que os dois precisavam, mas esquece dos produtos que eram só para ele. Essa não é a primeira vez que a esposa faz isso, o problema é que ela encara apenas como um esquecimento banal e cotidiano que não precisa virar uma briga. Já o marido encara como um problema dela não se importar com o que ele diz ou precisa.
Na superfície o problema deste casal é apenas a divisão de tarefas. Ele deveria ir mais ao supermercado e ela deveria fazer outras coisas que consegue fazer bem. Ele também poderia comprar as coisas de uso particular, uma vez que ela sempre lembra de comprar o que é para os dois, e a vida seguiria normalmente.
A desconexão entre os dois é que é mais profunda, e há nessa visão problemática de um simples esquecimento um amontoado de emoções não ditas. O marido precisa que a esposa se importe com ele por qual motivo? Em que áreas da sua vida ele foi ou está sendo esnobado ou negligenciado que precisou carregar a necessidade de valorização para o relacionamento. Entenda que valorizar um ao outro é importante, mas que esquecer de comprar algo no supermercado, não necessariamente significa que ela não o valorize, por exemplo.
Aprendendo a ver o que dói
Antes que qualquer casal possa resolver seu problema de estilo de vida, o problema maior precisa ser resolvido. Geralmente pessoas com dificuldade no relacionamento não enxergam o obstáculo mais latente que é não cuidar das dores um do outro e proporcionar o alívio do estresse do parceiro em primeiro lugar.
É preciso se conectar emocionalmente um ao outro para que depois possam se apoiar. O mais importante, é aprender a levar a sério o sofrimento do outro, encontrar a fonte e garantir esses sentimentos são importantes, que a dor do outro importa e que tensões são normais e podem ser conversadas sem que necessariamente isso vire uma batalha, onde um vence e o outro precisa se retirar.
Problemas de relacionamento não resolvidos geram preocupações mais profundas sobre como os parceiros se sentem seguros. É difícil se sentir próximo quando você está com preocupações. É por isso que a angústia com quem você se relaciona precisa ser resolvida.
Quando temos dúvidas sobre a conexão emocional com o ser amado nos sentimos ameaçados. Isso porque naturalmente buscamos segurança nos relacionamentos. No fundo, as mágoas no relacionamento geram perguntas maiores: eu me importo com você? Estamos bem?
Se não temos certeza de como dizer “eu me importo” um com o outro, é mais fácil ficar com raiva e atacar o que parece errado. Na verdade, não há nada de errado em dizer que algo está incomodando você, mas a chave para consertar seu relacionamento é falar sobre o que você precisa e não as falhas do seu parceiro ou parceira.
Boas práticas para conversar sobre algo que parece errado
Vejamos algumas das maneiras saudáveis de falar sobre o que está te incomodando:
- Sem ofensas: Não ofenda, resmungue ou fique em silêncio para obter uma reação. Isso não ajuda a outra pessoa a entender.
- Clareza: diga para a pessoa que algo te incomodou. Explique o porquê deste incômodo sem sentir culpa.
- Fale positivamente: em vez de dizer “Você nunca lembra de nada que eu peço!” tente dizer “Eu estava contando com a sua ajuda, porque você não se importou com isso?”.
É difícil admitir que precisamos um do outro. Ninguém gosta da rejeição nem de mostrar sua necessidade de amor e aceitação. No entanto, é mais complicado ainda sentir-se isolado ou só. Explicar delicadamente sua mágoa é o primeiro passo para aprofundar a compreensão juntos. Ser capaz de ouvir quando seu parceiro está machucado é igualmente importante para melhorar as coisas.
É mais fácil dizer do que fazer. É tentador evitar sentimentos dolorosos ao invés de falar sobre problemas de relacionamento. É por isso que um bom psicoterapeuta pode ser uma ajuda poderosa para encontrar um jeito de comunicar que funcione para vocês.
Conversar com seu parceiro quando você estiver chateado é uma ótima chance de se conectar. Você pode aprender a transmitir sua mensagem de uma maneira que funcione com a sua necessidade de conexão, e não contra ela.