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No último Dia Internacional da Mulher a nossa realidade era totalmente diferente. Naquele mundo de 8 de março de 2020 podíamos focar em falar sobre respeito, igualdade e avanços para as mulheres. Podíamos nos reunir em grupos e até mesmo o nosso significado de liberdade era outro.
De repente, eu, você e diversas outras mulheres começamos a sentir falta de energia, cansaço, insônia, tristeza e jornadas de trabalho imensas. Preocupações com a nossa saúde, com a saúde de quem amamos e de todos
É como se não tivéssemos mais tempo, entre uma higienização das mãos e colocar uma máscara, em pensar e refletir sobre as desigualdades e os dilemas da mulher.
A pandemia deixou todo mundo mais vulnerável, mas as mulheres sofrem mais com falta de perspectivas e incertezas quanto ao futuro. Isso porque geralmente as mulheres possuem uma tendência maior a extrapolar seus limites e também a se preocupar com o destino de mais pessoas.
Um estudo realizado entre maio e junho de 2020 com homens e mulheres de várias regiões do país mostrou que as mais afetadas emocionalmente pela pandemia foram as mulheres, respondendo por 40,5% dos sintomas de depressão, 35% de ansiedade e 37,3% de estresse.
Na semana em que as atenções estão todas voltadas para as mulheres, eu trago cinco dores que as mulheres podem passar, em diferentes fases da vida, e que podem afetar a sua saúde mental de alguma maneira.
Adolescentes: o dilema da escolha profissional
Você que é mulher, teria escolhido a mesma profissão se fosse homem?
Já parou para pensar como o gênero influencia nas nossas escolhas profissionais?
Em um mundo em que a construção de gênero ainda é feita com base em coisas que são de menino e coisas que são de menina, a hora de escolher uma carreira não seria diferente.
A maioria de nós fomos criados dentro de um ambiente familiar, escolar e social que delimitava quais eram as opções acessíveis para uma menina e um menino. É por isso que sempre nos causa espanto quando vemos uma mulher exercendo uma tarefa predominantemente exercida por homens, e o contrário também acontece.
Para além da questão da escolha da carreira, as mulheres quando adolescentes ainda são levadas por diversos outros fatores externos que acabam interferindo no seu processo de decisão sobre o seu futuro.
É comum vermos meninos tendo uma rede de suporte na hora do seu desenvolvimento acadêmico que meninas não possuem. E isso vai desde tarefas domésticas que precisam fazer enquanto estudam até apoio dos familiares na suas escolhas.
Infelizmente a rigidez estrutural dos ambientes escolares, acadêmicos e profissionais não são tão facilitadores para a vida das mulheres.
Temos que lembrar da importância de apoiarmos meninas adolescentes na hora de escolherem suas carreiras e que essa escolha deve ser feita apenas com base nas suas aptidões, talentos e vontades.
Se lugar de mulher é onde ela quiser, o lugar da adolescente na sua escolha profissional, e da mulher adulta que está passando por uma reconfiguração de carreira, precisa ser um lugar de livre escolha.
Como a depressão afeta as mulheres de forma diferente?
A depressão não é apenas um breve período em que você se sente triste ou desanimado com alguma coisa. É um transtorno de humor grave que pode afetar sua vida diária. E nem sempre é fácil reconhecer ou tratar. Você pode nem perceber que está lidando com depressão até sentir os sintomas por um longo período de tempo.
Embora possa acontecer com qualquer pessoa, as mulheres sofrem de depressão quase duas vezes mais do que os homens. As mulheres também tendem a ter depressão de maneira diferente dos homens.
Homens e mulheres tendem a apresentar diferentes sintomas de depressão. Algumas dessas diferenças resultam das diferenças hormonais entre homens e mulheres.
As mulheres experimentam mudanças hormonais dramáticas durante:
* menstruação
* gravidez
* parto
* menopausa
Outras diferenças podem ser causadas por normas sociais diferentes para homens e mulheres. Enquanto os homens são estimulados a nem sempre compartilharem o que sentem, as mulheres tendem ser mais abertamente emocionais.
Essa tendência pode fazer com que homens e mulheres expressem seus sentimentos de depressão de maneira diferente, com base no que acreditam ser socialmente aceitável que façam ou digam.
Para expressar seus sentimentos, os homens podem:
* mostrar raiva
* culpar as pessoas ao seu redor
* se envolver em brigas
* cultivar hábitos destrutivos como beber
Já as mulheres costumam:
* mostrar tristeza
* culpar a si mesmas
* voltar-se para hábitos pouco saudáveis, como comer emocionalmente
No entanto, todas as pessoas experimentam a depressão de maneira diferente, então você pode descobrir que seus sintomas não são facilmente classificados em nenhuma categoria.
Mulher e Mãe: as diferentes fases deste processo
A mulher pode ter sua saúde mental afetada de diferentes maneiras quando o assunto é maternidade. Algumas das situações mais comuns são:
- Querer ser mãe e não conseguir engravidar.
- Pressão da família ou do parceiro(a) para engravidar .
- Não querer ser mãe.
- Gravidez inesperada.
- Ser mãe muito jovem ou com mais de 40 anos.
- Depressão durante a gravidez.
- Depressão pós-parto.
- Mulheres que decidem fazer fertilização in-vitro.
- Mulheres que não podem ter filhos.
- Mães que desconfiam da sua capacidade de cuidar de um bebê.
- Excesso de zelo.
- Culpa por ter que equilibrar vida profissional com maternidade.
- Síndrome do ninho vazio.
- Alternância do papel de mãe, filha, esposa, irmã…
- Mulheres que passam por um processo de adoção, seja adotando, seja colocando um filho para adoção.
- Mulheres que sofrem um aborto.
Enfim, além disso existem inúmeras outras situações em que a maternidade pode afetar o equilíbrio emocional da mulher. É, sem dúvidas, um dos assuntos mais complicados para serem resolvidos na cabeça de qualquer mulher.
Por ser um assunto tabu e também uma particularidade da mulher, o fato de gerar vidas carrega uma carga histórica de comprometimento, culpa e cobrança em todas as mulheres. Mesmo as que decidem não ser mães passarão em algum momento por uma típica cobrança da sociedade sobre essa opção.
E o mais interessante é que como somos diversas, maternidade também acaba sendo um momento de maior sofrimento para algumas e de tranquilidade para outras.
O que toda mulher precisa entender é que a maternidade pode sim afetar sua saúde mental e isso não é sinal de fraqueza. Os casos de depressão e ansiedade que se originam por relações mal resolvidas da mulher durante a gravidez ou a criação dos filhos são muito comuns.
O sofrimento emocional por pensar sobre maternidade e pelas diferentes situações que uma mulher pode se encontrar dentro desse universo não deve ser ignorado e tão pouco esquecido. Os reflexos de não procurar ajuda podem causar problemas maiores futuros e transformar escolhas naturais da vida em doenças emocionais.
Crises da meia-idade nas mulheres
Há algum tempo, os profissionais de saúde mental vêm debatendo se as crises de meia-idade são reais. Afinal, o termo “crise de meia-idade” não é um diagnóstico de saúde mental reconhecido. E embora a maioria das pessoas possa dizer o que é uma crise de meia-idade, estudos mostram que a maioria das pessoas dificilmente relata ter passado por uma.
Não importa como o chamemos, um período prolongado de mal-estar e questionamentos entre 40 e 60 anos é quase universal em ambos os sexos. Os pesquisadores sabem há décadas que a felicidade atinge um ponto baixo na meia-idade antes de se recuperar à medida que envelhecemos.
A crise de meia-idade pode ser dar pela mudança relacional que as mulheres passam. A relação com o mundo e com as pessoas ganha outras cores e tudo pode ser questionado: carreira, sexualidade, relações com pais, mães, filhos e parceiros; e claro, a relação da mulher consigo mesma.
E isso pode ser emocional, social, fisiológico. Emocional porque é comum do ser humano se questionar em certas idades. As mulheres, mais por uma questão histórica e machista, de chegarem naquele momento em que parece que suas tarefas de mãe, esposa, filha, profissional, amiga… já foram cumpridas ou deveriam estar cumpridas.
Pode ser social, porque sabemos que a sociedade não trata da mesma maneira uma mulher com mais de quarenta anos e uma de vinte ou trinta anos. E pode ser fisiológico, porque o corpo passa por oscilações hormonais comuns que também acabam afetando as emoções.
O importante é saber que “Crise da meia-idade” pode ser outro nome para a dor emocional, exaustão, depressão ou ansiedade que podem afetar as pessoas por um período prolongado entre as idades de 40 e 60 anos. Se você estiver passando por algo parecido com isso procure ajuda psicológica.
Autoestima das Mulheres
É normal ter dias de baixa em que você sente que não consegue fazer nada direito. Mas sentir-se insegura consigo mesma o tempo todo pode afetar todos os aspectos da sua vida, desde a saúde física e o bem-estar emocional até o desempenho no trabalho.
Não se sentir bem o suficiente pode ser especialmente perigoso quando se trata de seus relacionamentos românticos, pois a torna mais sujeita a sentimentos de ansiedade. E isso pode afetar você e a satisfação com os seus relacionamentos.
A autoestima das mulheres é bombardeada o tempo inteiro com padrões e cobranças que podem levar a grandes problemas emocionais. A aparência é um dos pontos fundamentais para os problemas que envolvem a autoestima, mas hoje em dia, já se sabe que a autoestima feminina é também prejudicada por imposições, falta de espaço e pouco poder de decisão em alguns ambientes.
A percepção da mulher do seu próprio valor como humana ainda carrega todas essas dores descritas nesse texto em um mundo que não liga muito para o que o outro está sentindo, repleto de individualidade e pouca empatia.
A luta pode ser outra, mas é contínua
A luta por igualdade e respeito continua, de forma diferente, mesmo que em home office, mesmo tendo que sair todos os dias e arriscando sua vida. Seja você uma psicóloga no extremo oeste catarinense, uma dona de casa no Rio de Janeiro ou uma médica em Manaus, todas nós agora lutamos por algo mais valioso: nossas vidas.
Juntas teremos que vencer as sensações de desamparo, desespero e desesperança. Temos que enfrentar a violência doméstica, algumas de nós a solidão, temos que enfrentar a confusão nos olhos dos filhos, as novas relações, o novo mercado de trabalho, isso sem falar nos fatores externos.
Neste 8 de março de 2021, eu quero lembrar que cuidarmos da nossa saúde mental, e ajudarmos umas as outras a identificarem sintomas e a procurar ajuda é, talvez, a nossa maior e melhor luta hoje.
Feliz Dia Internacional da Mulher, estejamos juntas por um futuro melhor e que todas nós possamos ver esse futuro virar presente.