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Ontem falamos sobre os benefícios de ser ouvido e sobre a nossa capacidade de ouvir de forma empática o outro. Hoje gostaria de refletir sobre como podemos desenvolver uma relação de ajuda. Frente às incertezas, adversidades que vivemos, todos estamos em risco de alguma forma.
A vida é um risco! Será que estamos todos nos sentindo mais vivos?
Na época da minha faculdade tinha uma professora que dizia: “não se enganem, a vida não é um moranguinho, muito menos um chocolate!”. Sobre o que ela estava dizendo?
Pés no chão, se relacione com a tua realidade, esteja presente e aberto, a vida não é estática. Diante do que vivemos na atualidade precisamos estar mais conscientes do que nunca de nós mesmos e da nossa realidade, o mundo que conhecemos já não existe mais, não do mesmo jeito.
Pensando sobre isso, como poderei me conectar ao outro, a fim de ajudá-lo a estar mais próximo da sua realidade e da vida?
Sigo com as reflexões de Carl Rogers, do livro “Torna-se pessoa”:
“Como posso proporcionar uma relação que essa pessoa possa utilizar para o seu próprio crescimento pessoal? Se posso proporcionar um certo tipo de relação, a outra pessoa descobrirá dentro de si a capacidade de utilizar essa relação para crescer, e mudança e desenvolvimento pessoal ocorrerão”
E quais seriam estas características?
A primeira característica apresentada por ele é ser genuíno, isto significa que devo estar consciente de meus próprios sentimentos, o mais que puder. Quanto maior a consciência de mim mesma(o) na vida, do que sinto, das minhas atitudes, comportamentos sobretudo da minha vulnerabilidade como humana(o) maior será a minha condição de estar com o outro. Mas o que significa estar vulnerável? Estar vulnerável significa estar na vida, correndo riscos, significa aceitar ser quem se é e permitir que a outra pessoa veja. Se permitir ser visto é estar vulnerável.
Como diria a autora Brené Brown “Abrir mão de nossas emoções por medo de que o custo seja muito alto significa nos afastarmos da única coisa que dá sentido e significado à vida. Sentir é estar vulnerável”.
Carl Rogers diz ainda: “Ser genuíno também envolve a disposição para ser e expressar, em minhas palavras, comportamentos, os vários sentimentos e atitudes que existem em mim. É somente assim que o relacionamento pode ter realidade, a realidade parece ser muito importante e como a primeira condição de uma relação de ajuda”.
Essa realidade implica em ser autêntico e transparente naquilo que sinto e que sou neste momento. Significa estar disponível para viver processos de transformação, sabe porquê? Quando estamos abertos para viver a realidade estamos também mais vulneráveis a conhecer novos aspectos de nós mesmos e que não conhecíamos antes. A partir da relação com as outras pessoas e com o mundo descobrimos muito de nós mesmos e vamos nos constituindo como pessoas, assim também acontece com o outro da relação.
Como segunda e terceira condição, é preciso que exista em mim um respeito e apreço pela pessoa do outro, uma compreensão da outra pessoa como alguém de valor, independente de sua condição, de seu comportamento ou de seus sentimentos. Uma aceitação do seu jeito de ser sem impor condicionalidades. Formamos uma base segura para que o outro se expresse quando conseguimos considerar o seu valor como humano numa vontade e disponibilidade de compreendê-lo a partir da sua maneira de perceber e sentir o mundo.
Constituir uma relação livre de ameaças ou julgamentos de valor em que o outro possa ter a liberdade de se apresentar do seu jeito e se sentir cada vez mais profundamente a ponto de experimentar em si a liberdade de ser quem se é.
Esta forma de relação pode estar presente em qualquer ambiente onde há pessoas, grupos, em relações de casal, familiar entre pais e filhos, nos grupos de trabalho, amizades, comunidade, na educação, nas empresas…trata-se de uma relação na qual pelo menos uma das pessoas envolvidas busca promover na outra a sua potencialidade de crescer e se desenvolver rumo a maturidade e uma maior capacidade de criar estratégias para enfrentar as adversidades da vida.