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Você já parou para pensar em como estamos necessitados de amores sinceros em nossas vidas? Amores sinceros nos relacionamentos de casal, nos relacionamentos familiares, de amizades, de colegas, de comunidade.
Durante a minha semana de trabalho, tem um dia da semana em que eu me desloco da minha cidade para outros municípios para realizar atendimentos psicológicos.
Eu gosto muito deste dia, pois é um dia que saio da minha cidade, vou dirigindo e curtindo a paisagem, curtindo as outras pequenas cidades que tem no caminho. Analisando essa nova configuração social, em que as pessoas estão saindo menos, estão menos nas ruas e no comércio.
Vou ouvindo aquela música que gosto bastante, enfim, é um momento em que vou curtindo esta viagem. Na semana passada, enquanto fazia esse trajeto, coloquei em uma pastinha com músicas mais antigas; e uma das músicas tinha uma frase que me chamou muita atenção, que me fez pensar sobre nossa vida e esse momento atual.
A música era do Roberto Carlos e da Jennifer Lopez, e tem o nome de Chegaste. Em certa parte da música, a Jennifer Lopez canta: ‘necessitava de um amor sincero’. E essa frase me tocou de um jeito que me fez pensar em como estamos necessitados de mais amores sinceros em nosso cotidiano.
Você pode escutar ou assistir o conteúdo deste post se preferir!
Analisando as nossas relações diárias
Sabe aquelas pessoas que encontramos ao longo do caminho que gostam da gente simplesmente pelo nosso jeito de ser?
Que apreciam nossas características mais pessoais. Aquelas que gostam da gente naquele dia que estamos de bom humor, mas nos dias de mau humor também. Pessoas que nutrem um carinho por nós independente de como somos: tímidos ou engraçados, extrovertidos ou não, pessimistas ou otimistas, gordos ou magros.
Aquelas pessoas que estão conosco ao longo da vida porque apenas gostam de estar, que apreciam a nossa identidade. E não se aproximam por intenções outras que não seja se relacionar com as nossas características mais pessoais, mais marcantes que tenhamos.
Reconhecendo minhas características pessoais
Ao longo da vida, tenho descoberto muitas relações sinceras e outras nem tanto. Todavia, não se trata de um problema das pessoas se aproximarem de mim com outras intenções. Mas sim do quanto eu estou consciente e conheço as minhas características mais pessoais; para então saber como eu vou me relacionar com o outro.
Vou dar um exemplo pessoal. Descobri que uma das minhas características pessoais é a solicitude. Eu sou uma pessoa que gosta de ajudar os outros, de estar presente, de dar atenção quando alguém precisa.
Porém, eu me relaciono com essa minha solicitude de um jeito em que as pessoas poderão se aproximar de mim pelo simples fato de que em algum momento eu poderei ajudá-las.
Isso não tem a ver, no meu caso, no motivo das pessoas se aproximarem de mim, mas sim, de como eu me dou conta dessa característica que existe no meu jeito de ser. Como eu vou me relacionar com essa informação em mim, para que eu consiga me relacionar com as pessoas, sabendo reconhecer os meus limites e a intenção da outra pessoa? E assim poder fazer uma ponte entre nós, de uma forma que possamos estabelecer um contato sincero.
E este problema não vai estar na intenção das pessoas, mas do quanto eu estou consciente da minha identidade, das minhas características mais pessoais, para que, tendo essa consciência eu possas estar com as pessoas de um jeito relacional saudável para ambos.
Ser o que realmente se é
Para Carl Rogers, ser o que realmente se é, implica em alguns componentes. Um deles é a nossa disponibilidade para conhecermos e estarmos conscientes das nossas experiências e estabelecermos uma relação amigável, próxima e afetiva conosco. E isso é uma construção que vamos fazendo ao longo da vida.
Eis aqui um dos grandes desafios: reconhecer nossas características mais pessoais para estar com o outro e nos relacionarmos com as características do outro, sem impor condicionalidades. Possibilitando, inclusive, que o outro se desenvolva, que o outro se identifique no seu jeito e maneira de ser a partir da nossa relação sincera, verdadeira, consciente do nosso jeito de ser.
Nos darmos conta e perceber nossas características não é tão fácil, pode ser muito difícil em alguma situações. Temos uma tendência em escondermos algumas características, emoções, sensações que nos despertam algum sentimento que nos ameaça de alguma forma. Leva-se tempo para irmos descobrindo essas características mais pessoais e como nos relacionamos com elas, mesmo aquelas mais ameaçadoras.
A relação com o outro a partir do nosso jeito de ser
A partir desse movimento de eu conseguir estabelecer uma relação mais próxima e consciente de mim, das minhas experiências, de quem eu sou; o próximo movimento é que a gente consiga reconhecer também isso no outro.
É quando nós conseguimos ser empáticos! Quando a gente consegue ver no outro suas características e aceitar como elas se apresentam de acordo com o seu contexto de vida e formação de pessoa.
Nas nossa relações pessoais, de maneira geral, nós temos o impulso de querer que o outro se adapte ao nosso jeito, de esperar que ele um dia mude e faça as coisas da mesma forma que a gente faz. E vivemos um pouco essa expectativa de amores sinceros, que o outro um dia vai se adaptar ao nosso jeito de ser.
Imagine isso em uma relação de casal, onde se espera que haja essa adaptação, para assim combinarem e assim, a relação dar certo. Mas quando eu faço isso (e geralmente fazemos) eu acabo por impor ao outro que as minhas características são melhores que a dele, e por isso ele precisa se adaptar; e vice-versa.
E acabamos por atropelar o nosso processo pessoal e o do outro. É somente quando eu tenho consciência de mim, de quem eu sou, do que eu sinto, das minhas características mais pessoais que fazem parte do meu jeito de ser, que será possível eu também reconhecer isso no outro.
Entender que pode existir um jeito de ser diferente, com características diferentes, que se relaciona com a vida e com o seu cotidiano de maneira diferente, inclusive sente e vive suas emoções de um jeito diferente.
É possível termos relações mais sinceras
Essa disponibilidade de me conhecer, saber mais de mim, estar mais consciente das minhas experiências, do que eu sinto e de quem eu sou; parece ser uma das chaves de aprendizagem dos relacionamentos.
Quanto mais consciente de mim, mais consciente do outro eu também estarei. E podemos descobrir que é possível aprender, um com o jeito do outro, a se relacionar sem impor condicionalidades, mas sempre em desenvolvimento. Para assim, construir relações mais afetivas, amigáveis e e verdadeiras na nossa vida, para termos mais amores sinceros.
Começamos assim, a construir, a partir de uma relação mais autêntica conosco, um processo de relações mais genuínas com o outro e também um processo de empatia: de reconhecer o que se passa com o outro a partir de quem eu sou.