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Segundo a Fundação Americana para a Prevenção do Suicídio, em 2017 nos Estados Unidos, morreram 3,54% a mais de homens do que mulheres. Entre as principais causas de morte entre os homens temos a depressão e o suicídio. Segundo a Organização Mundial da Saúde o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, entre eles a maioria homens.
Mesmo diante desse quadro a busca por tratamento psicológico de homens é menor do que de mulheres, homens de maneira geral, são menos propensos a procurar por tratamento de saúde mental e outros.
Nesta semana convido vocês a pensarmos um pouco sobre esse assunto.
Homens geralmente enfrentam o estigma de que procurar ajuda psicológica é um sinal de fraqueza. Embora antigo, esse estigma parece estar enraizado e longe de ser superado. Segundo Assis, Martinhago e Queiroz (2016, p.17) temos definido ao longo da história uma construção social do que é ser homem e do que é ser mulher associados a um “conjunto de ideias e práticas que baseiam essa identidade na virilidade, na força e na própria constituição biológica do homem”.
As identidades de gênero construídos socialmente e culturalmente definem os gestos, comportamentos, atitudes, modos de ser, vestir, falar e agir do homem e da mulher. No caso dos homens, estão alicerçados em valores patriarcais e na associação do masculino à virilidade, força e dominação. É possível perceber isso em falas e pensamentos socialmente produzidos como: “homem não chora”, não pode demonstrar sentimentos, não pode ser “fraco”, deve ser o cuidador das finanças, ser destemido, ser sexualmente ativo e dominador, entre outras.
É aqui que temos um grande problema: homens quando aprisionados a essas “obrigações” acabam por não serem compreendidos em toda a sua complexidade humana e subjetiva o que contribui e muito para adoecimentos psíquicos.
Devido a dificuldade da sociedade em compreender o homem como humano na sua totalidade e singularidade: que sente, se angustia, sofre, chora, se alegra e vive, influencia a forma com a qual o próprio homem enfrenta as situações adversas da vida. Muitas vezes, em busca de aceitação, alguns homens acabam por assumir esses papéis impostos socialmente, mudando seus comportamentos e jeito de ser o que pode desencadear sofrimento psíquico. Para Assis, Martinhago e Queiroz (2016, p. 20) “é algo que pode ser traduzido na dificuldade em realizar planos, definir o sentido da vida e sentimento de impotência e vazio”.
Quando falamos em saúde mental também temos o estigma que existe em torno dos problemas psicológicos, mesmo no século XXI com as informações disponíveis na rede e as novas tecnologias em saúde, as questões de saúde mental ainda costumam ser ignoradas ou diminuídas socialmente na sua importância. A pressão sobre os homens para sempre serem “fortes”, faz com que muitos relutam para admitir que precisam de ajuda; e outros, que por estarem tão envolvidos no papel social que desempenham, podem não estar conseguindo perceber o seu sofrimento psíquico.
Um dos principais fatores que aumentam este problema é a masculinidade tóxica. A geração masculina que hoje têm entre 50 e 60 anos fez parte de uma realidade social que os definia para serem “fortes e quietos”. Um modelo aspiracional do mocinho do faroeste, que sempre chega calado, com olhar penetrante e resolve seus problemas sozinho.
Esse modelo de masculinidade pode ser um dos motivos pelos quais os homens têm menor probabilidade de perceber os sintomas de uma depressão, por exemplo. Um outro ponto preocupante, é que estudos mostram que a maioria destes homens costumam adotar uma estratégia de adaptação ao problema através do uso de álcool e outras drogas.
O desafio é: como nós, como sociedade, vamos auxiliar na desconstrução dos estereótipos do que é ser homem e auxiliar na mudança de percepção destes em relação ao comportamento de procurar ajuda antes que eles cheguem a um ponto sem volta?
Primeiro precisamos falar sobre vulnerabilidade. Homens precisam entender que ter um problema de ordem mental e emocional ou física não os definem como seres humanos “fracos”. Ninguém perde nada por procurar ajuda, muito pelo contrário.
Precisamos também estabelecer mais relações de confiança para tocar em assuntos como estes. Isto que estamos fazendo agora (eu escrevendo e você lendo) é um ato de reciprocidade e confiança para falarmos sobre saúde mental e a sua importância em nossas vidas.
Então converse com seus entes queridos, converse com os homens sobre sentimentos e emoções. Ofereça apoio, seja transparente e verdadeiro para com eles. Compartilhe com estas pessoas textos e imagens que possam ajudar a entender melhor o que estão sentindo ou passando neste momento exato da vida.
E, se você está preocupado com alguém, esses sinais podem indicar a necessidade de atenção e de auxílio psicológico:
- mudança de humor;
- diferença no desempenho do trabalho;
- mudanças de peso;
- tristeza, desesperança ou anedonia (perda de prazer e afastamento de coisas que costumavam proporcionar prazer);
- isolamento;
- aumento de sentimentos de medo e baixa autoestima;
- identificar falas como “eu queria sumir”, “queria dormir para sempre”, entre outras.
- sintomas físicos como dores de cabeça, problemas estomacais, insônia, entre outros, precisam ser investigados.
Se você reconhecer alguns desses sintomas em alguém querido, lembre-os de que pedir ajuda pode ser um sinal de força e não fraqueza, e que temos atualmente muitos recursos disponíveis para ajudá-los.