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Quantas vezes no último mês você reclamou do seu trabalho? E quantas vezes, neste mesmo período de tempo, você já parou para se preocupar com a sua saúde mental enquanto trabalha? Nem sempre estas reações estão equilibradas não é mesmo?!
Por vezes, nos acostumamos com o trabalho cansativo, estressante ou até mesmo tedioso, mas não pensamos muito em como podemos melhorar nossa qualidade de vida aprendendo a lidar com as emoções que surgem enquanto estamos trabalhando. Ou, a reconhecer e compreender porque estes sentimentos e emoções estão presentes, neste momento em nossas vidas.
O estresse relacionado ao trabalho pode tirar o melhor de todos nós. E-mails, mensagens na hora da folga, telefones tocando rapidamente, seu colega de trabalho aparecendo para uma reunião improvisada – é o suficiente para acentuar seu cansaço.
Sentir alguma tensão é normal, especialmente se você estiver enfrentando um prazo iminente de entrega de algum projeto, ou tendo que encarar uma tarefa desafiadora. Porém, quando o estresse no trabalho se torna crônico, pode acabar afetando seu bem-estar físico e emocional.
Experimentar a tensão no trabalho é inevitável – mesmo se você gosta do que faz -, mas existem algumas medidas que você pode tomar para reduzir o estresse nesta parte do seu dia. E acredite, estamos cada vez mais ocupando grande parte do nosso dia com o trabalho, então esse assunto é mais do que importante, é urgente.
Esteja ciente de como suas emoções estão sendo afetadas no trabalho
Isso pode parecer simples, mas é muito mais fácil do que se imagina, subestimarmos o quanto o estresse nos afeta. Comece a anotar cada vez em que você se sentir emocionalmente exausto(a) e pessimista até o final do dia.
A exposição a longo prazo ao estresse não gerenciado pode afetar seu corpo e sua saúde mental, recentes pesquisas sugerem uma ligação potencial entre o esgotamento relacionado ao trabalho com a depressão e a ansiedade.
Identificar e registrar situações estressantes pode ajudá-lo a entender o que está incomodando. Algumas delas podem ser fontes sutis de tensão, como um espaço de trabalho desconfortável ou um longo trajeto até a empresa.
Uma dica é manter um diário por 1 semana para rastrear seus gatilhos de estresse e suas reações a eles. Certifique-se de incluir as pessoas, lugares e eventos que lhe deram uma resposta física, mental ou emocional.
Enquanto escreve, pergunte-se:
- Como isso me fez sentir? (Medo, raiva, mágoa?)
- Qual foi minha reação? (Saí para tomar um café depois ou dei uma volta?)
- Existe alguma maneira de resolver? (Como posso encontrar soluções para esse estressor?)
Conhecendo cada momento que mexe com sua emoções, fica mais fácil entender que você precisa também de algum tempo para recarregar suas energias. Separar até alguns minutos de tempo pessoal durante um dia agitado pode ajudar a evitar o desgaste.
Ouvir um podcast interessante entre as reuniões ou assistir a um vídeo engraçado do YouTube pode proporcionar pausas relaxantes ao longo do dia. É muito importante também, fazer pausas e parar de pensar em seu trabalho, não verificando e-mails nas folgas ou deixando o telefone em modo avião depois das 20h, por exemplo.
Aprenda a gerenciar o seu tempo
Muitas vezes, quando nos sentimos oprimidos pelo trabalho, é possível que estejamos refletindo a nossa desorganização ou falta de aprimoramento nisso. Você pode configurar uma lista de prioridades no início de sua semana de trabalho, preparando tarefas e classificando-as de acordo com a importância.
Você já deve ter ouvido falar em procrastinação, que nada mais é do que ir adiando tarefas importantes o máximo possível, e ocupando o tempo com tarefas muitas vezes pouco produtivas. A procrastinação é um problema da sociedade contemporânea e tem afetado muito as relações humanas, sejam estas pessoais, sociais ou de trabalho. Principalmente, porque não se trata apenas de atraso em entregas ou de diminuição da produtividade, mas sim de como o ato de procrastinar tem afetado a saúde mental dos trabalhadores.
A procrastinação, a atitude de deixar para depois, existe em todos nós, pois faz parte do ser humano que somos, o que é importante compreender é o desafio que temos de não nos deixarmos levar por essa atitude. Por isso, não se sinta culpado se está procrastinando, mas tenha a consciência de não se deixar levar pela procrastinação a ponto de perder seus compromissos pessoais ou profissionais e até às suas metas de vida.
Em muitos casos quem procrastina, acaba sofrendo muito com isso. A pessoa, por algum motivo, está evitando enfrentar aquele momento duro de realizar uma tarefa, seja porque não quer realizá-la, seja por se sentir sem capacidade, medo do julgamento ou até mesmo por estar passando por problemas como a depressão. O fato de adiar uma tarefa importante acaba aumentando a ansiedade desta pessoa, a deixando com sentimentos de frustração e decepção consigo mesma.
A procrastinação encontrou grandes aliados que são as redes sociais. Tudo parece melhor e mais prazeroso na rede social, e estes lugares acabaram virando os principais pontos de fuga de quem está procrastinando. Tente fazer uma pesquisa pela #procrastinando no Twitter ou no Instagram, e surpreenda-se com o que pode encontrar.
Por todos esse motivos, a procrastinação pode acabar virando um dos principais problemas para as empresas nos próximos anos, afetando o modo de trabalho e o significado de produtividade que temos hoje em dia. Os responsáveis pelos recursos humanos e líderes precisam estar cientes desse fato e de que procrastinar é um problema que pode ser gerado por questões emocionais que os funcionários já tinham quando foram contratados ou que acabaram desenvolvendo no ambiente de trabalho. Por isso a necessidade, cada vez maior, das empresas serem parceiras do desenvolvimento psicológico de seus funcionários e a estimular a procura pela psicoterapia.
É importante considerar o papel das empresas na saúde mental dos seus trabalhadores. “No campo psíquico, levando em consideração o destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo fonte de garantia de subsistência e de posição social, a falta ou até mesmo a ameaça de perda de emprego geram sofrimento psíquico, pois ameaçam a subsistência e a vida material do trabalhador e de sua família. Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui, gerando sentimentos de menos valia, angústia, insegurança, desânimo e desespero, caracterizando quadros ansiosos e depressivos.Ter um trabalho que você possa ser livre para utilizar suas habilidades de trabalho e ter maior controle sobre suas tarefas previne adoecimento (QUEIROZ, 2014, p. 8-13)”.
A partir das inúmeras transformações da 4ª Revolução industrial, está cada vez mais claro a importância da empatia, da autonomia dos colaboradores, da horizontalidade da gestão para a produção de um ambiente de trabalho saudável, vinculado ao desenvolvimento humano dentro da empresa.
Podemos estar sendo sucumbidos por um trabalho que nos adoece. É importante refletir sobre o sentido que o trabalho está tendo na sua vida e como pode gerenciá-lo melhor, ou tomar decisões quanto a ele. A compreensão sobre o que se passa emocionalmente em relação ao prazer e o sofrimento no trabalho pode prevenir o adoecimento psíquico.
Equilibre seu trabalho e sua vida pessoal
Estar disponível o tempo todo para o trabalho pode atrapalhar sua saúde mental mais facilmente. É importante criar limites claros entre o trabalho e a vida doméstica para ajudar a evitar um possível estresse.
Parte disso significa reservar um tempo para socializar e estabelecer regras para quando você verifica e-mails, responde mensagens ou atende telefonemas. Outro ponto muito importante é manter contato com amigos e familiares de confiança para ajudar a lidar com situações estressantes de trabalho. e de preferência que não sejam colegas de trabalho.
Ter pessoas nas quais você pode confiar durante os tempos difíceis pode aliviar parte da tensão acumulada, mas que acima de tudo, mostram que o trabalho é só mais uma parte da sua vida, e não a sua vida por inteiro.
Uma frase clichê que ouvimos por muito tempo foi:
“Tenha um trabalho que ame, e nunca mais você vai precisar trabalhar na vida!”
Esta frase por muito tempo foi utilizada como motivadora para que encontrássemos nosso propósito de vida. Porém, trata-se de uma frase que pode aumentar seus níveis de ansiedade e sua insatisfação com o trabalho.
O primeiro problema desta sentença é atribuir um significado pejorativo à palavra trabalho. “Nunca mais precisar trabalhar na vida” neste contexto significa dizer que se você encontrar um trabalho que ame, todas as partes chatas do seu trabalho vão sumir. E nós sabemos o quanto isso não é verdade. Não importa se você ama cantar, cozinhar, costurar, falar, escrever, fazer cálculos, curar pessoas, cuidar de um jardim ou produzir um artesanato, seja qual for o seu trabalho, ele sempre vai vir carregado de momentos de satisfação e de momentos estressantes. É impossível passarmos ilesos por uma semana de trabalho em que nada nos preocupou.
O segundo problema está no encontrar um “trabalho que ame”. Você já parou para pensar quantas pessoas, ao lerem esta frase, se perguntaram sobre o que realmente amam fazer?! Imagine nossa personagem que tem 32 anos, casada e com duas filhas pequenas, trabalha como assessora contábil, é extremamente competente no que faz, tem facilidade para executar suas tarefas, e recebe um valor justo como salário. Mas o que mais ama na vida é decorar a sua casa.
Ela ama comprar objetos novos, redecorar os ambientes, visitar lojas de produtos para casa, cuidar do jardim, ama promover almoços e jantares e receber as pessoas em casa. Ao ler esta frase ela pode pensar que o certo então seria largar o emprego que tem há 10 anos e virar decoradora de interiores. Ao mesmo tempo, ela pensa que não gostaria de fazer isso na casa de outras pessoas, e nem saberia como lidar com clientes e desejos com preferências muito diferentes do seu estilo. Ela pensa que teria que enfrentar outra faculdade, outros cursos, teria que lidar com funcionários, recomeçar, e desiste da ideia já nos pensamentos.
Porém, o fato de achar que aquilo é o que ela ama fazer fica martelando em sua mente. Na segunda-feira quando volta para o trabalho e encara uma pilha de balancetes complicados a serem feitos, ela desanima. Leva muito mais tempo para fazer a tarefa, o que antes completava em poucas horas. Sai do trabalho cansada, triste e começa a acumular dia após dia, a ansiedade proveniente de achar que ela não trabalha com o que ama.
Este é só um exemplo fictício de como podemos misturar de forma muito fácil trabalho com hobby. E achar que nosso hobby precisa ser nosso sustento. Se o seu hobby é o seu trabalho, tudo bem, não há problema nisso! No nosso exemplo, a personagem em questão tem talento para a contabilidade, sempre fez tudo muito bem, porém nas horas de lazer, cuidar e decorar a casa a deixa extremamente feliz. Isso não significa que este precise ser o trabalho dela. Trata-se apenas da sua válvula de escape. Depois de uma semana cheia, em que precisou trabalhar extremamente concentrada com números e cálculos, visitar uma loja e comprar novas almofadas é só um momento de relaxamento. Se ela transforma seu momento de alívio em trabalho, o que fará nas horas livres? Afinal, ninguém faz balancetes contábeis para relaxar não é mesmo?!
Trabalho e lazer não precisam se misturar. Você pode amar futebol, corrida, séries, videogame, plantas, livros, marcenaria, pintura, cavalos, e tantas outras coisas, mas nada disso precisa ser o seu trabalho. E o fato de não trabalhar com nenhuma das suas paixões também não faz do seu trabalho um fardo. Se você executa suas tarefas com vontade, se sai do trabalho com a sensação de dever cumprido, e sente-se satisfeito(a) com seu crescimento profissional, é sinal de que está tudo certo; e de que você pode seguir trabalhando e aproveitando seus momentos de lazer com aquilo que adora fazer.
Se precisar, procure ajuda!
Você não precisa ter um agravante de saúde mental para experimentar a psicoterapia. Sentir-se sobrecarregada(o) no trabalho é uma razão perfeitamente válida para procurar ajuda.
Trabalhar com um psicoterapeuta pode te ajudar a identificar melhor as fontes de estresse no trabalho e a encontrar maneiras de lidar melhor com elas. As sessões de psicoterapia também podem ajudar a desenvolver estratégias para sair da bolha de estresse e insatisfação enquanto aprende a procurar respostas para suas emoções.
Referência
QUEIROZ, Suelen. Transtornos mentais relacionados ao trabalho. São Paulo, V. 3, 2014.
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Encontrei o Artigo por coincidência em uma pesquisa através
do Google. Interessante artigo