Vergonha e a Positividade tóxica

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Você já prestou atenção ao que sente ao olhar ou acompanhar por um tempo alguns perfis nas redes sociais, com pessoas desfilando vidas que parecem perfeitas, bem-sucedidas, esbanjando saúde, relacionamentos que dão certo, roupas, rostos e sorrisos impecáveis, cheios de positividade e que sempre tem uma receita para ser feliz? Já está exausto(a) de ouvir ou ler frases do tipo: “amanhã é um novo dia” ou “pense apenas em boas vibrações” e por aí vai?

Segundo especialistas em saúde, a positividade tóxica é “a imposição do pensamento positivo como única solução para os problemas, a generalização excessiva e ineficaz de um estado feliz e otimista em todas as situações e que resulta na negação, minimização ou invalidação da experiência emocional humana”. Como tudo o que é feito em excesso, quando a positividade é usada para encobrir ou silenciar outros aspectos do que sentimos diante das experiências que vivemos, ela torna-se tóxica.

Brock Bastian, da Escola de Ciências Psicológicas da Universidade de Melbourne, pesquisou o impacto que a busca pela felicidade pode ter no nosso bem-estar. Ele diz que embora valorizar a felicidade em si seja normal, a ideia de que precisamos manter esse nível de felicidade sempre ou estamos fracassando se tivermos emoções opostas é tóxica.

Por isso, quando acompanhamos perfis nas redes sociais, com receitas de positividade, podemos nos comparar e sentir vergonha e humilhação ao nos deparamos com o fato que a nossa existência é pouco parecida com aquilo tudo. E não é só na internet que isso se apresenta, nas nossas relações sociais também encontramos pessoas que vivem uma positividade tóxica, quando escutamos frases do tipo: “vai ficar tudo bem, não se preocupe”, “poderia ser pior, veja bem o meu caso…”, e por aí vai.

Quando estamos na nossa vida imperfeita, incerta, na nossa realidade, sentimos tédio, ciúmes, tristeza, medo, frustração, ficamos zangados, apavorados, podemos ter dias difíceis, momentos que não queremos levantar da cama ou ver alguém. Ao desconsiderarmos isso, como parte da nossa existência, acaba-se por ignorar a realidade, a nossa vida e a nossa humanidade. É por isso que a positividade tóxica pode nos fazer mal, pois gera a sensação de vergonha, vergonha da vida que levamos, com a sensação de sermos os únicos do mundo a estarmos passando por tudo que um ser humano passa.

As consequências disso, quando uma pessoa se sente obrigada a se sentir otimista e não consegue, é ela enfrentar a sensação de fracasso, frustração, isolamento e vergonha de si e da sua vida. Como se tivesse algo errado com ela. O sentimento de vergonha é tão sério que dificulta a busca por ajuda profissional, isso mesmo, segundo a Associação Norte-Americana de Psiquiatria é menos provável que as pessoas que se sentem frustradas procurem apoio profissional devido à vergonha que sentem de si mesmas.

Se comparar com as “vidas perfeitas e felizes” só vai fazer você se desconectar da sua existência, da sua realidade e das suas possibilidades de viver momentos felizes. É preciso coragem para assumir que nem sempre estamos bem, mas é justamente isso que nos possibilita a conexão com as outras pessoas e cria o senso de pertencimento no mundo.

Para ajudá-lo(a) a lidar com a vergonha na positividade tóxica seguem algumas dicas:

– Faça uma análise dos perfis que você segue nas redes sociais, perceba aqueles que não te fazem bem.

– Lembre-se, somos todos vulneráveis, vivendo vidas imperfeitas, com momentos de altos e baixos.

– A vida acontece no seu dia a dia, na realidade, não apenas no mundo on-line, por isso saia quando possível, tenha encontros presenciais com pessoas, amigos (as), familiares, pratique algum esporte ou atividade fora do ambiente online que te proporcione bem-estar e prazer. Como descobrir que atividades são estas? O processo de autoconhecimento pode te ajudar.

– Evite descartar o que sente ou esconder os seus verdadeiros sentimentos.

– Tente não se culpar por sentir o que você sente, principalmente quando os sentimentos são desconfortáveis ou “negativos”.

– Autoempatia também pode ajudar. Tente ser tão amável e respeitoso consigo mesmo, quanto o é com os outros.

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