Cuidando da sua saúde mental em 2020

Tempo de leitura: 10 minutos

Estar em sofrimento psicológico não deve ser uma sentença de que a sua vida está perdida e que não tem mais nada a se fazer para mudar a forma como se sente.

Estar adoecido emocionalmente, não significa dizer que você não é alguém saudável. Uma doença, seja ela física ou mental não nos define como pessoas.  

Imagine quando você encontra um familiar, um amigo ou colega de trabalho e esta pessoa está resfriada. Você não sai por aí dizendo que essa pessoa é doente, não é mesmo?

Você entende que ela está passando por uma situação e que em breve este resfriado passa. Não podemos aqui comparar a intensidade dos danos causados por um resfriado e por um problema de saúde mental, mas é uma maneira de mostrar que sofrer emocionalmente por várias situações da vida é algo inerente de todo ser humano, que pode ou não se manifestar por meio de sintomas, conforme o momento da vida daquela pessoa, mas que não a define.

Os sintomas de adoecimento emocional quando aparecem, muitas vezes  são tentativas do nosso organismo de manutenção e equilíbrio do nosso bem estar. Eles servem de alerta para prestarmos atenção no que está acontecendo conosco.

Cardella (2009, p. 183) cita que “os sintomas podem expressar necessidades psíquicas não percebidas ou atendidas. Eles sinalizam nossas faltas, nossos excessos, chamando-nos para atentarmos a nossas prioridades que nem sempre somos capazes de discriminar”.

Esta aceitação é muito importante para evitar o preconceito. A linguagem e a percepção em torno das questões emocionais são tão negativas, e é por isso que ainda há tanto estigma. Mas não precisamos ouvir e concordar com tudo.

O fato é que ainda existem pessoas hoje em dia que acreditam que alguém em sofrimento emocional terá uma vida permeada por dias problemáticos e incapacitantes. Este estigma faz com que as pessoas percam empregos, desmanchem relacionamentos, se isolem e principalmente, evitem falar dos seus problemas para alguém ou peça ajuda. 

Estar em sofrimento emocional ou ter alguma doença mental não é automaticamente uma coisa negativa e sinistra à espreita nas sombras, pronta para arruinar toda a nossa existência.

Realmente há problemas e limitações que a pessoa pode enfrentar, mas há também o entendimento, o tratamento e a busca por novas condições que pode ser muito gratificante. E sim, todos nós, podemos ter uma vida gratificante e significativa,  com nossas condições emocionais.  

A inclusão do nosso sofrimento, de nossas fragilidades e vulnerabilidades como parte de quem somos pode nos fortalecer, nos tornar mais sensíveis e amorosos. 

O ano está só começando e se você quer se manter mentalmente saudável neste 2020 destaco alguns pontos que podem ser levados em consideração.

Você não é a sua doença!

Para além das doenças mentais, a saúde mental significa o cuidado para com as nossas emoções, sentimentos e pensamentos de maneira geral.  De forma a prevenir o adoecimento. 

Cuidar da saúde mental significa compreender o que sentimos,  nossas potencialidades e fragilidades de forma a sabermos quem somos e o que queremos.
 
Sem desconsiderar as contribuições da genética, do ambiente e do contexto psicossocial, você pode cuidar da sua saúde mental bem antes de uma doença mental, como a depressão, se desenvolver. Vou citar dois exemplos:

1- prestando atenção aos sinais emocionais que você pode estar sentindo, como por exemplo: aumento da sensação de medo por coisas que antes você não sentia, angústia, tristeza constante, insatisfação com a vida, trabalho, estudos; aumento do estresse, insônia, ansiedade, entre outras.

2- buscando se conhecer e compreender quem você é antes dos sinais aparecerem. Como uma forma de desenvolvimento pessoal, encontrar a sua singularidade – o que há de único em você que não há em mais ninguém? O que te torna uma pessoa única no mundo? De que maneira você poderá desenvolver o seu potencial criativo e espontâneo como ser humano? A busca por estas respostas pode ser encontrada pelo autoconhecimento. Com isso ficará mais fácil reconhecer os sinais e sintomas do seu organismo, quando este não vai bem. Afinal a vida é cheia de altos e baixos e não será nada fácil passarmos por ela ilesos de sofrimentos.

 A psicoterapia é uma forma de cuidado psicológico, de ampliar a consciência que temos de nós mesmos, sobre o que sentimos, na medida em que vamos vivendo experiências na vida e dando significado a elas. 

É  possível ter uma vida mais saudável emocionalmente e ser mais satisfeito compreendendo o que faz sentido para você!

Muitas pessoas com mentes brilhantes e criativas sofreram uma série de doenças mentais. Vincent Van Gogh tinha transtorno bipolar e criou a fascinante pintura “A Noite Estrelada”. 

O famoso compositor Ludwig Van Beethoven tinha transtorno bipolar, de acordo com alguns biógrafos. Quando jovem, sofreu muito com o pai – que o agredia fisicamente e o pressionava a estudar música. A constância das agressões contribuíram para que ele perdesse a audição. Beethoven tinha períodos de grande excitação e energia , seguidos de momentos de extrema depressão. Para se ver livre das crises, usava drogas e álcool.

Isaac Newton foi um dos maiores gênios de todos os tempos. Ele inventou o cálculo integral, desenvolveu a Lei da Gravidade e construiu o primeiro telescópio refletor. Mas, apesar do brilhantismo, era conhecido por seus transtornos mentais. Newton era uma pessoa de difícil convivência e apresentava mudanças drásticas de humor. Alguns autores sugerem que ele tinha transtorno bipolar e esquizofrenia.

 Toda vez que você sentir que não pode fazer algo por causa de uma dor emocional, uma limitação emocional pense que isso não define quem você é na totalidade – você não é um diagnóstico! Se possível, tente ver isso não como algo que te impeça de sobreviver, mas como um catalisador para o seu talento e para seu ofício. 

…Só o sofrimento me instrui, 

Quando me recordo de mim… 

 E toda mágoa se dilui,

Restando a vida sem fim.

(Cecília Meireles).

Você tem direito a estar bem! 

Seja gentil consigo mesmo. Isso vai desde não deixar de lado suas sessões de psicoterapia, como também não deixar de viver momentos que você gosta e que te dão a sensação de que tudo está bem.

Para alguns isso é um banho logo que acorda, para outros é um chá no final do dia, há quem fique feliz tomando um longo café em família, outros preferem festas com muitas pessoas e música, outros jogar videogame, assistir uma série e há também quem precise relaxar sozinho no parque enquanto lê um livro. 

Durante o tempo em que você estiver enfrentando qualquer dor emocional, manter seus rituais de autocuidado pode ajudá-lo. Esta aliás, pode ser uma das melhores metas para 2020. Neste ano, você pode começar a cultivar suas próprias práticas de autocuidado.

Refletir sobre o que lhe traz felicidade e o que está sabotando seu caminho para a autorrealização também pode auxiliar. Nossos sofrimentos, nossas dores emocionais quando compreendidas por nós, conscientizadas, tornam-se aliados do nosso crescimento e realização pessoal e profissional.

Você é mais resiliente do que imagina! 

Geralmente, quem está sofrendo tende a se concentrar em todas as experiências dolorosas da vida e esquece o quanto pode ser resiliente. A psicoterapia pode ajudar você a compreender o que os sintomas dizem sobre você. 

Em uma relação terapêutica não encontramos respostas prontas para as nossas questões, mas há possibilidade de criarmos um jeito próprio de viver, singular/único. Visa buscar um sentido para o sofrimento e compreender o que ele significa na sua existência e como pode utilizá-los para o seu crescimento e desenvolvimento como pessoa.

 Todos deveríamos entender como pode ser difícil para uma pessoa com depressão o simples ato de tomar um banho, ou como alguém com transtorno bipolar pode sofrer depois de falar algo que não queria para um ente querido. São dores dilacerantes que podem ter graves consequências.

Quem passa por isso todos os dias, e consegue se manter é muito mais resiliente do que imagina. Entender essa capacidade de lidar com os fatos e com o sofrimento emocional pode ser a mola propulsora para que, se você estiver passando por isso, não deixe de buscar ajuda e se mantenha firme no tratamento. 

2020 não será um ano com 366 dias bons!

Embora devamos entrar em 2020 com uma perspectiva positiva, não há como controlar os eventos ou acontecimentos que irão acontecer em nossa vida durante o ano e nem o que vamos sentir ou reagir diante deles.

A imprevisibilidade, a imperfeição, a incerteza da vida pode nos deixar angustiados, com sentimentos desagradáveis, no entanto esta mesma angústia pode ser a chave para encontrar caminhos mais significativos e cheios de sentido.

Isso significa dizer que quando paramos para reconhecer, acolher e compreender o significado desses sentimentos em nossa vida, podemos assim ressignificá-los. Afinal, toda pessoa possui dentro de si potencial e vastos recursos para ir ao encontro de um desenvolvimento integral e saudável (ROGERS, 1983). 

Existem muitos obstáculos que impedem o bem-estar emocional, mas no curso da vida é preciso continuar lutando por si mesmo. Isso pode significar procurar um terapeuta, mudar seu trabalho ou cercar-se de pessoas diferentes. Qualquer que seja a luta, você deve continuar no seu caminho para viver bem, mesmo que esse caminho não seja o mais fácil. 

Não é fácil percorrer o caminho da saúde mental ou admitir que você está em uma difícil batalha. Se você está enfrentando ansiedade, medo constante, alterações de humor, depressão ou qualquer outro questão de saúde mental – entenda que você está passando por isso neste momento, mas que isso não te define como pessoa – você tem isso, mas você não é isso! 

Saiba que há beleza no meio da dor, e haverá beleza e dor este ano e nos próximos também. Lembre-se de que todo ano novo pode ser uma lousa em branco: uma chance de começar de novo, reformular o passado e criar estratégias para o futuro. Mas não deixe que a esperança e o desejo de felicidade se torne mais um fardo. Encontre o seu caminho!

Referências

ROGERS, Carl R.. Um Jeito de Ser. São Paulo: EPU, 1983.

CARDELLA, Beatriz. Laços e nós: amor e intimidade nas relações humanas. São Paulo: Ágora, 2009.

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