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Minha dificuldade de me mostrar é enorme, é muito difícil me apresentar para vocês e falar de quem eu sou, como penso, das coisas que eu sinto, que tenho aprendido na vida e nas experiências.
Se tem uma pessoa que buscava ser a mais discreta possível (de preferência que eu passasse completamente despercebida das pessoas e do outro) sou eu!
Ao mesmo tempo, eu me lembro que desde muito pequena eu sempre fiz escolhas de desenvolver as atividades mais difíceis da escola como se apresentar em grupos de teatro, ajudar os professores com as homenagens e declamar as poesias no dia das mães, dos pais, no dia da pátria.
E eu lembro da sensação de frio na barriga que dava e do que eu iria passar depois da apresentação quando os colegas riam das minhas bochechas rosadas e da minha mão tremendo ao segurar o papel. Lembro do meu pai e minha mãe me dizendo “Filha, se você não encarar seus medos nunca vai vencê-los”.
Me mostrar para as pessoas de repente começou a fazer parte da minha vida por meio das minhas próprias escolhas…e olha só, de alguém muito tímida que poderia ter escolhido qualquer outra profissão que não fosse estar em contato com as pessoas, eu escolhi uma profissão que me levava direto para a exposição, pois para conseguir intervir eu preciso me mostrar e, como se não bastasse eu fui ser professora, palestrante e agora estou aqui gravando vídeos para as redes sociais e me expondo ainda mais.
Minha timidez continua aqui comigo, pois isso faz parte de quem eu sou, minha dificuldade de mostrar para as pessoas continua aqui.
E aí vocês podem perguntar, não seria mais fácil, mais coerente ou cômodo ter escolhido outra profissão ou atuar em outra área da psicologia que se mostrasse menos?
Ou não ter declamado as difíceis poesias quando criança?
Pois é, poderia, mas fico me perguntando para onde eu iria crescer? O que teria que enfrentar para desenvolver a minha personalidade, me desenvolver como pessoa? Descobrir novas facetas de mim mesma!
Desde muito jovem, tinha um desejo muito forte dentro de mim, de aprender, conhecer as coisas, conhecer as pessoas – como a mente humana funciona. Porque sentimos o que sentimos ou pensamos?
Uma vontade de conhecer o mundo e desenvolver o que eu sentia existir dentro de mim, de ir além na busca por um dia me sentir mais completa. Mal sabia eu que isso não acaba e que é justamente por isso que a vida é tão incrível!
Tentando entender o que acontecia dentro de mim como humana, escolhi uma profissão que me levasse a ajudar as pessoas a encontrar isso tudo dentro delas e a se questionar sobre as coisas, pois existem outras percepções, outras saídas, outras possibilidades possíveis para àquilo que acreditamos ser sem saída ou para a maioria das coisas da vida.
Ao mesmo tempo em que pudesse manter-me em desenvolvimento como pessoa na medida que também estaria presente na construção da pessoa do outro.
Talvez o desafio da vida seja justamente o encanto de se sentir desafiada por ela! Para onde eu iria crescer se não tivesse seguido as minhas sensações, aquele sentimento e frio na barriga de estar vencendo meus medos?
Força Interna
Existe uma força interna que nos move em direção ao nosso desenvolvimento, uma tendência de crescimento e que quando nós temos pessoas que nos incentivam com afeto a encarar os nossos medos, nos apoiando, acreditando em nós, essa força nos guia para o nosso melhor, para o nosso desenvolvimento como pessoas.
Sabe de onde vem aquela vontade que sentimos de ir além do que sabemos de nós? Aquela desconfiança de que talvez podemos ser e fazer mais por nós mesmos e pela nossa vida? Como um sinal muito pequeno, uma luz de alerta que fica sempre piscando querendo nos dizer algo?
- “Talvez este não seja meu lugar, talvez pudesse tentar outro caminho?”
- “Talvez eu gostaria de uma relação melhor, de um emprego melhor…”
- “Eu poderia voltar a estudar, morar em outra cidade ou trabalhar em algo novo…”
A vida é feita de escolhas e quais são as suas?
Existe algo na sua vida que pode ser mudado? Existe algo em você que esteja precisando de uma mudança, de upgrade? Como eu identifico isso?
Sabe aquela sensação de que talvez você possa ousar mais, que você merece algo melhor? É o fluxo de vida tocando em você; se a realidade é tudo aquilo que criamos, então nós temos o poder de criar a nossa realidade e de mudá-la.
Isso não significa dizer que será fácil, fazer escolhas é um processo difícil, as vezes nos perdemos com a sensação de culpa, desconfiança, medo. Mudar significa sair da zona de conforto e isso vai incomodar, vai doer. Acontece que quando a vontade de seguir, de fazer diferente vai se tornando maior vamos tendo a certeza que é isso mesmo que deve ser feito.
Existem sinais que podemos reconhecer quando algo não vai bem, quando estamos numa situação de desacordo interno/psíquico (como se eu estivesse fora desse fluxo de vida e me sentindo empacada).
Muitas vezes, surgem sintomas como a ansiedade aumentada, a tristeza, a angústia, nestes casos é o nosso organismo tentando comunicar que algo não vai bem com as nossas escolhas.
A nível psicológico a depressão pode ser um sinal de que existe alguma coisa que precisa ser mudada, transformada na sua vida. A angústia, surge quando há um conflito entre aquilo que eu quero, que eu gostaria de fazer e aquilo que realmente estou fazendo.
Que escolhas eu deixei de fazer na minha vida por medo?
Muitas vezes não temos o apoio que precisamos para vencer os nossos medos e seguimos na vida com aquilo que damos conta, que aprendemos. É importante dizer que toda pessoa possui uma capacidade natural de se autodirigir, uma tendência que nos impulsiona ao crescimento
Cada um de nós tem a força, uma tendência que nos impulsiona, necessária para lidar com as adversidades da vida, e pode desenvolver habilidades para viver e fazer escolhas, criar estratégias e saídas criativas para às nossas questões e problemas, a questão é que as vezes não conseguimos perceber isso sozinhos. As condições do ambiente, das relações às vezes são desfavoráveis para o nosso desenvolvimento e vamos precisar de ajuda profissional para isso.
Assim como nosso corpo tem a tendência natural de crescer – aprendermos a caminhar, falar, escrever, trabalhar, passamos da infância para a adolescência e assim sucessivamente, nosso desenvolvimento psicológico também é assim. Temos nele uma tendência de desenvolver e alcançar uma maturidade psíquica – dadas as condições necessárias para isso. Mas as vezes ficamos tão confusos e “empacados” que parece que não estamos indo a lugar nenhum!
Fluxo da Vida
Esteja aberto a viver o fluxo de vida que existe em você, não sem medo, não sem dor, pois a dor e o sofrimento também fazem parte de quem somos, do humano, mas se estivermos abertos a aprender, a seguir em frente e a descobrirmos o que mais há em nós e na vida estaremos sempre em processo de crescimento rumo às nossas maiores potencialidades humanas.
A todo tempo nós estamos nos transformando, mas nem sempre nós percebemos isso e levamos um susto quando descobrimos que alguma coisa em nós ou no outro já não está mais igual. Uma vez eu acreditava que passar num concurso seria a coisa mais segura que eu poderia fazer para minha vida, eis que passei no concurso fiquei por 4 anos e desisti dele, pois em certo momento me vi presa, com pouca autonomia para fazer o meu trabalho como gostaria.
A vida está aí para ser criada, inventada por você e eu. Quiçá serão as descobertas que juntos poderemos fazer!
Termino com uma contribuição teórica do Livro: “Humanismo de funcionamento pleno: tendência formativa na Abordagem Centrada na Pessoa” de Francisco S. Cavalcante Junior e André Feitosa de Sousa (Org), 2008, p. 109).
“Ser capaz de crescer e de reinventar-se, de usufruir de novas situações, trazidas nos encontros e nas oportunidades desveladas nos gracejos da vida. Não se trata de criar, de implementar, de forjar, de impor algo, tentando controlar o resultado final emergente da abertura. Não se impõe abertura, tanto menos os resultados emergentes desta no encontro conosco. O que emerge da abertura é espontâneo, tem uma qualidade de maior inteireza ou plenitude, porque não exclui, apara ou suprime quinas. É a própria experiência relacional consigo, com o mundo, com a vida etc.”
