Morada Interna – A Solidão na Pandemia – o distanciamento de si mesmo!

Tempo de leitura: 8 minutos

Estamos vivendo o distanciamento social, e quero falar sobre um sentimento que talvez vocês também estejam sentido nesse momento das nossas vidas. E sobre um conceito que chamei de morada interna. Nas últimas semanas tenho conversado com pessoas (tanto na minha vida social, quanto na profissional) e muitas estão dizendo do quanto se sentem solitárias nesse momento.

E não se trata de uma solidão, por exemplo, por não estar em contato com as pessoas. É uma outra solidão. Parece que esse distanciamento social tem nos colocado perante a outros desafios muito pessoais, muito singulares de cada pessoa.

Esse distanciamento social, que é não estar em contato com os familiares, não estar em contato com os amigos, com as pessoas do trabalho, participando de festas ou circulando na cidade como antes, parece não ser a maior dificuldade que algumas pessoas estão sentido.

O que elas apontam estar com mais dificuldade nesse momento parece ser o fato de se darem conta de um distanciamento que não tem como resolver, como se fazia antes.

Por exemplo, o distanciamento social, eu faço uma ligação, uma chamada de vídeo e eu entro em contato com elas. Trabalho home office, estudo, faço outras atividades, mas me mantenho conectada(o) com as pessoas de alguma forma.

O que as pessoas tem vivido bastante, é um outro distanciamento que é a sensação de estarem distante de si mesmas.

Você pode escutar ou assistir o conteúdo deste post se preferir!

Quem eu sou quando não estou com os outros?

Quando nós estamos vivendo um distanciamento social nós voltamos para nossas casas e ficamos convivendo muito mais na morada física que temos. As pessoas tem tido um desconforto que esta condição nos coloca, que é entrar em contato também com nossa morada interna.

Se dar conta, ou ver, ou se perceber como pessoa. Esse distanciamento social faz com que a gente se volte para dentro de nós também, não apenas para dentro de nossas casas. E isso tem causado um sentimento de solidão.

O que pode ser neste momento mais dolorido então, não é nem o afastamento social dos outros, mas é esta aproximação com o nosso eu, com a nossa identidade. Afinal de contas, quem eu sou quando eu não estou com os outros?

Quem eu sou quando eu não estou no trabalho, quando não estou com os meus amigos, quando não estou vivendo as coisas que eu vivia há algum tempo atrás, antes do isolamento social?

Então, quem eu sou? Parece que olhar para isso não é muito fácil, não é muito confortável. Principalmente, porque durante muito tempo das nossas vidas passamos mais conectados com o lá fora. Com as exigências do mundo como um todo: família, amigos, pais, irmãos, filhos… com tudo que temos de demanda lá fora. O que faz com que o exercício de ficar na nossa morada interna seja mais difícil.

E agora que ficamos dentro de casa parece que nós começamos a ver o distanciamento que existe entre o ‘eu lá fora’ e o ‘eu aqui dentro’. Uma mudança real de percepção sobre si mesmo, ao ser ver e perceber características dessa identidade que muitas vezes são diferentes daquelas que eu reconhecia durante a vida social.

E é incrível como nós gostamos de utilizar estratégias para evitar esse contato conosco.

O perfeccionismo pode ser uma fuga?

Quando a gente trabalha demais, assume compromissos demais, passa de nossos limites, entramos em um entorpecimento de coisas a fazer. Não é só porque eu tenho coisas a fazer que eu tenho que dar conta. Poder ser apenas uma maneira de funcionar na qual eu busco me anestesiar da dor de entrar em contato com algumas emoções e sentimentos que existem dentro de mim.

Por exemplo, no trabalho home office ou em casa estudando, fazendo diversas coisas, será que não está nesse modo de funcionamento uma fuga na qual tenta se encher de atividades para não entrar em contato consigo mesma(o)?

Uma estratégia que as pessoas, mesmo que inconscientemente, utilizam para não entrar em contato com a sua morada interna é o perfeccionismo.

Às vezes tentamos ser tão perfeitos naquilo que fazemos que isso não nos dá tempo de reconhecer as nossas fragilidades, as nossas vulnerabilidades.

E é interessante que o perfeccionismo está voltado para fora de nós. Tentamos ser perfeccionistas geralmente para agradar ao outro, para não demonstrar nossas fragilidades ao outro, porque temos medo, às vezes vergonha.

Isso pode ser um processo consciente ou até mesmo inconsciente, da pessoa não estar percebendo que vem fazendo isso.

Estar ou ser, neste momento, perfeccionista em tudo que faz, e isso toma um tempo e uma energia muito grande da pessoa, é diferente do meu movimento de querer aprender, me desenvolver, de que posso ser melhor; isso é um movimento interno.

Mas quando eu sou perfeccionista, quando eu quero só o melhor de mim, eu estou preocupado com o que os outros vão pensar, aí estou fora do meu interior, de mim mesmo, e estou focado(a) no que o outro vai pensar ou dizer, se vou agradar ou não! 

Por um bom tempo das nossas vidas, para a grande maioria da pessoas, nós tendemos a dar mais valor para o que existe externamente, ao outro e a opinião e ao que está na moda, do que a nós mesmos, nossas sensações e percepções. Buscamos lá fora coisas que nos preencham como pessoas e vão nos indicando quem somos nós, do que devemos gostar, do que podemos fazer ou não.

Mas, aí vem o distanciamento social, e eu não tenho mais para onde correr, e a minha morada interna de certa forma vai ser vista e percebida.

Reconhecendo a nossa Morada Interna

Uma frase que tenho ouvido bastante é: ‘Poxa, tudo aquilo que eu sentia, que eu fazia, que eu era… agora me dei conta que não significava aquilo que eu pensava, o que sentia era outra coisa.’

Olhar para nós mesmos é como se estivéssemos olhando para um espelho. Mas não este espelho comum que vai mostrar nossa aparência. Olhar para nós mesmo é como se estivéssemos olhando para o espelho da alma, que enxerga a alma, e não a nossa aparência. O distanciamento social fez isso com as pessoas: ele nos coloca para dentro da nossa morada interna, além da nossa casa física.

Olhar para nós mesmos é olhar também para nossas vulnerabilidades, para nossas qualidade e para aquilo que parece não estar tão bom assim. Olhar para várias questões, emoções e sentimentos que eu não sentia tanto, ou não me dava conta do que estava passando antes.

O que não nos damos conta é que muito da nossa identidade existe ali naquela vulnerabilidade. A vulnerabilidade nos conecta! O que eu quero dizer com isso? O meu medo, as minhas inseguranças, as minhas angústias são minhas e também existem nas outras pessoas.

Algumas vão ter mais consciência disso tudo, e outras um pouco menos consciência deste sentimento, destas questões que existem dentro de nós. Às vezes é muito mais fácil vermos a vulnerabilidade no outro do que em nós mesmos. Causa estranhamento nos perceber assim, mas quando percebemos no outro isso facilita o entendimento.

O que fazer então?

Esse caminho de nos olharmos e reconhecermos o que existe dentro da gente, e muitas vezes nos percebermos perdidos é comum. Nessa situação de distanciamento social, muitas pessoas falam que tem milhões de coisas para fazer em casa, mas se sentem perdidas, não sabem por onde começar. Muitos são os que planejaram ler diversos livros durante a quarentena, e acabaram não lendo nenhum.

É porque tudo isso também diz muito da nossa bagunça interna. Quando entramos em contato com a gente, temos diversas necessidades surgindo e lidar com isso pode ser difícil. Isso não é uma percepção só sua, é do outro também e de todos, é humano.

Você pode me perguntar agora:

  • ‘Qual a maneira mais rápida que eu tenho de lidar com isso?’
  • ‘Como fazer para que esses sentimentos ruins que estou percebendo dentro de mim vão embora rapidamente?’
  • ‘Como eu faço para ficar bem e seguir?’

Você precisa refazer essa pergunta! Vamos nos perguntar: ‘O que são esses sentimentos ruins? Por que é que eles estão aí? O que eles querem dizer sobre nós mesmos?’

Precisamos mesmo ter uma alta dose de autoconfiança e coragem para olhar para dentro de nós, para olhar para aquilo que existe na nossa morada interna.

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