Tempo de leitura: 6 minutos
Dezembro começou. O último mês do ano é sempre atípico na nossa rotina. Muitas atividades, muitos encontros, despedidas e encerramentos. Em dezembro nós conseguimos de alguma forma ressignificar o tempo, e somos capazes além de realizar nossas atividades diárias, ainda inserir tempo para compras, festas e comemorações.
Sem falar, que é também uma época marcada por emoção e avaliação. No meio desta correria toda, seja no trânsito, em uma conversa ou antes de dormir, é em dezembro que sempre nos pegamos em algum momento avaliando como foi o ano, o que fizemos e o que deixamos de fazer. Como trata-se de uma época muito festiva, devido aos encontros familiares que acontecem no Natal, nós costumamos também ficar de alguma forma mais emotivos trazendo vários sentimentos para a superfície.
É nesta época do ano que muitas pessoas acabam se reencontrando na casa dos pais, dos avós, de parentes, ou até mesmo ficando sozinhas. Tudo isso de alguma forma ganha amplitude e é no fim do ano que os relacionamentos familiares passam a ser observados de uma forma diferente.
Não são raros os casos de pessoas que relatam que é na noite de Natal que as famílias brigam, ou passam mais tempo divergindo uns dos outros do que confraternizando. O abandono também se dá com mais força nesta época e pessoas que têm maiores dificuldades de manter um bom relacionamento familiar durante o ano, costumam passar as festas mais isoladas e isso pode causar sofrimento.
Por outro lado, o abandono por parte da família de algum ente pelas divergências de ideias também é comum acontecer. Às vezes, as pessoas se sentem amplamente julgadas pelos familiares a ponto de não comparecerem aos encontros de final de ano para evitar mais sofrimento. É comum atender pessoas no consultório que estão sofrendo pelo abandono familiar, por não se sentirem ouvidas, aceitas ou pertencentes àquela família por terem um jeito diferente de ser ou de pensar sobre a vida.
As festas de fim de ano são destinadas a servir a propósitos agradáveis e significativos; para alguns, no entanto, elas podem resultar em mais angústia e dor do que alegria devido a interações hostis com outras pessoas. Torna-se ainda mais complicado quando a pessoa com quem entramos em conflito é alguém que amamos e, portanto, temos sentimentos contraditórios. Como lidar com a família durante as festas?
Priorize o autocuidado
Passamos o ano inteiro observando-nos e tendo cuidado com o nosso bem-estar. Durante o ano você dorme cedo, evita uma rotina de festas, cumpre prazos e compromissos e cuida da saúde. Em dezembro, o fato de muitos terem recesso no trabalho, ou tirarem férias, acaba nos liberando para fazer um recesso também do autocuidado. Neste período, costumamos exagerar em tudo. Comemos e bebemos mais, dormimos menos e nos dividimos em diversas atividades. Tudo isso causa cansaço, fadiga e a sensação de que os dias estão passando rápido demais.
Emocionalmente, é em dezembro que estamos também mais expostos nas relações sociais. É muito comum que tenhamos uma postura na festa da empresa, outra na festa da academia, na festa do condomínio, com os amigos. O natural é que na hora em que estamos na festa da família, com quem amamos e com quem nos conhece desde sempre, nos sentirmos mais à vontade para agir naturalmente.
É justamente aí que pode começar o problema. Chegamos para a noite de Natal com marcas do exagero físico e emocional que dezembro pode proporcionar e querendo um pouco de liberdade. Você chega assim, mas todos os seus familiares também. Com mais liberdade, é muito comum que comecem as trocas de indiretas, os comentários indesejados ou a realidade difícil de ver que o familiar que você tanto ama tem pensamentos totalmente contrários ao que você acredita.
Priorizar o autocuidado é se preservar. Preserve seu corpo para que você esteja com mais disposição e preserve seu emocional para que você consiga lidar com esta troca que pode ser estressante.
Resolver problemas antes das festas em família
Você deve a alguém um pedido de desculpas? Há algo que você gostaria de resolver com um membro da família que vai encontrar nas festas? O encontro antecipado com uma pessoa com quem você se “choca”, especialmente se for feito de forma sincera com conexão emocional, pode ajudar bastante a aparar as arestas.
Tempo é tudo. Considere entrar em contato com a pessoa antes das festas e perguntar se vocês podem se encontrar e conversar com o objetivo da compreensão. Se a pessoa estiver disposta a conversar, poderá ser uma grande oportunidade de entendimento e de ambos aprenderem um com o outro, inclusive com seus erros.
Outra forma de resolver problemas antes da festa pode ser feita de forma individual. Se as conversas na família invariavelmente se transformam em trocas hostis, quando envolvem assuntos delicados como política, religião, hábitos ou até mesmo outras relações familiares, uma dica é evitar estes assuntos. Preparar-se antes para aprender a desviar de iscas e evitar iniciar discussões, isso pode deixar os momentos mais agradáveis e manter a família conectada em assuntos bons e mais importantes, como por exemplo, como foi o ano para cada um, que desafios enfrentou, que aprendizagens teve, entre outros.
Embora não possamos controlar os outros, podemos controlar nosso próprio comportamento e influenciar o resultado de nossas interações. Dizer coisas ofensivas não é justificável só porque alguém também está dizendo para você. Ao mesmo tempo, todos têm o direito de serem tratados com dignidade e é aceitável exigir uma comunicação respeitosa entre todos.
O fim de ano serve como uma oportunidade para celebrar nossa conexão com as pessoas que amamos. Quando falamos em relacionamento familiar, isso inclui ter que se relacionar com pessoas que você ama muito, outras que você apenas tem simpatia, e outras pelas quais você não gosta tanto. Somos nós que escolhemos como queremos passar estes momentos. Lembre-se sempre de que você pode estar desperdiçando momentos incríveis por discussões infundadas.
E mais ainda, se você se sente neste momento psicologicamente frágil para a troca com os familiares, pode ser um sinal de que você precisa resolver algumas questões internas. E que isso pode ser feito já no começo do próximo ano, para que no fim de ano seguinte você possa encarar as festas e a família de forma mais tranquila, harmônica e feliz. Até mesmo descobrir a sua forma de festejar!
É importante lembrar que, passar as festas de final de ano em família nem sempre serve para todos, há pessoas que preferem passar sozinhas, ou com outras pessoas, como os amigos. Passar o natal em família não deve ser uma obrigação, o importante é fazer o que lhe faz bem e estar com as pessoas que te fazem feliz.