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“O mundo é cheio de sofrimento. Também é cheio de superação.” Helen Keller.
Cada vez mais tenho admirado a nossa potência humana de lidar com as adversidades da vida, de aprender com elas e a evoluir. O quanto as pessoas são resilientes, do quanto elas aprendem com as suas dificuldades e de como superá-las. Nós, como humanos temos a possibilidade de lidar com o que nos acontece e de aprender a partir dessas experiências.
Falo de pessoas que tem um histórico de vida que passaram ou estão passando por situações de violências, abandono, perdas, doenças mentais e tantas outras condições que mesmo diante de tamanho sofrimento encontram saídas possíveis para suas vidas e tomam caminhos, fazem escolhas criativas e se desenvolvem.
Diante da pandemia, da situação econômica, social e ambiental que vivemos, é sabido que a próxima crise será a de saúde mental, inclusive já falamos por aqui sobre isso no texto “Crise global de saúde mental”. E a pergunta que não quer calar é: seremos capazes de nos adaptar, aprender e seguir em frente?
A pandemia pode nos tornar mais resilientes?
Tenho encontrado pessoas muito resilientes e com histórias de superação de experiências difíceis. São histórias de vida, de pessoas que encontraram saídas possíveis dentro das suas possibilidades e realidades e diante disso elevam a minha confiança de que podemos aprender com os nossos sofrimentos e com as adversidades.
Quanto temos de potencialidade para lidar com as nossas adversidades?
O que é Resiliência?
A resiliência origina-se do latim, que significa “ser elástico”, termo que foi utilizado na física e refere-se à capacidade de um material absorver energia sem sofrer deformação permanente. Resiliência, adaptada a condição humana, é a capacidade da pessoa de enfrentar as situações adversas e de ser transformado por elas de maneira que se tornam aprendizagens para a vida.
Pensar no termo resiliência me faz acreditar que não somos completamente determinados por aquilo que vivemos em nossa realidade social.
De uma perspectiva reflexiva em relação ao quanto nos transformamos com o que nos acontece, ao viver uma história de vida, por exemplo, cheia de acontecimentos difíceis e sofrimentos, temos duas escolhas: lamentar, fazendo suposições de como a vida poderia ter sido diferente mas não foi, ou olhar para esses acontecimentos e perceber que foi justamente a partir dessa experiência que possibilitou ser a pessoa que es hoje. Veja, a história não mudou, os fatos não mudaram, mas a perspectiva de olhar sobre eles sim.
Mas, vamos além, a resiliência não trata apenas de uma disposição individual, também diz respeito a capacidade de uma população, após um momento de adversidade (como a pandemia), de conseguir de adaptar e evoluir positivamente.
Pensando no mundo pós pandemia, como será a nossa capacidade de readaptação e superação das adversidades? O que vamos aprender a partir das situações que estamos vivendo hoje e que nos ajudarão nas situações futuras, pensando que não serão poucas as mudanças?
Que força é essa que nos faz resistir e a continuar a caminhar apesar dos dissabores, das dores, das adversidades?
Na Abordagem Centrada na Pessoa, desenvolvida por Carl Rogers, temos por base a confiança no organismo em atualizar-se e desenvolver-se em toda a sua potencialidade dentro de suas possibilidades, dadas condições facilitadoras. Então, se pensarmos no conceito de resiliência, ele por si só, está presente nesta forma de ver o humano. Todos somos resilientes, cada um à sua forma, alguns com maior facilidade de adaptação, outros menos, mas todos somos dotados de uma tendência inerente ao crescimento e à atualização, podendo dessa forma, a resiliência ser resultado de um contínuo processo de aprendizagens. Existe em todo organismo uma tendência natural de evolução.
“O ser humano é digno de confiança e possui a capacidade, latente ou manifesta, de compreender-se a si mesmo e de resolver seus problemas de modo suficiente para alcançar a satisfação e eficácia necessárias ao funcionamento adequado, tornando-se mais complexo e autônomo” (Rogers, 1977).
Estar na vida significa corrermos riscos e por mais que não saibamos quais serão as adversidades que vamos encontrar no caminho poderemos superá-las. Essa tendência existe em cada organismo vivo, imaginem essa capacidade somada quando estamos em grupo? Nossas redes de contatos, de vínculos nos ajudam a nos sentirmos parte de um todo. Quando estamos em relações saudáveis, facilitadoras do nosso crescimento, crescemos como pessoas e como grupo, como comunidade. Aqui está a potência de uma sociedade em passar pelos momentos difíceis, de transformações, mudanças, seja qual for a adversidade. A comunidade, os grupos aos quais fazemos parte podem nos ajudar, assim como, o próprio grupo por si só desenvolve a sua resiliência.
Como as pessoas sobrevivem às catástrofes ambientais, as epidemias, aos acontecimentos como por exemplo, o rompimento das barragens ocorridos nos últimos nãos aqui no brasil ou às guerras?
O que podemos aprender com os nossos sofrimentos?
Viktor E. Frankl em seu livro Em busca de sentido escreve: “o sentido da vida sempre se modifica, mas jamais deixa de existir. Sofrimento de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que encontra um sentido”. Ou como Espinoza “a emoção que é sofrimento deixa de ser sofrimento no momento em que dela formamos uma ideia clara e nítida”.
Pensar em nossa capacidade humana de aprender e a seguir em frente diante das adversidades que vivemos, também significa reconhecer que os sofrimentos nos ensinam. Por vezes, temos o costume de achar que os nossos sofrimentos são nossos inimigos, afinal, eles não são nada agradáveis de serem sentidos, não é mesmo?
A mudança pode nos causar dores, pois nos deixa expostos ao desconhecido, mas se estivermos sensíveis, abertos a viver às mudanças que estão ocorrendo e com uma rede de pessoas que se apoiam, será mais fácil lidar com elas de uma forma resiliente. Já que resiliência é algo que podemos desenvolver, seja sozinho, em nossa própria existência, seja em comunidade.
Como desenvolver a resiliência?
A resiliência pode ser desenvolvida por meio de um ambiente facilitar, que possibilite as atualizações necessárias à nossa existência. Sobretudo se estivermos disponíveis a:
- Aprender com as experiências; cada experiência de vida, seja está boa ou ruim, nos traz aprendizagens. Esteja aberto para sentir quais aprendizagens você está tendo com o que vem vivendo na sua vida e no que precisa mudar, considerar ou aceitar.
- Olhar a realidade a partir de outras perspectivas; De uma perspectiva reflexiva em relação ao quanto nos transformamos com o que nos acontece, ao viver uma história de vida, por exemplo, cheia de acontecimentos difíceis e sofrimentos, temos duas escolhas: lamentar, fazendo suposições de como a vida poderia ter sido diferente mas não foi, ou olhar para esses acontecimentos e perceber que foi justamente a partir dessa experiência que possibilitou ser a pessoa que es hoje. Veja, a história não mudou, os fatos não mudaram, mas a perspectiva de olhar sobre eles sim.
- Ser flexível; nós somos humanos e não estamos prontos, não somos completos ou perfeitos, por isso seja flexível com seus erros, não se culpe tanto, não se cobre tanto, de chances a si mesmo!
- Tomar consciência do que é importante para você, sobre qual é o seu propósito; conseguir identificar o que é importante, qual o seu foco nesse momento de vida pode te ajudar a não desviar ou se perder em ilusões, grandes expectativas. Uma pergunta que você pode se fazer é escrever sobre isso, para que possa ver mais claramente: qual é o meu objetivo nesse momento de vida? O que estou buscando?
E o que me atrapalha, o que tem me impedido de conseguir isso? Lembrando que isso não é receita de bolo, e se não fizer sentido pra você, tudo bem ignorar esta dica ok!
- Desenvolver novos significados diante de antigas crenças.
Por exemplo, a pessoa pode acreditar que é incapaz de fazer as coisas que deseja, que é muito difícil para ela conseguir. De onde vem essa imagem de si? Quais são os dados da realidade? A pessoa pode se sentir incapaz de se relacionar com outras pessoas, mas quando vamos para a realidade ela está num trabalho a anos, tem um grupo de amigos, quando conhece novas pessoas costuma continuar as amizades. Nesse aspecto, parece que tem algo além dessa sensação de solidão e de inabilidade de fazer amizades.
- Estar disponível para novas aprendizagens: trata-se de um querer aprender com as experiências.
- Confiar em si mesmo.
Bem, por vezes, poderá ser difícil confiar em si mesmo e desenvolver a resiliência sozinho, neste aspecto a psicoterapia pode ajudar. A psicoterapia é um processo de aprendizagem que ajuda a mudar, por exemplo, muitas vezes nos sentimos vítimas das circunstâncias da vida, dos acontecimentos e não conseguimos agir diferente, tomar as decisões que precisamos, a psicoterapia poderá ajudar a migrar dessa sensação de “vítima” para uma confiança na sua própria tendência a autodireção, uma liberdade de fazer as próprias escolhas e de autonomia, ou seja passar de uma situação de vítima para a coragem de mudar, para que a pessoa possa, por si só, ultrapassar as telas defensivas do medo e da culpa e torna-se mais consciente de si e das suas potencialidades como humana que é.
Desenvolver a confiança necessária para retomar a direção de sua própria vida a ponto de a pessoa ter um ritmo natural de desenvolvimento e autorregulação.
Todos nós temos dificuldades e potencialidades. Quais são as suas potencialidades?
O quanto você é resiliente? Você acredita que pode desenvolver a sua resiliência?
O que temos a aprender com os nossos sofrimentos?
Me conte você, o que temos a aprender com tudo isso que estamos vivendo?
Quais são as maiores dores, sofrimentos nessa época e o que podemos transformar em aprendizagens?