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Todo mundo que já passou por algum tipo de ajuste em sua personalidade para se encaixar em fases da vida, como a adolescência, sabe o que é ser um camaleão social. Trata-se do modo que assumimos quando deixamos de lado nosso senso de identidade e começamos a mudar e a moldar nosso jeito de ser para poder se encaixar nos diversos grupos sociais que temos em nossas vidas.
Na maioria das vezes, essa transformação nos leva a algo que desejamos muito: a aceitação. Toda vez que somos aceitos, buscamos repetir essa experiência. A aceitação é um motivador poderoso em nossas vidas para que sigamos com determinados comportamentos ou atitudes. Quando esse senso mutável nos serve bem em situações da vida, acabamos normalizando isso e internalizando essa necessidade de ser alguém que se adapta.
Você pode assumir um certo perfil no trabalho, outro quando está com sua família e ainda outro quando passa tempo com os amigos. Alternar entre esses diferentes “eus” pode tornar ainda mais difícil descobrir sua verdadeira natureza e criar estresse para si mesmo.
Não há nada de errado em sermos adaptáveis, isso pode ajudar bastante em diversas situações. O problema está na adaptação que nos força a ser algo que está muito longe dos nossos sentimentos, do que gostamos… do que somos. A individuação, ou o processo pelo qual você desenvolve um eu único, começa na infância. Para se individualizar com sucesso, as crianças precisam de espaço para explorar, aprender e expressar necessidades e desejos. Se uma criança ao tentar se expressar, recebe críticas ou punições de pais, amigos ou qualquer outra pessoa de sua referência, ela pode passar a ignorar o seu senso interno de si mesmo. Pode parecer mais seguro e benéfico se remodelar em alguém que seja mais facilmente aceito ou, ao que os outros esperam que ela seja. Em busca de amor, de segurança emocional e afeto ao qual necessitamos para o nosso desenvolvimento psicológico e social, aprendemos, em muitos casos, a abrir mão de nossas características mais pessoas para nos “encaixar” ao mundo (campo social ao qual pertencemos) e sermos aceitos.
E como isso pode nos prejudicar?
Não ter um senso de identidade bem desenvolvido e passar uma vida inteira se moldando aos ambientes pode ter consequências na forma como fazemos nossas escolhas e na forma como reconhecemos nosso valor.
Suas escolhas precisam refletir seus interesses. Quando você passa a maior parte do tempo buscando aceitação, a primeira pergunta ao se deparar com qualquer opção é: serei aceito se escolher isso? Serei aceita se fizer isso? Vão gostar de mim se tomar essa decisão?
Se você não tem certeza se suas escolhas atuais refletem decisões suas, veja por outro ângulo: você faria as mesmas escolhas se estivesse sozinha(o)? Decisões baseadas principalmente em seus desejos e objetivos para si mesmo, geralmente refletem um forte senso de identidade.
A consciência dos valores pessoais também é outro ponto importante, pois ajuda a delinear seu senso de si mesmo. Os valores descrevem as características que você prioriza em si mesma(o) ou nos outros. O senso de identidade depende não apenas de reconhecer seus pontos fortes, mas também de acreditar em suas capacidades e potencialidades para alcançar seus objetivos. Sua auto-imagem também pode estimular o reconhecimento de seu próprio valor. Você não é perfeito ou perfeita (quem é?), não é o que lhe acontece, você é o que percebe de si mesmo(a) em um dado momento histórico e social, na sua relação com os outros e com a vida, e essa autopercepção é mutável. Você pode ampliar a sua compreensão de si mesmo a ponto de reorganizar o seu senso de identidade, ressignificando experiências e encontrando o seu valor mais pessoal e único.
Ser mais autêntico, passa pelo processo de auto aceitação e compreensão empática por si mesmo(a) e por sua história de vida, e, para que isso aconteça, em muitos casos, vamos precisar de ajuda psicológica.
O autoconhecimento torna mais fácil aceitar todo o seu eu, tanto as características das quais você se orgulha, quanto as que você gostaria de melhorar. Se você sentir insatisfação com certos aspectos de si mesmo, terá mais facilidade em abordar essas áreas quando tiver um forte senso de sua natureza e habilidades.