Desmistificando traumas: o papel da psicoterapia na identificação e superação de feridas emocionais

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Quando as pessoas buscam ajuda psicológica, muitas vezes não conseguem identificar, de imediato, a origem de seus sofrimentos. Dores emocionais, comportamentos disfuncionais e sentimentos angustiantes frequentemente são tratados como questões isoladas. 

No entanto, esses sinais podem estar profundamente ligados a traumas vividos no passado, mesmo que não sejam percebidos conscientemente como tal.

A jornada de autodescoberta na psicoterapia

Um dos aspectos mais fascinantes e transformadores da psicoterapia é a maneira como ela auxilia as pessoas a encontrarem respostas dentro de si mesmas. Como afirma a psicóloga Alice Miller, especialista no estudo de traumas: “Só quando nos permitimos sentir a dor de nossas feridas é que podemos começar a curá-las.” Durante o processo terapêutico, os indivíduos começam a explorar suas histórias, conectando os pontos entre experiências passadas e suas repercussões emocionais e comportamentais.

Esse caminho, no entanto, exige tempo e paciência. Muitas vezes, o trauma não se apresenta de forma óbvia. Ele pode se manifestar através de ansiedade, dificuldade de estabelecer relacionamentos saudáveis, ou até mesmo sintomas físicos, como dores crônicas e fadiga.

O trauma e suas consequências

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), traumas são eventos que causam uma reação intensa de medo, impotência ou horror, como abuso, negligência ou violência. No entanto, nem todos os traumas são tão evidentes. Experiências aparentemente “menores”, como rejeição na infância ou perdas emocionais, também podem deixar marcas profundas.

Essas experiências traumáticas podem afetar a forma como enxergamos o mundo, os outros e a nós mesmos. Como destaca o neurocientista Bessel Van Der Kolk em seu livro “The Body Keeps the Score”: “O trauma literalmente reorganiza o cérebro, fazendo com que ele seja hiperativo em detectar ameaças e menos eficaz em distinguir o passado do presente.”

O papel do psicoterapeuta na superação do trauma

Quando o trauma começa a emergir no processo terapêutico, os profissionais de psicologia desempenham um papel crucial. A psicoterapia oferece um espaço seguro para que a pessoa explore suas dores e memórias, ajudando-o a restaurar suas experiências e construir novos significados. Esse processo de “adentrar na profundidade do trauma” pode ser desafiador, mas é essencial.

Um estudo publicado no Journal of Traumatic Stress (2018) revelou que abordagens terapêuticas como a Terapia de Processamento do Trauma (EMDR) são eficazes na redução de sintomas relacionados a traumas, incluindo Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

A esperança na superação

Embora o trauma possa parecer uma prisão emocional, a psicoterapia mostra que é possível superar suas consequências. Como Carl Rogers, um dos maiores nomes da psicologia humanista, afirmou: “Quando olho para o mundo, sou pessimista, mas quando olho para as pessoas, sou otimista.” Essa frase reflete o poder transformador que reside em cada indivíduo ao acessar sua própria força interior e reescrever sua narrativa de vida.

Buscar ajuda psicológica é um ato de coragem e o primeiro passo para transformar o sofrimento em autoconhecimento. Através da psicoterapia, é possível identificar as raízes do trauma, entender suas consequências e, mais importante, começar a trilhar um caminho de cura e reconexão com a vida.

Se você ou alguém que conhece está enfrentando desafios emocionais, considere a importância de um acompanhamento psicológico. Afinal, como nos ensina o processo terapêutico, as respostas mais profundas estão dentro de nós mesmos, esperando para serem descobertas.

Referências:

  • Miller, A. “The Drama of the Gifted Child”. Basic Books, 1981.
  • Van Der Kolk, B. “The Body Keeps the Score: Brain, Mind, and Body in the Healing of Trauma”. Penguin Books, 2014.
  • American Psychiatric Association. DSM-5: Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 2013.
  • Journal of Traumatic Stress. Efficacy of Trauma-Focused Therapies, 2018.

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